Pesquisa comprova: Facebook não é capaz de conter a desinformação

  • Dayse Cruz
  • Publicado em 17 de setembro de 2023 às 12:00
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Estudo aponta que esforços focados em conteúdo e algoritmos não foram suficientes para controlar fake news e sugere que problema está na arquitetura da rede social

Estudos mostram que algoritmo do Facebook não é eficaz no combate às fake news – foto Freepik

 

“Os resultados do nosso estudo indicam que simplesmente remover conteúdo ou ajustar algoritmos pode não ser eficaz, a menos que haja uma mudança fundamental na natureza da plataforma. David Broniatowski, autor principal da pesquisa intitulada ‘Avaliação da Eficácia das Políticas e Arquitetura de Combate à Desinformação sobre Vacinas no Facebook durante a Pandemia de COVID-19’, conduzida por pesquisadores da Universidade George Washington em colaboração com cientistas da Universidade Johns Hopkins, resumiu o achado da seguinte maneira.

Publicado na revista Science Advances, este estudo representa uma análise científica pioneira da tentativa da maior plataforma de mídia social do mundo de combater sistematicamente a desinformação e as contas fakes.

O estudo é notável por revelar que, apesar dos esforços substanciais do Facebook para eliminar conteúdo antivacina durante a pandemia de COVID-19, o envolvimento com esse tipo de conteúdo não diminuiu significativamente, e em alguns casos, até aumentou em comparação com tendências anteriores.

Lorien Abroms, co-autora do estudo e professora de saúde pública na Escola de Saúde Pública da Universidade George Washington, destacou a preocupação em torno desse achado.

Ela enfatizou que a pesquisa revelou que as pessoas continuaram a se envolver com a desinformação sobre vacinas antes e depois dos esforços extensivos de remoção do Facebook.

Isso aponta para os desafios enfrentados pela sociedade na erradicação da desinformação sobre saúde dos espaços públicos.

Os pesquisadores identificaram que o cerne do problema reside na própria estrutura da plataforma.

O Facebook foi concebido para unir comunidades em torno de interesses compartilhados, e utiliza várias ferramentas arquitetônicas para atingir esse objetivo.

Isso inclui a promoção de páginas de fãs relacionadas a marcas e figuras públicas, que permitem que influenciadores alcancem audiências massivas.

Esses influenciadores podem, então, criar grupos projetados especificamente para a construção de comunidades, nos quais membros compartilham informações, inclusive sobre desinformação, que podem ser acessadas fora da plataforma.

Administradores de grupos, frequentemente criadores de conteúdo, podem utilizar algoritmos de feed de notícias do Facebook para disseminar essas informações entre aqueles que desejam visualizá-las.

Broniatowski comparou a arquitetura do Facebook a um edifício, destacando que a plataforma foi projetada para permitir que pessoas com interesses comuns construam comunidades e compartilhem informações.

Ele enfatizou que as pessoas altamente motivadas para propagar conteúdo antivacina estão utilizando o sistema conforme projetado.

Além disso, os produtores de conteúdo antivacina parecem ter sido mais eficazes do que seus equivalentes pró-vacina na coordenação da entrega de conteúdo entre páginas, grupos e feeds de notícias dos usuários.

Outro resultado alarmante é que, após as medidas de controle, o conteúdo antivacina no Facebook se tornou ainda mais desinformativo, com falsas alegações sensacionalistas sobre os efeitos secundários das vacinas que frequentemente não podiam ser verificadas em tempo real.

Além disso, houve efeitos colaterais indesejados das medidas de controle, com conteúdo pró-vacina também sendo removido devido às políticas da plataforma, levando a um aumento da polarização política em torno do tema das vacinas.

Para enfrentar a desinformação, o estudo de Broniatowski sugere que os designers de plataformas de redes sociais podem promover a saúde pública e a segurança trabalhando em conjunto para desenvolver diretrizes baseadas em evidências científicas, criando um conjunto de “códigos construtivos” para suas plataformas.

Essas diretrizes devem equilibrar os objetivos da plataforma com salvaguardas para proteger seus usuários, de forma semelhante à forma como os arquitetos equilibram o design de edifícios com regulamentações de segurança e saúde pública.

*Informações Galileu


+ Tecnologia