Notícias falsas circulam 70% mais do que as verdadeiras na internet

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 10 de março de 2018 às 12:12
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:36
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Enquanto os conteúdos verdadeiros chegam a 1.000 pessoas, as principais notícias falsas alcançam 1000.000

Notícias consideradas falsas se espalham mais
facilmente na internet do que textos verdadeiros. A conclusão foi de um estudo
realizado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em
inglês), instituição de ensino reconhecida mundialmente pela qualidade de
cursos de ciências exatas e de áreas vinculadas à tecnologia.

Os pesquisadores Soroush Vosoughi, Deb Roy e Sinan
Aral analisaram 126 mil mensagens (não apenas notícias jornalísticas)
divulgadas na rede social Twitter entre 2006 e 2017. No total, 3 milhões de
pessoas publicaram ou compartilharam essas histórias 4,5 milhões de vezes. O
caráter verdadeiro ou falso dos conteúdos foi definido a partir de análises
realizadas por seis instituições profissionais de checagem de fatos.

Os autores estimaram que uma mensagem falsa tem 70%
mais chances de ser retransmitida (retuitada, no jargão da rede social) do que
uma verdadeira. As principais mensagens falsas analisadas chegaram a ser
disseminadas com profundidade oito vezes maior do que as verdadeiras. O
conceito de profundidade foi usado pelos autores para medir a difusão por meio
dos retuítes (quando um usuário compartilha aquela publicação em sua rede).

O alcance também é maior. Enquanto os conteúdos
verdadeiros em geral chegam a 1.000 pessoas, as principais mensagens falsas são
lidas por até 100.000 pessoas. Esse aspecto faz com que a própria dinâmica de
“viralização” seja mais potente, uma vez que a difusão é “pessoa a pessoa”, e
não por meio de menos fontes com mais seguidores (como matérias verdadeiras de
contas de grandes veículos na Internet).

Motivos

Os pesquisadores investigaram o perfil dos usuários
para saber se estaria aí o motivo do problema. Mas, para sua própria surpresa,
descobriram que os promotores desses conteúdos não são aqueles com maior número
de seguidores ou mais ativos. Ao contrário, em geral são pessoas com menos
seguidores, que seguem menos pessoas, com pouca frequência no uso e com menos
tempo na rede social.

Uma explicação apresentada no estudo seria a
novidade das mensagens. As publicações falsas mais compartilhadas eram mais
recentes do que as verdadeiras. Outra motivação destacada pelos autores foi a
reação emocional provocada pelas mensagens. Analisando uma amostra de tuítes,
perceberam que elas geravam mais sentimentos de surpresa e desgosto, enquanto
os conteúdos verdadeiros inspiravam tristeza e confiança.



Política no centro

A pesquisa também examinou a disseminação por
assunto. As mensagens sobre política circulam mais e mais rapidamente que as de
outras temáticas. Esses tipos de conteúdos obtiveram um alto alcance (mais de
20 mil pessoas) três vezes mais rápido que as publicações de outros assuntos.
Também ganharam visibilidade os tuítes sobre as chamadas “lendas urbanas” e
sobre ciência.

“Conteúdos falsos circularam significantemente mais
rapidamente, mais longe e mais profundamente do que os verdadeiros em todas as
categorias de informação. E esses efeitos foram mais presentes nas notícias
falsas sobre política do que naquelas sobre terrorismo, desastres naturais, lendas
urbanas e finanças”, constaram os autores.

Robôs

Os autores também examinaram a participação de
robôs (bots, no jargão utilizado por especialistas) na disseminação dessas
notícias. Diferentemente de teses apresentadas em outros estudos, os robôs avaliados
compartilharam mensagens falsas e verdadeiras com a mesma intensidade. “Notícias
falsas se espalham mais do que as corretas porque humanos, e não robôs, são
mais suscetíveis a divulgá-las”, sugere o artigo.


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