Síndrome do Imperador: quando seu filho se torna um pequeno tirano

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 6 de maio de 2018 às 03:51
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:43
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Se o comportamento de birra, agressividade e desrespeito não dor ajustado ainda na infância, depois será pior

Crianças que mandam em
casa, xingam os pais, babás e professores, escolhem o que vão comer e definem
todas as escolhas da família: desde o que vai ser visto na televisão até qual é
o horário mais adequado para dormir sofrem da “Síndrome do Imperador”. São
pequenos “reis” criados sem orientação e limites. Mas o que fazer?

Para
Lilian Zolet, psicóloga, psicoterapeuta especialista em terapia
Cognitivo-Comportamental e autora do livro “Síndrome do Imperador: Entendendo a
Mente das Crianças Mandonas e Autoritárias”, impor limites não é simples e
errar nas tentativas é comum. “Quando os pais não conseguem orientar ou
dar limite aos comportamentos inadequados da criança estão na verdade
reforçando a atitude errada delas. Com isso, o filho aprende que pode ter tudo
o que deseja, no seu tempo e a seu modo, e que as pessoas irão servi-lo,
tornando-se um ‘imperador doméstico’”, explica a especialista.

Limite
do limite

Primeiro, os pais
precisam atentar-se ao tipo de infração que o filho realizou, o contexto da
situação e o estágio de desenvolvimento da criança. Quando os progenitores
“gritam”, “xingam”, “chantageiam”, “batem” ou diminuem a estima do filho, estão
ultrapassando a barreira da orientação e do limite saudável. Os efeitos dessa
atitude, quando realizada de maneira frequente, são crianças raivosas, ansiosas
e inseguras. Lembremos que as crianças são como “esponjas”, aprendem e modelam
seus comportamentos a partir dos exemplos das pessoas que convivem com elas,
principalmente dos pais.

E
quando os pais não conseguem dar os limites necessários?

Quando
os pais aceitam os maus comportamentos ou oferecem algum tipo de recompensa
(presentes), eles estão na verdade reforçando a atitude errada da criança. Com
isso, o filho aprende que pode ter tudo o que deseja, em seu tempo e a seu
modo, e que as pessoas irão servi-lo, tornando-se um “imperador doméstico”.
Tais crianças mandam em casa e também nas brincadeiras fazendo com que as
demais crianças obedeçam às suas ordens. Elas choram e se atiram no chão, batem
a cabeça na parede, jogam os alimentos ou cospem no rosto dos pais e agridem e
ameaçam psicologicamente os progenitores quando seus caprichos não são
atendidos.

Quais
são os principais erros dos pais

Grande
parte dos pais comete erros na educação de seus filhos porque reforçam os
comportamentos inadequados da criança, muitas vezes de maneira inconsciente, na
tentativa de dar proteção e afeto. Um exemplo disso é quando a mãe dá o doce
que a criança deseja, enquanto a mesma se joga no chão e chora compulsivamente.
O que a criança aprendeu com essa atitude da mãe? “É com escândalo que posso
ter tudo o que quero”. Outra situação é quando o filho, considerado travesso,
um belo dia, obedece a seus pais prontamente. Por sua vez, os pais falam, “não
fez mais que a obrigação” e ficam bravos pelos comportamentos anteriores. O que
a criança aprendeu com essa atitude dos pais? “Não adianta me esforçar, eu
nunca vou dar orgulho para os meus pais”.

Quando não valorizamos
as posturas positivas da criança, ela tende a não repetir os acertos. Quando os
pais discutem, brigam e xingam na frente da criança, ela aprende a ter raiva e
ansiedade e replica tais impulsos nas relações com os outros. Assim, ela não consegue
controlar o desconforto e os impulsos de tais emoções, pelo contrário, a
criança aprende a reagir agressivamente.

Crianças
“imperadores” possuem uma capacidade de empatia reduzida 

As
crianças “imperadores” foram criadas com mais “direitos” do que “deveres”, mais
“liberdade” do que “responsabilidade”, e com isso aprenderam que suas
necessidades e desejos devem ser atendidos imediatamente. O efeito desta
educação são crianças que não sabem lidar com o “não”, possuem baixa tolerância
a frustração e não administram as emoções de maneira saudável, reagindo com
impulsividade e agressividade com as pessoas.

Quais
características são comuns a essas crianças? 

De
acordo com a experiência clínica, os sintomas da síndrome do imperador
podem variar de uma criança a outra, no entanto existe um espectro de
comportamentos disfuncionais similares que podem ser mais ou menos intensos, a
exemplo:

1)
Baixa tolerância à frustração
: quando a criança não tem seus
desejos atendidos reage com surtos de raiva.

2)
Postura mandona
: impõe de maneira constante sua vontade.

3)
Atenção dobrada
: exige olhar especial dos pais ou dos que lhe
rodeiam.

4)
Baixa interação
: possui problemas para se relacionar com outras
crianças.

5)
Manipulação
: quando atendidos os seus caprichos pode tornar-se
vulnerável afetivamente (diz para a mãe que ela é uma princesa, pede mais
atenção e afeto).

6)
Quebra de normas
: desrespeita regras da escola com frequência.

7)
Falta de empatia
: usa de mentiras constantemente para justificar
seu comportamento inapropriado.

8)
Inabilidade social
: possui pouco desenvolvidas as habilidades
sociais, como a generosidade e a cooperação.

9)
Visão negativa
: tende a ser mais pessimista.

10)
Deslocamento afetivo
: tende a dar mais valor afetivo para os bens
materiais ao invés das pessoas.


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