SEGREDOS CONFESSÁVEIS PARA UM JOVEM VESTIBULANDO: TUDO MUDOU PARA FICAR IGUAL

  • Língua Portuguesa
  • Publicado em 19 de fevereiro de 2019 às 20:17
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:20
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(texto publicado pela primeira vez em 19/02/2014 e repetido todos os anos nesta época)

Quando eu tinha 18 anos, os professores pregavam: “Vocês estão no ano do vestibular. Vocês são um bando de alienados que não leem nem bula de remédio. Se não estudarem, não vão passar. “Era um pé no saco” – todo dia, toda aula. Havia um que contava os dias, as horas e os minutos para que faltavam, só nos sanear. Transformaram o tal vestibular em um monstrengo. Muitos amigos “piraram”, viraram ursos: brancos, peludos e gordos. Esqueceram de viver. 
Os diretores diziam que tínhamos que escolher a profissão que exerceríamos para o resto da vida. Pensei: “O resto da vida é muito tempo”.
Alguns amigos nasceram com o estetoscópio pendurado no pescoço: “Vou fazer medicina, penso nisso desde criança”. Um tentou, três vezes, entrar na UFJF. De tanto decorar a apostila, tornou-se um dos melhores professores de biologia que conheço.Nunca exerceu a medicina, apesar de formado. Outro formou, jogou o diploma no colo do pai e foi fazer artes cênicas.
Nunca pensei no que queria ser. Em algum momento, pensei em ser diretor de teatro. Depois de um conto publicado pelo Diário Mercantil, tive certeza: “Serei escritor”. Logo depois, a certeza foi para o espaço, então me imaginei jornalista. Sempre tive uma imensa dificuldade de obedecer a ordens, nunca daria certo.
Li muito. Os garotos da rua jogavam bola. Meu pai e meu irmão achavam que eu era doido ou gay. Para a tristeza deles, virei objeto de gozação. E eu, cheio de dúvidas, ouvia rock’n Roll.Aí a coisa virou. Certeza! Eu era maconheiro. Veado maconheiro, minha mãe cria que eu era o ser mais inteligente sobre a terra: mães são assim mesmo. Eu, cheio de dúvidas, era um adolescente. Algo parecido com uma bomba relógio.
Na fila de inscrição, conversei com várias pessoas. Uma delas me disse: “O seu negócio não é aprender português a fundo? Então, porque não faz letras? Dei-lhe razão, então, mais uma vez, troquei, para desespero da minha família, que queria um filho “dotô” médico ou padre ou milico. 
Fui parar no curso de letras. Na primeira aula, deu vontade de fugir: “O que diabos eu estava fazendo ali? Dar aulas? Jamais…” Como sou teimoso, insisti. E não é que comecei a gostar! No entanto, vivia grudado na “galera” do jornalismo.
Em 1978, as escolhas dos filhos eram motivadas pelo desejo das famílias de alcançarem “status”. O negócio era ser médico, advogado ou engenheiro. O resto era “curso espera marido”. Nunca ansiei por um marido. A famosa Leila Barbosa me deu uma chance e comecei a dar aulas aos 18 anos.
Hoje o leque é tão diversificado que as profissões que darão status não foram sequer inventadas. É um “crime” pedir a um jovem para escolher o que fará pelo “resto da vida”. Falta-lhe maturidade. Conheço uma imensidão de jovens que “chutou o pau da barraca” e foi para o mercado de trabalho sem um diploma universitário. 
Pergunte a uma pessoa de 40 anos ou mais, se ela, algum dia, imaginou que carregaria no bolso o próprio telefone pela rua e/ou o próprio computador? Se ela imaginava o que seria a tal internet? Quantas profissões surgiriam a partir dela?
Tenho 59. Envelheço, mas meus alunos, todos os anos, têm 18 anos, por isso acompanhei gerações. Tenho ex-alunos que trazem seus filhos para estudar comigo. Vou-lhe contar um segredo, paciente leitor, que chegou até aqui: “Não sei o que quero fazer, é a opção mais concorrida do vestibular”. Eu não suportaria ser o que outras pessoas queriam que eu fosse: tenho aversão a sangue e fardas…
Numa profissão tão desvalorizada quanto a minha. Vou-lhe contar outro segredo, perdido leitor: “Perdi uma namorada, cuja mãe me chamava de professorzinho”, considero-me um professor vencedor. Ela fez por mim algo fantástico: Adoro desafios e provocações. Criei, há 28 anos, o Criar Redação, uma referência em Língua Portuguesa neste pais do Tio Sam.
Não saberia fazer outra coisa a não ser ensinar e provocar. Alguns alunos me amam; outros me odeiam, mas todos sabem que não há como ser indiferente a mim. Nunca fui óbvio.
Meu jovem aluno, não se desespere, o vestibular não é um monstro. E NADA É PRA SEMPRE.


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