Falou perto do celular e apareceu anúncio? Explicação é pior do que parece!

  • Nina Ribeiro
  • Publicado em 17 de junho de 2025 às 19:00
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Você fala e o anúncio aparece? Especialistas explicam por que seu celular parece te ouvir – e como ele sabe tanto sobre você sem usar o microfone; entenda

nomofobia

Você já fez um comentário próximo do celular e um anúncio sobre o mesmo assunto apareceu? Foto Arquivo

 

Muitas pessoas já passaram pela situação de comentar algo com um amigo e, pouco depois, se deparar com um anúncio relacionado exatamente a0o assunto.

Essa sensação de que o celular está ouvindo conversas é comum: uma pesquisa da Sherlock Communications mostrou que 69% dos brasileiros acreditam nisso. Mas será que é verdade?

Segundo especialistas e estudos, os celulares não gravam o áudio ambiente para exibir anúncios.

Pesquisas como a da Northeastern University e da empresa Wandera indicam que, embora os apps monitorem o comportamento dos usuários (inclusive por capturas de tela não autorizadas), não há evidências de gravação contínua de áudio.

Então, por que a impressão de sermos “ouvidos”?

O fenômeno pode ser explicado por um efeito psicológico conhecido como pareidolia de padrões: o cérebro humano tende a criar conexões entre eventos correlatos, mesmo que não tenham relação direta.

Assim, se vemos um anúncio logo após conversar sobre um tema, é natural pensarmos que o celular nos ouviu.

Contudo, o que realmente acontece é ainda mais sofisticado: os anúncios são exibidos com base em algoritmos extremamente avançados, alimentados por enormes volumes de dados pessoais e comportamentais.

As big techs, como Google e Meta, investem pesadamente nesses algoritmos, pois a publicidade direcionada é uma das principais fontes de receita.

Esses sistemas cruzam informações demográficas, comportamentais, de geolocalização e conexões sociais, conseguindo prever com precisão os interesses dos usuários — às vezes até antes que eles próprios os identifiquem. Isso explica por que os anúncios parecem “ler mentes”.

O papel dos assistentes de voz

Embora os celulares não estejam gravando constantemente, os assistentes de voz como Siri, Alexa e Google Assistente mantêm os microfones ligados em modo standby, à espera de comandos como “Ok, Google”.

Nesses momentos, o microfone está ativo, mas sem conexão à Internet. A gravação e transmissão de dados só ocorrem após a ativação por voz.

Segundo o especialista Fernando Kanarski, monitorar e processar o áudio ambiente de toda a população seria economicamente inviável e ineficiente do ponto de vista publicitário.

O modelo atual, baseado em dados de comportamento digital, já é altamente eficaz para a segmentação de anúncios.

Como as empresas obtêm seus dados

As informações utilizadas pelas big techs vêm de várias fontes: navegação na web, uso de aplicativos, formulários de cadastro e dados fornecidos voluntariamente pelos usuários. Isso inclui idade, sexo, localização, hábitos de consumo, hobbies e muito mais.

Além disso, empresas conseguem cruzar dados de geolocalização e conexões de amizade, exibindo anúncios para pessoas próximas de outras que já demonstraram interesse em determinado produto — o que reforça a sensação de estarmos sendo “ouvidos”.

Kanarski destaca que informações sensíveis, como saúde e sexualidade, não podem ser usadas para fins publicitários. Já os demais dados são processados dentro das plataformas de anúncios para gerar campanhas mais eficientes.

Legislação e proteção dos dados

No Brasil, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), em vigor desde 2020, estabelece regras para a coleta, tratamento e compartilhamento de dados pessoais.

As empresas precisam de consentimento do usuário e só podem utilizar os dados para fins previamente acordados.

Fabro Steibel, do Instituto de Tecnologia e Sociedade, ressalta que os dados coletados não podem ser reutilizados livremente, e que as finalidades precisam ser lícitas e específicas. A fiscalização fica a cargo da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD).

Como se proteger

– Quem deseja ter mais controle sobre sua privacidade pode adotar algumas práticas:

– Reduzir o compartilhamento de dados pessoais em redes sociais;

– Revogar permissões de microfone, câmera e localização nos apps;

– Usar navegadores voltados à privacidade;

– Navegar em modo anônimo;

– Evitar login com contas de redes sociais em outros sites;

– Utilizar VPNs confiáveis;

– Desativar anúncios personalizados nas configurações de apps.

Essas medidas aumentam a privacidade, mas também podem resultar na exibição de anúncios menos relevantes.

A escolha entre conveniência e proteção é pessoal — e não há motivo para pânico: a espionagem por microfone segue sem provas concretas.

Fonte: TechTudo


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