Necrose no maxilar pode ser provocada por remédio contra osteoporose

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 18 de abril de 2018 às 23:01
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:41
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Uso do remédio pode provocar problemas nos ossos dos maxilares e deve ser comunicado ao dentista

O
nome é comprido e ainda desconhecido para muita gente: estomatologia é a
especialidade da odontologia que trata das doenças da boca. Há inúmeros
problemas que podem afetar a região, mas o doutor Abel Silveira Cardoso,
professor da UFRJ, um dos fundadores e ex-presidente da Sociedade Brasileira de
Estomatologia e Patologia Oral, fala sobre uma questão relativamente nova: a
osteonecrose nos maxilares induzida por medicamentos. E por quê? A explicação é
um pouco longa, mas vale cada palavra.

Trata-se
de um quadro clínico envolvendo perda da vitalidade óssea na região
maxilo-facial, provocado pelo uso de medicamentos antirreabsortivos ou
antiangiogênicos. As drogas mais frequentemente associadas a este problema
pertencem ao grupo dos bisfosfonatos. São remédios usados há muito tempo na
área de oncologia, em pacientes com mielomas múltiplos e metástases ósseas
osteolíticas. Por impedirem a reabsorção óssea, limitam o crescimento do tumor,
aliviando as dores associadas à enfermidade.

Os bisfosfonatos ligam-se ao
osso e levam de dez a 12 anos para serem eliminados, o que prolonga seus
efeitos – tanto os benéficos quanto os indesejáveis.

Na batalha contra o câncer, os
médicos sempre consideraram que os efeitos colaterais valiam a pena diante dos
benefícios para o paciente. No entanto, os problemas ganharam outra dimensão
quando os bisfosfonatos, agora ministrados por via oral, foram incorporados no
combate à osteoporose.

Embora a incidência da
osteonecrose seja relativamente menor em pacientes com osteoporose do que
naqueles com câncer, há muito mais gente – mulheres, em sua maioria – fazendo
uso desse tipo de medicação. Por isso os consultórios dentários vêm observando
o aumento do número de casos de osteonecrose nos maxilares, associada ao uso desse
medicamento.

Os sintomas principais são dor
forte, parestesia (alterações sensoriais, ardência ou formigamento), alveolites
e a própria exposição do osso. Complicações são mais frequentes após os
procedimentos cirúrgicos invasivos e há grande risco de perda de trabalhos
protéticos suportados por implantes. “O medicamento em si não é ruim. Em
tumores malignos com lesões ósseas diminui a dor e evita fraturas. A questão é
como está sendo utilizado”, afirmou o doutor Abel.

Ele se preocupa especialmente
com a expansão do uso de bisfosfonatos, e outras substâncias conhecidas como
antirreabsortivas, em casos de osteopenia, o estágio anterior à osteoporose. “O
uso de bisfosfonatos na osteopenia talvez não seja bem indicado, o que pode
aumentar exponencialmente o número de pessoas expostas aos efeitos
indesejáveis”, explica.

O uso do medicamento por via
oral por mais de três anos é um fator que aumenta o risco de ocorrência de
problemas. Quando a utilização é por via venosa, esse prazo encurta. Para a
osteoporose, além da via oral, também vem sendo indicado um bisfosfonato na
forma de uma infusão anual – o mesmo que era usado por via venosa em oncologia.
E ainda há outro antirreabsortivo sendo ministrado semestralmente por via
subcutânea.

A
osteonecrose foi descrita pela primeira vez em 2003, pelo cirurgião
buco-maxilo-facial Robert E. Marx, da Universidade de Miami, que chamou a
atenção para o que considerava uma “epidemia crescente”.

O tratamento busca controlar a dor, limitar a infecção secundária e a área de osso exposto. Quem faz uso dessas substâncias tem que relatar sua utilização ao dentista, ainda mais se for se submeter a qualquer tipo de cirurgia, como extrações, enxertos e implantes. “Em pacientes oncológicos, onde o risco de osteonecrose é maior, a melhor conduta é a prevenção. Sempre que possível, antes de iniciar o tratamento quimioterápico, é importante procurar o dentista para um exame prévio e para promover uma adequação da cavidade oral, eliminando problemas que poderiam necessitar extrações dentárias ou procedimentos cirúrgicos invasivos durante a quimioterapia. A comunicação entre os profissionais de saúde é fundamental”, conclui o doutor Abel.


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