Inédito: Vaca transgênica do sul do Brasil produz leite com insulina pela 1ª vez

  • Rosana Ribeiro
  • Publicado em 14 de março de 2024 às 21:00
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Cientistas da USP e dos EUA inseriram segmento de DNA humano em embriões bovinos, gerando filhote capaz de produzir o hormônio; técnica poderá ajudar pessoas diabéticas

Feito inédito pode ajudar a solucionar problema de diabetes – foto Freepik

 

Pesquisadores da Universidade de São Paulo e da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, conseguiram obter insulina humana a partir do leite de uma vaca transgênica do sul do Brasil.

O feito inédito no mundo está registrado em um artigo da revista Biotechnology Journal publicado na última terça-feira (12).

A tecnologia ainda precisa passar por mais testes e, no futuro, por uma série de regulações. Mas, se for bem sucedida, pode representar uma nova era da produção de insulina, ajudando a solucionar problemas de pessoas que vivem com diabetes (como a escassez do hormônio para pacientes e seus altos custos).

“A mãe natureza desenhou a glândula mamária como uma fábrica para produzir proteína de forma realmente eficiente. Nós podemos tirar vantagem desse sistema e produzir uma proteína capaz de ajudar centenas de milhões de pessoas pelo mundo”, comenta, em comunicado, o pesquisador Matt Wheeler, da Universidade de Illinois.

Para obter a insulina humana a partir do leite de vaca, os cientistas colocaram um segmento de DNA humano no núcleo celular de dez embriões do animal.

Depois, os embriões foram inseridos no útero de vacas normais. Como resultado, um filhote transgênico nasceu.

Além de conter informações da pró-insulina (proteína precursora da forma ativa da insulina), o segmento de DNA humano foi “programado” por engenharia genética para se expressar apenas nos tecidos mamários do animal.

“Significa que não havia insulina humana circulando no sangue da vaca ou em outros tecidos”, explica Wheeler.

Quando a vaca transgênica amadureceu, os pesquisadores tentaram engravidá-la utilizando técnicas de inseminação artificial. Sem sucesso, foi necessário recorrer a uma alternativa: estimular a lactação por meio de hormônios – o que funcionou.

O animal produziu menos leite do que produziria em uma gestação normal. No entanto, o leite estava lá e, mais do que isso, estavam também a pró-insulina e, surpreendentemente, a insulina.

“Nosso objetivo era fazer pró-insulina, purificá-la para insulina e seguir a partir daí. Mas a vaca basicamente processou por conta própria”, conta o pesquisador.

Em um litro de leite, foram detectadas alguns gramas de insulina e pró-insulina. Não se sabe exatamente quanta insulina poderia ser obtida a partir de uma lactação normal da vaca, mas os pesquisadores estimam, de modo conservador, que poderia haver um grama do hormônio a cada litro de leite

Considerando que uma unidade de insulina corresponde geralmente a 0,0347 miligramas, um litro de leite contendo um grama do hormônio poderia resultar em 28.818 unidades do medicamento.

“E isso seria com apenas um litro; vacas Holstein podem produzir 50 litros por dia”, exemplifica Wheeler.

*Informações Galileu


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