Dormir na cama dos pais faz realmente tão mal assim para as crianças?

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 10 de maio de 2018 às 17:43
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:43
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Hábito é frequente na maioria das famílias, mas até que ponto pode ser realmente prejudicial?

Desde que seu filho nasceu, a sua cama
ficou pequena demais? Saiba que compartilhar esse espaço com os filhos, apesar
de muitos pais negarem, é mais comum do que se imagina. Um estudo britânico
revelou que 40% dos pais deixam as crianças passarem a noite junto com eles.

Não existem estatísticas sobre esse
assunto no Brasil, mas os pediatras acreditam que a situação seja frequente por
aqui também. “Acredito que isso tem aumentado porque, com os pais fora de
casa, o contato com as crianças é menor atualmente”, diz Gelsomina Colarusso,
neuropediatra.

Assim, ficar juntinhos de noite é uma
maneira de compensar essa ausência, resolver alguns problemas (se a criança
tiver medo de escuro, por exemplo, ou os pais muito cansados para levá-la de
volta ao quarto) e, claro, de matar a saudade.

Daiane Mendes Ferreira, mãe de um
menino de 4 anos, conta que até hoje o filho dorme na sua cama e agora a luta é
colocá-lo para dormir em seu quarto. “Parece fácil, mas não é. Essa transição
está sendo, no mínimo, demorada e estressante. Mas nós não vamos desistir”,
escreveu. Afirma, ainda, que sabe que essa situação prejudica tanto a
privacidade do casal quanto a autonomia do filho. 

E é exatamente isso que alertam os especialistas. Apesar de ser prazeroso
dividir a cama com os filhos, como você já deve suspeitar, há riscos. A
pediatra Márcia Pradella-Hallinan, coordenadora do setor de pediatria do
Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), faz algumas
ressalvas. “A divisão da cama pode restringir os movimentos do bebê”,
afirma. Além disso, diz Mauro Borghi, pediatra do Hospital São Luiz (SP)
pode-se machucar ou até sufocar a criança. “É contraindicado em qualquer
idade”, enfatiza. Isso sem contar o quanto o sono do casal fica prejudicado. 

Pelo receio de que algo aconteça com o filho, a arquiteta Camila Cavalcante, 35
anos, nunca deixou o filho caçula, Pedro, de 11 meses, dormir com ela. “Acho
perigoso um bebê dormir com os pais. Como os quartos são próximos, eu uso babá eletrônica
com vídeo. Prefiro observá-lo por ela ou indo até lá mesmo”, diz. Já com a
filha Gabriela, de 3 anos, há exceções. “Quando ela está doente ou em alguns
finais de semana em que estamos muito cansados, eu deixo, porque dá mesmo
trabalho convencê-la de dormir no quarto dela.” De fato, em algumas ocasiões,
deixar a criança dormir com os pais é mais prático mesmo. Mas como lembra a
neuropediatra Gelsomina, os pais precisam saber que há chances
dela se acostumar – e dar o maior trabalho na hora que tiver de
voltar para o próprio quarto.

O que também preocupa os
especialistas são os danos ao desenvolvimento emocional das crianças. Para a
pediatra Márcia, da Unifesp, dividir a cama com os filhos pode deixá-las mais
dependentes. Outra crítica diz respeito à vida a dois. Se, por um lado, a cama
familiar aproxima pais e filhos, pode interferir na intimidade e, assim,
no relacionamento do casal.

Agora você deve estar se perguntando: “Como fazer meu filho dormir no quarto
dele?”. Muita calma. “A transição deve ser feita de forma gradual. Uma dica é o
pai ou a mãe ficar ao lado da criança, numa cadeira, por exemplo, até ela
adormecer. E repetir o processo sempre que o filho acordar”, afirma Borghi. Um
quarto aconchegante, um objeto de transição (como um ursinho ou
paninho) e uma luz fraca para espantar o medo do escuro também ajudam,
junto com muita paciência e persistência dos pais.


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