Cabecear a bola pode afetar o cérebro de quem joga futebol

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 20 de maio de 2018 às 01:14
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:44
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Mesmo amadores que praticam o esporte apresentaram piora em testes de atenção

Dar cabeçadas constantes na bola
de futebol pode levar a uma diminuição na performance psicomotora e ainda
prejudicar a capacidade de atenção. Foi o que pesquisadores norte-americanos
descobriram ao observar 308 jogadores amadores de ambos os sexos, com idades
entre 18 e 55 anos.

O achado complementaria outro do
mesmo grupo: o de que as cabeçadas na pelota são uma causa subvalorizada de
traumas. “Agora vimos que esse ato afeta também a função cognitiva, pelo menos
temporariamente”, explicou Michael Lipton, autor do estudo e professor de
psiquiatria na Universidade de Medicina Albert Einstein, de Nova York (Estados
Unidos), em comunicado à imprensa.

Para chegar a essa conclusão, os
cientistas pediram aos boleiros que respondessem quanto tempo tinham jogado na
última semana e quantas cabeçadas e colisões com outras pessoas, o chão ou a
trave haviam ocorrido nesse período. Depois, eles passaram por testes de desempenho
cerebral.

Antes de tudo, foi revelado que os
voluntários tocaram na bola com a testa 45 vezes em média, durante um período
de 15 dias. O problema: quanto maior esse número, pior ficava o desempenho
psicomotor e a atenção nas avaliações.

Contudo, vale destacar que esse
efeito foi notado nos testes, mas não resultou em comprometimento evidente. Ou
seja, a pessoa seguiu tocando sua vida numa boa. Mais do que isso, não dá pra
saber se o cérebro voltaria ao normal passado algum tempo da prática.

Sem contar que as cabeçadas foram
medidas via questionário – imagine quão difícil é lembrar de cada testada na
bola durante uma partida. Em outras palavras, o número exato que seria danoso
está longe de ser claro.

Mas tudo isso não diminui a
relevância da pesquisa, que, acima de tudo, sugere bom senso na hora de se
divertir com os amigos. “Estamos preocupados de que mesmo essas reduções sutis
e transitórias na função neuropsicológica se traduzam em mudanças microscópicas
na estrutura do cérebro, que mais tarde levariam a um impacto contínuo no
órgão’, destacou Lipton.

Concussões x colisões

O trabalho, publicado no periódico
Frontiers Of Neurology, representa uma nova preocupação para os boleiros.
“Colisões acidentais são consideradas a maior causa de concussão no futebol,
então as ações preventivas focam nelas geralmente”, apontou Lipton.

Na sua investigação, esses efeitos
na cognição não foram observados em colisões e outros traumas na cabeça. Mas se
sabe que eles são sérios, é claro.

O ponto dos pesquisadores é que,
diferentemente das batidas acidentais, as cabeçadas são muito comuns – e podem
ser evitadas. Pelo sim pelo não, vale prestar atenção na cabeça durante a
próxima pelada.


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