Fórum da Água tem sessão especial sobre Água e Espiritualidade

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 23 de março de 2018 às 00:43
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:38
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Onze líderes espirituais discutiram a relação da água com a humanidade sob a ótica do sagrado

Um ritual de
consagração da água marcou a abertura da sessão especial Água e
Espiritualidade, na última quinta-feira, 22 de março, no 8° Fórum Mundial da Água,
em Brasília. Em um auditório lotado, onze líderes espirituais discutiram a
relação da humanidade com a água por meio dos conhecimentos ancestrais,
tradicionais e sagrados.

O espaço rompeu os debates formais sobre recursos hídricos no
mundo e permitiu a discussão de aspectos subjetivos da relação da humanidade
com a água, por meio de ensinamentos de religiões como budismo, cristianismo,
espiritismo, islamismo, tradições indígenas e de matrizes africanas. Veja como
cada religião manifestou sua relação entre água e espiritualidade:

Budismo

O líder do templo Shin budista Terra Pura, monge Sato, afirmou
que o contato com a água implica sempre em regeneração – tanto espiritual
quanto física – e que ela não pode ser tratada como mercadoria. Segundo ele, a
água é a fonte de todas as possibilidades de existência. “Não podemos ver a
água como um bem de consumo”, disse o monge. “A religião deve ser a grande
incentivadora da espiritualidade, na sua diversidade de cultos. Os religiosos
devem respeitar a formação cultural do outro – se está voltado como bem comum.
Eu recuso a ser mercadoria”, completou.

Islamismo

Para o presidente do Conselho Superior para Assuntos Islâmicos
do Brasil, Sheik Abdel Halim, a água é um instrumento de purificação enviado
por Deus. Segundo ele, é necessário que a humanidade volte para o caminho
ensinado por Deus como a ética, moralidade, boa conduta, justiça e o bom
caráter. “Deus dá água material porque se não tem água não há vida”, disse
Halim. Segundo a filosofia exposta pelo sheik, a água espiritual é mais
importante do que a material porque é uma forma de conexão divina.

Cristianismo

O cristianismo foi representado no evento por dois líderes
religiosos: Dom Leonardo Steiner, secretário-geral da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB) e bispo auxiliar de Brasília e o pastor da igreja
evangélica Sara Nossa Terra, Vagner Pagani.

Dom Stein citou o Papa Francisco, que defende o cuidado e o
cultivo na Encíclica sobre Ecologia.
Para ele, a sociedade deve mudar a relação que tem estabelecido com a água e
inverter a lógica de consumo para cuidado. “Não posso tratá-la como uma
criatura que me serve, que está quase à minha disposição ou como vemos hoje nos
relacionamentos com a água da forma como lidamos com dinheiro, com entrega, com
dominação”, disse. “É preciso uma nova compreensão de relação com a água, que
deve ser essencialmente de cuidado”, completou.

Já o pastor
evangélico Vagner Fagani ressaltou que é necessário ter uma postura responsável
diante de um bem deixado por Deus aos homens. “É preciso ter uma
responsabilidade com aquilo que Deus deixou. Cuidar daquilo que é a fonte de vida.
É um recado muito forte, a Bíblia é muito clara no que diz respeito a relação
que temos que ter com a água. A água é a fonte”, disse.  “Cuidar daquilo
que Deus deixou é uma responsabilidade nossa. É mais do que pensar que sem água
eu não sobrevivo, é cuidar de algo que é divino, que Deus deixou para nós. Não
é uma relação de precisar, a Bíblia é tão clara sobre isso: nós não precisamos
da água, nós dependemos da água. Nós não precisamos de Deus, nós dependemos
dele”, afirmou Fagani.

Espiritismo

Para o representante da Federação Espírita de Brasília (FEB),
Arismar León, a sociedade vive um momento importante na vida da humanidade “em
que vamos decidir pra que lado iremos”. Segundo ele, as pessoas têm valorizado
excessivamente os bens materiais e negligenciado aspectos sagrados e
espirituais. “Quais são os valores que sustentamos – se formos refletir a
respeito vamos chegar à conclusão que os valores da sociedade vigente são os
valores materiais – cultivamos os valores materiais como se fossem únicos”, disse
León. “A fé é uma atitude de humildade, de negarmos o eu, o ego, e passarmos a
viver os desígnios do real criador, aquele que a tudo criou. (…) Somo seres
espirituais em uma vivência humana, isso é muito maior, mais significativo,
muda com o sagrado, com a água que nos dá a vida, nos dá energia”, assegurou.

Lideranças

Também participaram do encontro o antropólogo e reitor da
Universidade da Paz, Roberto Crema, a representante do Conselho das 13 avós,
Maria Alice Campos Freire, a Coordenadora da Secretaria de Igualdade Racial do
Estado da Bahia, Ekedi Rose Mery e o Babá PC, líder da Casa de Oxum Maré, na
Bahia.


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