Insumos aumentam e calçadistas amargam alta no produto

  • Joao Batista Freitas
  • Publicado em 5 de março de 2021 às 10:00
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Maior polo de calçados masculino, fabricantes de Franca registram alta de até 40% nos insumos

Produção de calçadista registra impacto nos insumos e calçados têm alta no mercado (foto: Jeferson Severiano/G1)

 

A alta nos insumos dos sapatos produzidos pelas fábricas de Franca estão impactando na produção.

Dono de uma fábrica de componentes para calçados em Franca (SP), Orlando Gomes fechou, há dez dias, uma seção que produzia 96 mil palmilhas por mês. Um dos motivos, segundo ele, foi o preço do poliuretano injetável, matéria-prima utilizada na produção.

“Nós comprávamos a matéria-prima a US$ 3,85 e, hoj,e se paga mais de US$ 5. Nós temos uma desvalorização do real muito forte. Para quem é exportador, perfeito, mas nós, que somos importadores e indústria de terceira geração, pagamos um preço muito alto, que é a variação cambial”, relatou à reportagem do G1.

Gomes afirma que os custos começaram a subir em junho de 2020, mas que a situação ficou insustentável em janeiro por causa da piora na escassez de insumos no mercado. Com o encerramento da seção de palmilhas na fábrica, 30 funcionários foram demitidos.

“Nós adiamos o máximo possível. Chegamos a comprar matéria-prima de concorrentes, ou seja, o dobro do preço, para poder honrar nossos compromissos de entrega e também manter os colaboradores. Mas chegou uma hora, infelizmente, que culminou nas demissões.”

MAIS CARO

Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), ao longo de 2020, os custos com insumos, como papelão, couro e cola, aumentaram, em média, 24,5%.

Na fábrica do empresário Silvio de Carvalho, a coleção outono-inverno começou ser produzida em novembro. Alguns gastos, segundo ele, subiram até 140%.

“O couro é um produto natural que, nos últimos 90, 120 dias, teve reajuste na casa de 30% a 40%. Depois, na outra ponta, a gente tem matéria-prima de embalagem coletiva, individual. Há casos de reajustes de 140% sobre o preço que você trabalhava em agosto e setembro do ano passado. São reajustes que a gente não conseguiu entender.”

Carvalho explica que antes do aumento dos custos de produção, um par de botas saía da fábrica para a loja por R$ 100. Mas, agora, sai por R$ 130 e deve chegar às prateleiras ainda mais caro, já que o comerciante também precisa repassar o reajuste ao consumidor.

PANDEMIA

O empresário afirma que além dos custos mais altos de produção, o fechamento de todas as atividades não essenciais determinado pelo governo de São Paulo pelas próximas duas semanas preocupa o setor.

“Logo após o anúncio do governador, logo já começamos a receber cancelamentos, prorrogação, suspensão de entrega de pedidos. Isso causa um terror para nós, como fabricantes, e também no comércio, sem dúvida. Várias vagas de emprego foram fechadas.”

De acordo com o administrador José Rosa Jacometi, por causa da coleção outono inverno, as fábricas deveriam contratar mais a partir de agora para atender a demanda, mas o cenário econômico diante das incertezas da pandemia repelem investimentos e abertura de postos de trabalho.

“A indústria depende da loja. Se a loja não está vendendo, ela não está comprando, com certeza. A partir de março começam as contratações, começam a chegar os pedidos, é um mês de contratar e trabalhar, mas, do jeito que está, parou tudo. Faz duas semanas que não chegam pedidos na fábrica.”


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