Calvície: cientistas do Japão cultivam folículos capilares em 23 dias em laboratório

  • Nene Sanches
  • Publicado em 25 de outubro de 2022 às 20:00
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O próximo passo é usar células de origem humana e aplicar para o desenvolvimento de medicamentos e medicina regenerativa

Pesquisadores do Japão conseguiram desenvolver com sucesso folículos pilosos in vitro, ou seja fizeram nascer cabelo em laboratório. E isso pode contribuir para o desenvolvimento de tratamentos contra a calvície, diz o estudo publicado na revista Science Advances.

Eles também melhoraram a cor do folículo capilar depois de adicionar uma droga que aumentava a melanina, um pigmento natural. A técnica envolve a criação de organoides da pele – versões minúsculas e simples de um órgão em uma placa de Petri.

A equipe de pesquisa fabricou organoides de folículos capilares a partir de dois tipos de células embrionárias.

Usando dois tipos de células embrionárias, os cientistas japoneses desenvolveram fios de cabelo com quase 100% de eficiência.

Folículos pilosos

Os organoides – versões minúsculas e simples de um órgão – produziram folículos pilosos totalmente maduros e com hastes longas (aproximadamente 3mm de comprimento em 23 dias de cultura).

“Durante o desenvolvimento embrionário, interações recíprocas entre as camadas epidérmica e mesenquimal desencadeiam a morfogênese do folículo piloso. Este estudo revelou que a reprogramação microambiental via controle sobre essas interações permitiu a indução do folículo piloso in vitro”, informou  a Science Advances.

“Os organoides foram uma ferramenta promissora para elucidar os mecanismos da morfogênese do folículo piloso”, disse Tatsuto Kageyama, professor assistente da faculdade de engenharia da Universidade Nacional de Yokohama.

A pigmentação do cabelo

À medida que o crescimento ocorreu, os pesquisadores monitoraram a formação e a pigmentação, lançando uma nova luz sobre os produtos químicos envolvidos no processo. Por exemplo, adicionar um medicamento que aumenta a melanina, um pigmento natural, pode melhorar a cor.

É que quando um embrião se desenvolve, ocorrem interações entre a camada externa da pele, a epiderme, e o tecido conjuntivo, o mesênquima.

Essas conexões funcionam como um sistema de mensagens para desencadear a formação e a organização do folículo piloso, processo chamado morfogênese.

Quando o crescimento dos fios ocorreu, os pesquisadores puderam monitorar a morfogênese e a pigmentação capilar in vitro, além de entender as vias de sinalização envolvidas nos processos.

“O modelo pode ser valioso para uma melhor compreensão da indução do folículo capilar, para avaliar a pigmentação do cabelo e medicamentos para o crescimento do cabelo e para a regeneração dos folículos capilares”, disse Kageyama, principal autor de um artigo publicado na revista Science Advances.

Droga estimulante

Em um dos experimentos, os cientistas adicionaram uma droga estimulante de melanócitos, que desempenha um papel fundamental na produção da cor do cabelo, no meio de cultura. Com a adição dessa substância, eles melhoraram significativamente a pigmentação capilar das fibras capilares.

Ao transplantar os organoides do folículo, os pesquisadores conseguiram uma regeneração eficiente com ciclos capilares repetidos.

Eles acreditam que o modelo in vitro pode ser valioso para uma melhor compreensão da indução dessa estrutura, o que pode ajudar tanto na avaliação da pigmentação do cabelo quanto no desenvolvimento de medicamentos para o crescimento e a regeneração dos folículos pilosos.

As descobertas também podem ser relevantes para outros sistemas orgânicos e contribuir para a compreensão de como os processos fisiológicos e patológicos se desenvolvem, afirmam os cientistas.

Próximo passo: células humanas

Segundo o portal Só Notícia Boa, agora a equipe planeja otimizar a cultura organoide com células humanas.

“Nosso próximo passo é usar células de origem humana e aplicar para o desenvolvimento de medicamentos e medicina regenerativa”, disse o coautor do artigo, professor Junji Fukuda.

A ideia é abrir novos caminhos de pesquisa para o desenvolvimento de estratégias de tratamento para distúrbios de perda de cabelo, como alopecia androgênica, comum em homens e mulheres.

Os mesmos princípios podem um dia ser aproveitados para cultivar dentes substitutos ou outros órgãos, pois cada cabelo é um órgão minúsculo.