Vacina contra meningite: quem não se imunizou na infância deve tomar?

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 10 de março de 2019 às 11:33
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:26
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Mais complicada do que parece, a doença apresenta diferentes versões, causadas por bactérias diversas

A meningite não é
exatamente uma doença só. Existem dois tipos básicos, meningite viral e
bacteriana, e o segundo tipo pode ser causado por três micro-organismos
diferentes.

Para complicar ainda
mais, uma mesma espécie de bactéria pode apresentar diferente versões, que
exigem vacinas e tratamentos diversos. Não é uma doença simples.

De todas essas variações,
a meningite meningocócica, causada pela bactéria Neisseria meningitidis
(meningococo), é a mais perigosa. A doença funciona em surtos: de tempos em tempos,
um dos cinco tipos mais comuns da bactéria ao redor do mundo provoca estragos.

No Brasil, o pior
caso aconteceu na década de 1970, quando São Paulo se tornou o epicentro de uma
epidemia que se alastrou por todo o país. Nessa época, os meningococos que
predominavam em nosso território eram o tipo A e C.

O primeiro não
circula mais por aqui (ele está principalmente em países da África), mas o
segundo ainda está entre nós – e é o mais comum até hoje. Em 2014, o
meningococo C foi responsável por 70% dos casos da doença.

Há vacina contra todas as variações
da bactéria: além de A e C, há ainda os tipos B, W e Y.

A boa notícia é que, graças à
vacinação disponibilizada no sistema público de saúde desde 2010 contra o tipo
C, a incidência de casos em crianças menores de 2 anos está caindo. Elas são as
mais suscetíveis a desenvolver quadros graves de meningite meningocócica, que
pode deixar sequelas e até ser fatal.

Exatamente porque as crianças são a
parcela da população mais afetada, a imunização deve acontecer já nos primeiros
meses de vida. “O sistema imunológico delas é imaturo para responder contra as
bactérias que causam a meningite”, explica a médica Isabella Ballalai,
vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim).

Apesar de o SUS oferecer a vacina
contra o tipo C, a Sbim e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomendam
a vacina meningocócica conjugada ACWY, que protege contra esses quatro tipos –
ela, no entanto, está disponível apenas na rede privada. As doses devem ser
dadas aos 3, 5 e 7 meses de vida, seguidas de três reforços: entre 12 e 15
meses, entre 4 e 6 anos de idade e aos 11 anos. A vacina contra o meningococo B
é outra – as quatro doses devem ser dadas aos 3, 5, 7 e 12 meses.

Mas, e quem nunca se vacinou ou
não tem certeza se foi imunizado? Bem, se for uma criança acima de 1 ano de
idade ou um adolescente, a orientação da Sbim é receber duas doses da ACWY e
duas da meningocócica B.

Em pessoas com mais de 20 anos de
idade, a urgência não é tão alta. É que esse público tem um risco menor
de desenvolver um quadro grave de meningite.

O número de mortes é maior em
crianças e idosos, que têm um sistema de defesa defasado. Isso não quer dizer
que adultos entre 20 e 60 anos estejam imunes ao contágio pela bactéria – mas
os efeitos da doença tendem a ser mais leves, porque o sistema imunológico está
em condições melhores para expulsar a bactéria antes que ela caia na corrente
sanguínea. É ali que ela faz mais estrago, podendo levar à necrose de membros e
até à morte.

Outro ponto que desestimula a
vacinação de adultos, além da resistência naturalmente maior, é que, nessa
faixa etária, o efeito protetor da vacina tem um prazo mais curto: a cada seis
ou sete anos, seria necessário repetir a dose. Ou seja: é uma medida que
protege durante uma janela temporal menor, voltada para uma população que já
está razoavelmente menos vulnerável ao problema.

Sendo assim, a vacina para um adulto
não imunizado na infância só é indicada em casos de surto ou viagem a algum
local de risco.

A meningite voltou a ser bastante
discutida com a notícia recente da morte do neto do ex-presidente Lula – e
casos de meningite (mesmo a doença viral, bem mais branda) estão sendo mais
noticiados por causa disso.

Se você está preocupado e se
perguntando se deveria tomar a vacina novamente, o conselho dos especialistas
é: calma. Há toda uma estrutura de alerta para doenças que vêm em surtos
como a meningite. “No momento, não há evidência de aumento no número de casos”,
afirma Isabella.

Agora, se você tem crianças ou
adolescentes na família que nunca foram imunizados, aí sim é urgente conversar
com um médico sobre como garantir a proteção necessária para os pequenos –
tanto para meningite quanto para outras doenças.


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