Vacina em gotas para dermatite é testada por pesquisadores da USP de Ribeirão

  • Nene Sanches
  • Publicado em 3 de fevereiro de 2022 às 10:00
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O estudo foi feito com 66 pacientes, dos quais 46 mulheres, com idade média de 20 anos, que completaram 18 meses de tratamento

Milhões de brasileiros dormem e acordam todos os dias com um inimigo que, literalmente, lhes esfola a pele. Porém, poucas gotas extraídas desse mesmo inimigo podem controlar a dermatite ou eczema atópica, uma forma de alergia que, quando grave, provoca lesões mais sérias, inclusive no rosto, afetando também a autoestima.

Um estudo da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo revelou que a dermatite atópica pode ser combatida com sucesso com a vacina contra ácaros, bem conhecida, aprovada pela Anvisa.

“A novidade foi descobrir que os ácaros estão associados a cerca de 80% dos casos de dermatite atópica e que esta pode ser controlada pela mesma imunoterapia já usada para tratar asma e rinite”, afirma a alergista Luisa Karla de Paula Arruda, uma das coordenadoras da pesquisa, que foi publicada na revista Journal of Allergy and Clinical Immunology: In Practice, uma das mais importantes desta área da medicina.

Dermatite atópica

Os ácaros são a grande praga na vida dos alérgicos. Esses parentes minúsculos de aranhas e carrapatos, menores que a ponta de um alfinete, já eram associados a mais de 90% dos casos de alergias respiratórias, como asma, rinite e faringite.

Mas não se sabia que poderiam provocar dermatite atópica, mal que se estima afetar entre 10% a 15% da população. As alergias como um todo atingem cerca de um terço dos brasileiros, diz Arruda.

Médicos já tinham conhecimento que, por vezes, crises de dermatite atópica são acompanhadas de rinite ou asma. Mas se achava que os ácaros não passavam de fatores de risco. E, por isso, a vacina contra ácaro – uma forma de imunizante chamado de imunoterápico – não era indicada para os portadores de dermatite atópica.

A eczema pode ser confundida com a urticária, mas é muito mais séria que esta e tem uma origem diferente. A eczema é mais comum nas dobras de braços e joelhos, pode atingir pescoço e rosto. Não raro, pacientes têm a autoestima afetada e sofrem discriminação.

Imunológico

O novo estudo mostrou que o nível de IgE (substância produzida pelo sistema imunológico para reagir a agressões) contra ácaros é elevadíssimo nos portadores de dermatite.  O normal é que uma pessoa tenha IgE para ácaros num nível de até 100. Nos portadores de eczema esse número pode ir de 1.000 a 10 mil.

“Quando entra em crise de dermatite, é comum uma pessoa pensar que foi o estresse ou algo que comeu ou vestiu o motivo. Eles podem ser apenas um gatilho, a causa é a exposição a ácaros”, explica Luisa Arruda.

Na imunoterapia, a pessoa recebe doses crescentes de gotas sublinguais (de uma a oito gotas). A estratégia é diminuir a sensibilidade ao causador de alergia, no caso, o ácaro. Mas a mesma estratégia é muito usada contra alergias de forma geral.


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