Birra x crise autista: especialista explica a diferença entre os comportamentos

  • Rosana Ribeiro
  • Publicado em 1 de junho de 2025 às 16:00
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Confundir comportamento com sofrimento real não só atrapalha o cuidado, como pode causar danos emocionais duradouros

Para pais e cuidadores, as explosões emocionais de crianças são algo desafiador – foto O Tempo

 

Explosões emocionais, gritos, choros intensos, recusa em obedecer. Para muitos pais e cuidadores, essas cenas são automaticamente interpretadas como birra.

Mas nem todo comportamento desafiador é pirraça. Em muitos casos, trata-se de uma crise autista que exige uma resposta completamente diferente.

A pediatra Gesika Amorim, pós-graduada em neurologia e psiquiatria, com especialização em tratamento integral do autismo e neurodesenvolvimento, explica como diferenciar a birra e a crise autista.

“Entender a origem do comportamento é essencial para reagir de forma empática e funcional”, destaca a médica.

O que é birra?

Segundo a pediatra, birra é um comportamento comum em crianças, autistas ou não. Trata-se, basicamente, de uma forma de expressar frustração ou de tentar obter algo desejado.

O padrão é facilmente reconhecível:

Tem intencionalidade: a criança quer manipular a situação para atingir um objetivo;

É passageira: a birra costuma cessar rapidamente após a conquista (ou perda) do que foi desejado;

É estratégica: aparece em locais onde os cuidadores estão mais propensos a ceder, como lugares públicos;

Tem rápida recuperação: após o episódio, a criança geralmente volta ao comportamento normal.

O que é a crise autista?

Diferente das birras, crises autistas não têm caráter manipulativo, mas sim reação involuntária e intensa a sobrecargas sensoriais, emocionais ou cognitivas. De acordo com Gesika, elas costumam envolver:

Estímulos insuportáveis: como luzes fortes, sons altos, mudanças abruptas na rotina ou situações de estresse extremo;

Duração prolongada: a crise pode persistir mesmo após o estímulo ser retirado;

Ocorrência imprevisível: pode surgir em qualquer ambiente, inclusive em locais seguros e familiares;

Recuperação lenta: a pessoa pode precisar de tempo, silêncio e descanso para se recompor totalmente.

“Tratar uma crise autista como birra pode causar ainda mais sofrimento e desregulação emocional à criança”, explica Gesika.

Como agir diante de uma crise autista?

Lidar com uma crise exige sensibilidade, estratégia e, acima de tudo, empatia. A pediatra Gesika Amorim lista algumas orientações essenciais:

Mantenha a calma: sua tranquilidade ajuda a desacelerar a crise; use voz baixa e pausada; respiração profunda pode ser útil;

Identifique o gatilho: tente reconhecer o que provocou a crise — barulho, luz, dor, fome, frustração ou quebra de rotina;

Crie um ambiente seguro: leve a criança para um local silencioso, com pouca luz, afastado de estímulos;

Não force interações: respeite o tempo da criança; pressionar pode agravar o estado de desorganização emocional;

Use comunicação visual: para crianças não verbais ou em crise, cartões com imagens ou gestos simples podem ajudar na compreensão;

Ofereça acolhimento e depois oriente: após o episódio, o foco deve ser o vínculo, e não a punição.

“Compreensão e acolhimento são sempre mais eficazes do que repreensões. Conhecimento é a chave para uma convivência saudável com pessoas autistas”, conclui a especialista.

Fonte: Alto Astral


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