Jabuticaba preciosa: conheça os benefícios dessa joia nacional

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 6 de janeiro de 2019 às 13:29
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:17
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A fruta tem se destacado por blindar as artérias, afastar o ganho de peso e muitos outros benefícios

Paulista de Araçatuba, o professor
Paulo Cesar Stringheta passou a infância em uma fazenda repleta de
jabuticabeiras. “Com muito cuidado, meu nonno fazia questão de
apanhar os frutos e distribuir entre toda a família”, lembra. O avô temia que a
molecada arrebentasse a árvore. Mal sabia ele que a turma aproveitava o escuro
da noite para se esconder em meio aos galhos e saborear as jabuticabas direto do pé.

Passadas algumas décadas, hoje Stringheta entende melhor o zelo do patriarca.
Especialmente depois de tantas descobertas em seu laboratório no Departamento
de Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais.
De fato, essa espécie genuinamente nacional merece todo o cuidado e apreço do
mundo.

Longe dos pomares, o pesquisador e
sua equipe têm esmiuçado o vegetal e não param de se surpreender. “A fruta é
rica em compostos bioativos com função antioxidante”, destaca. Na lista há a
quercetina, o ácido elágico, além de estruturas químicas inéditas na literatura
científica que fazem da jabuticaba uma variedade singular.

Outro ponto forte diz respeito à
quantidade de antocianinas, classe de ingredientes responsáveis por sua
coloração peculiar. O frutinho brasileiro oferece muito mais delas do que a
uva, festejada mundo afora por essa razão.

A composição exclusiva serve de
escudo contra intempéries quando o alimento está no pé, a exemplo de raios
solares, variações climáticas e outros fatores oxidantes. Mas é ela também que
torna o alimento majestoso. Tanta beleza atrai pássaros, auxiliando na
perpetuação da espécie. Insetos são outros fregueses, inclusive vespas, como as
que frequentavam a jabuticabeira predileta de Narizinho lá no Sítio do Picapau
Amarelo criado por Monteiro Lobato (1882-1948).

Ainda é graças ao agrupamento de
antioxidantes que tantos benefícios têm sido atribuídos ao fruto. Entre outras
coisas, essas substâncias neutralizam os radicais livres, moléculas
desemparelhadas acusadas de danificar as células e provocar estragos no
organismo.

Não à toa, um dos projetos
liderados por Stringheta é o desenvolvimento de uma bebida à base desses
compostos. O preparado é destinado aos esportistas, grupo vulnerável à ação dos
radicais. “Avaliaremos o impacto do produto
na recuperação dos atletas pós-jogo através da análise de parâmetros
relacionados ao estresse oxidativo”, adianta o professor, que orienta o
doutorado do pesquisador Jeferson dos Santos.

Em outro trabalho do grupo,
realizado pela nutricionista Kellen Viana, foi possível verificar, em animais,
o poder no equilíbrio das taxas de colesterol. Houve diminuição nos teores de
LDL, a versão perigosa da partícula, e elevação nos níveis de HDL, a benéfica.
É, portanto, uma frente conjunta para dar um chega pra lá no entupimento dos
vasos sanguíneos, mecanismo que reduz o risco de infarto e outras complicações.

O mesmo experimento mostrou uma
atuação contra o depósito de gordura no fígado, a tal da esteatose hepática.
Trata-se de uma encrenca cada vez mais comum nos dias de hoje e que pode
prejudicar pra valer o funcionamento desse órgão. Mancomunada com o excesso de
peso, a esteatose ainda guarda relação estreita com um maior risco
cardiovascular.

Mas digamos que a jabuticaba tem
mesmo vocação frente ao acúmulo de gordura — em todos os aspectos. Uma notícia
que ganha relevância com o avanço da obesidade. Estima-se que 54% dos
brasileiros já estejam com uns quilos a mais. E vai longe o tempo em que a
barriga de chope era vista como inofensiva.

Conforme a cintura fica larga,
aumenta a propensão à chamada síndrome metabólica, uma coleção de perigos como
pressão alta e diabetes. Isso porque a gordura estocada no abdômen se comporta
como um tecido bem vivo, produzindo substâncias inflamatórias que colocam o
coração e outros cantos sob ameaça. E quem diria que uma frutinha tão pequena
se revelaria um gigante contra isso aí…

Nesse sentido, vale conferir
alguns dos achados vindos da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da
Universidade de São Paulo (USP). Lá, o químico Márcio Hércules Moura avalia o
potencial da jabuticaba justamente na prevenção da obesidade.

O pesquisador anda estudando
compostos abundantes na espécie. Moura conta que animais que consumiram
diariamente uma dieta cheia de gordura e açúcar, mas receberam juntamente um
extrato da fruta, ganharam menos peso e gordura do que o grupo que ingeriu a
mesma ração e água.

O trabalho foi destaque no Prêmio
Saúde de Nutrição em 2017. “Além das antocianinas da casca, destacamos as
proantocianidinas e os elagitaninos da polpa e das sementes”, descreve o
cientista, que reforça a sugestão de degustar a fruta de forma integral.
“Geralmente, as pessoas desprezam determinadas partes”, lamenta.


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