A história do basquete francano não seria a mesma sem a presença de Robertão

  • Cláudia Canelli
  • Publicado em 9 de setembro de 2021 às 09:00
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Os nomes que ajudaram a escrever a história do basquete francano — e, por consequência, da própria Franca — ainda esperam o reconhecimento dos poderes locais

Robertão ajudou Franca a se tornar a capital nacional do basquete e, na cidade, ganhou todos os títulos

José Celso Ramos “Bota”, profundo conhecedor dos bastidores do basquetebol francano, escreveu para o Jornal da Franca um texto em que destaca a figura brilhante do Robertão, nome que ajudou a colocar Franca no cenário internacional do basquete. O texto a seguir é de sua autoria:

Robertão (Roberto José Correa) era um ser humano especial, não vou cometer a indelicadeza de querer transformá-lo num santo.

Nunca foi e nem iria querer que fizéssemos isso com ele.

Lembro que ele adorava sacanear e dizer quando alguém falava em homenagens “A minha parte prefiro em dinheiro” (rsrsrs).

Sua identificação com Franca era tão grande que ele reclamava que, por causa disso, não recebia propostas para ir jogar fora de Franca. Pois ninguém acreditava que ele sairia daqui.

Seu senso de justiça foi muito grande, sempre se preocupou com os jogadores mais novos.

Quando ganhávamos algum campeonato ele pedia sempre aos organizadores as medalhas que sobravam para trazer para os que não tinham viajado.

Quando recebíamos algum prêmio era sempre da opinião que deveria ser repartido para todos igualmente.

Eu brincava que ele era um no público e outro no privado. Ele dizia que era sempre o mesmo. Eu dizia isso porque ele fazia questão de manter a sua fama de xerife, não admitia que alguém o desrespeitasse ou a algum de seus companheiros.

Mas quando ele estava no privado e num ambiente de amigos era sempre uma figura simpática, agradável e das mais acolhedoras!

Vou publicar aqui o texto que estará no meu próximo livro sobre os imigrantes francanos. Não com a intenção de polemizar.

Ontem recebi algumas mensagens do pessoal querendo dizer que essas homenagens já deveriam ter sido feitas em vida. E outros que diziam que não importa. Mais do que nunca o momento é esse.

Vou publicar mais uma vez. Sem nenhum tipo de crítica ou cobrança, a ideia é só homenagear, este nosso gigante amigo.

Bob, meu querido.

Foi um enorme prazer ter compartilhado parte de nossas vidas com você. Tomo a liberdade de dizer, em nome de toda a comunidade francana:

“Obrigado! Nossa gratidão eterna”

Benditos sejam os imigrantes do Basquetebol Francano

Anginho

Fausto

Chuí

José Vargas

Zandoná

Valtinho

Estevão

Robertão (in memoriam)

Edu Mineiro

Paulão Urutu (in memoriam)

Aldo

Fernando Minuci

Baby

Sérgio Aleixo

Pedroca (in memoriam)

Edson Ferraciu

Rogério

Osvaldo Colessi (in memoriam)

Jorge Wattfy (in memoriam)

Lucas Tischer

Esses são os imigrantes que vieram a Franca fazer basquetebol e como consequência contribuíram substancialmente para a gloriosa história do basquete francano. E o melhor de tudo, sua relação e envolvimento com nossa comunidade foi tão intensa que eles resolveram fazer de Franca sua cidade.

Chamamos a isso de caso de amor, como também são casos de amor de muita gente que passou por aqui sem ficar, deixando grande contribuição. E também de grandes jogadores francanos que fizeram muito por nossa história.

Não menos importantes são os dirigentes que se dedicaram imensamente sem nenhum tipo de interesse ou vaidade.

Têm os casos de amor extremos, como aqueles que fizeram muito mais, além de tempo e dedicação: tiraram dinheiro do bolso para ajudar o basquetebol: Juca Vilhena, Oswaldo Colessi, Jorge Wattfy e Itamar dos Reis.

Com certeza, tem muita história de amor pelo nosso basquete que eu não tenho conhecimento ou memória. Fica aqui nossa eterna gratidão!

Vou lembrar, aqui, da incrível história do dia em que o nosso querido Pedroca foi conversar com o dono de um jornal da cidade, que se julgava acima do bem e do mal e, por não estar recebendo dinheiro do clube, iniciou uma campanha difamatória tentando destruir tudo que nós já havíamos conquistado.

A conversa não teve resultado e o dono do jornal aproveitando-se da situação, vendo-se em vantagem, pois estava em seu jornal e com algumas pessoas presentes, passou a gritar e denegrir seu Pedro, que não aguentou, pulou o balcão de atendimento e partiu para cima do desafeto, enchendo-o de porrada! Típica atitude de amor: “Mexa comigo, mas não mexa com meu sonho”!

Mas voltando aos nossos imigrantes, a história deles fica mais inspiradora ainda se analisarmos que a maioria deles chegou a Franca em épocas de vacas magras.

Moraram debaixo de arquibancadas ou repúblicas caóticas. Conheço casos de alguns que só não passaram fome porque tinham amigos na cidade. Salário atrasado ou esquecido era algo recorrente.

Viagens em perua Kombi ou em carros emprestados, muitas vezes dos próprios atletas. Muitos colocaram a vida em risco, sem reclamar, no mais profundo espírito da missão dada, missão cumprida!

Lembro-me de uma vez que fomos jogar em Presidente Prudente e pedimos um velho ônibus do Palmeirinhas, graciosamente emprestado pelo saudoso e inesquecível Zuca.

Quase chegando ao destino, numa longa descida que terminava numa ponte estreita, a roda dianteira se soltou e ultrapassou o ônibus.

Vimos a viola em cacos, mas a graça de Deus nos fez parar sem que ninguém se ferisse.

A nossa história é cheia de casos em que fizemos muito com tão pouco.

Toda vida nos orgulhamos de, apesar de tudo e de todos, sempre estávamos entre as quatro melhores equipes do Brasil.

O mais influente dirigente do basquetebol brasileiro, José Claudio dos Reis costumava brincar nos chamando de: o Incrível exército de Brancaleone! (famoso filme de um cineasta italiano, em que ele retrata a história de Brancaleone e seu exército de maltrapilhos e desajustados que segue vencendo grandes batalhas).

Dizem os grandes pensadores que o verdadeiro amor é apesar de e não por causa de! Eu acredito que foi esse tipo de amor que moveu cada um destes “benditos imigrantes do basquetebol francano”.

Há alguns anos, iniciamos uma campanha para que os poderes públicos — Prefeitura e Câmara Municipal, reconheçam os serviços prestados por essas pessoas e prestem uma homenagem a todos eles, conferindo-lhes o título de Cidadão Francano.

Batemos a cara na porta várias vezes. Só ouvimos justificativas para não fazer.

No entanto, sempre acreditamos que quem quer sempre dá um jeito e quem não quer sempre arruma uma desculpa.

Vamos continuar tentando, acreditando que se mais gente se envolvesse poderíamos finalmente conseguir fazer acontecer essa justa homenagem.

Enquanto isso, vamos continuar sonhando!

Como dizia Raul Seixas: “O sonho que se sonha só é só um sonho! O sonho que se sonha juntos é realidade”.

Texto de José Celso Ramos “Bota”.


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