Veja o que a cera do ouvido pode revelar sobre sua saúde!

  • Nina Ribeiro
  • Publicado em 11 de maio de 2025 às 12:00
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Estudos mostram que é possível diagnosticar sinais de doenças, como câncer e problemas cardíacos, a partir da análise da cera do ouvido.

Cera de ouvido tem ganhado destaque entre cientistas por conter pistas valiosas sobre a saúde – foto Arquivo

 

A cera do ouvido, conhecida cientificamente como cerúmen, é uma substância frequentemente vista com nojo, mas que tem ganhado destaque entre os cientistas por conter pistas valiosas sobre a saúde humana.

Produzida pelas glândulas ceruminosas e sebáceas no canal auditivo, ela mistura secreções, células mortas, pelos e detritos, formando uma cera que se move lentamente para fora do ouvido, ajudando a mantê-lo limpo e lubrificado, além de proteger contra bactérias, fungos e até insetos.

Apesar de sua aparência desagradável ter afastado pesquisadores no passado, estudos recentes mostram que a cera é uma fonte rica de informações sobre características genéticas, condições metabólicas e doenças.

Por exemplo, a composição da cera varia de acordo com a etnia: a maioria dos europeus e africanos tem cera úmida e pegajosa, enquanto 95% dos asiáticos do leste têm cera seca e acinzentada. Essa diferença está ligada ao gene ABCC11, que também influencia o odor das axilas.

Pesquisas sugerem que essa variação genética pode ter implicações na saúde. Um estudo de 1971 indicou que mulheres com cera úmida tinham mais chances de desenvolver câncer de mama em comparação às que tinham cera seca.

Em 2010, um estudo japonês encontrou uma associação entre o gene da cera úmida e o câncer de mama invasivo. No entanto, esses achados são controversos, pois estudos em países ocidentais não observaram a mesma correlação.

Por outro lado, há indícios mais sólidos de que a cera pode ajudar a diagnosticar doenças metabólicas. Um exemplo é a leucinose, uma condição genética rara em que a urina e a cera apresentam cheiro de xarope de bordo, causado pela molécula sotolon.

Essa detecção pode ser feita logo após o nascimento, facilitando um diagnóstico precoce e acessível.

A cera também pode indicar a presença de covid-19, diabetes tipo 1 e 2, doenças cardíacas e distúrbios neurológicos, como a doença de Ménière, que causa vertigem e perda auditiva.

Pesquisadores como Rabi Ann Musah descobriram que pacientes com Ménière apresentam níveis reduzidos de três ácidos graxos na cera, o que pode ser um biomarcador para diagnóstico mais rápido.

Já o grupo do professor Nelson Roberto Antoniosi Filho, da Universidade Federal de Goiás, desenvolve o cerumenograma, uma ferramenta que analisa compostos orgânicos voláteis (COVs) presentes na cera.

Em um estudo com pacientes com diferentes tipos de câncer (linfoma, carcinoma e leucemia), foram identificadas 27 moléculas que funcionam como uma “impressão digital” da doença, permitindo detectar o câncer com 100% de precisão.

Embora não diferencie os tipos de câncer, o método mostra potencial para identificar alterações metabólicas pré-cancerígenas, aumentando as chances de cura.

A cera do ouvido se destaca por concentrar substâncias químicas produzidas pelo metabolismo de forma mais estável do que outros fluidos corporais, como sangue ou suor.

Isso acontece porque ela não é constantemente renovada, acumulando informações ao longo do tempo. Esse fator a torna ideal para rastrear mudanças metabólicas associadas a doenças como câncer, diabetes, Parkinson e Alzheimer.

Com base nesses avanços, o hospital Amaral Carvalho, em São Paulo, já utiliza o cerumenograma no diagnóstico e acompanhamento de tratamentos oncológicos. Musah, por sua vez, trabalha no desenvolvimento de um kit de teste rápido baseado na cera do ouvido, semelhante aos testes caseiros usados na pandemia de covid-19.

Especialistas como Perdita Barran, da Universidade de Manchester, defendem que a cera pode fornecer informações complementares às do sangue, pois ela é rica em lipídios — compostos que reagem mais rapidamente a desequilíbrios metabólicos.

Para Barran, os lipídios são como “canários em minas de carvão”: os primeiros a mudar em resposta a doenças.

Em resumo, a cera do ouvido está deixando de ser apenas um incômodo corporal e passando a ser uma poderosa ferramenta diagnóstica.

Ela pode não apenas identificar doenças difíceis de detectar, como também oferecer novas possibilidades para a medicina preventiva e personalizada.

Fonte: G1

 


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