Rotativo do cartão de crédito vai acabar? Saiba o que o Banco Central planeja

  • Cláudia Canelli
  • Publicado em 13 de agosto de 2023 às 09:00
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O rotativo do cartão de crédito, modalidade de crédito em que os juros chegam a 437% ao ano, pode ser substituída em breve

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou que a autoridade monetária estuda o fim dos juros rotativos do cartão de crédito para reduzir a inadimplência nas operações. A modalidade é a mais cara do mercado, com juros que chegaram a 437,3% ao ano em junho.

O crédito rotativo é oferecido ao consumidor quando ele não paga o valor total da fatura do cartão até o vencimento.

Segundo Campos Neto, em até 90 dias, o BC apresentará uma “solução para o problema”. Técnicos estudam encaminhar os devedores direto para o parcelamento da dívida, que teria taxas de juros menores, em torno de 9% ao mês — atualmente a média é de 15%.

Palavra do presidente

“A solução está se encaminhando para que não tenha mais rotativo, que o crédito vá direto para o parcelamento, com uma taxa ao redor de 9% ao mês. Você extingue o rotativo. Quem não paga o cartão, vai direto para o parcelamento ao redor de 9% ao mês (equivalente a 181% ao ano)”, declarou Campos Neto.

O presidente do Banco Central prestou depoimento em sessão plenária no Senado para prestar contas sobre a atuação da autoridade monetária no primeiro semestre, conforme prevê a lei que conferiu autonomia ao Banco Central.

O presidente do BC disse ainda que deve ser criado algum tipo de tarifa para desincentivar o parcelamento de compras em prazos muito longos.

“Não é proibir os parcelamentos sem juros, é simplesmente tentar fazer com que eles fiquem um pouco mais disciplinados, numa forma bem faseada, para não afetar o consumo. Lembrando que cartão de crédito é 40% do consumo no Brasil”, afirmou.

Inadimplência

A taxa de inadimplência no rotativo do cartão está, atualmente, em cerca de 49%. Campos Neto destacou que o Brasil teve um grande aumento no número de cartões nos últimos anos e facilidades de crédito, o que fez crescer a inadimplência na modalidade.

“Bancos, novos entrantes e varejistas acabaram usando o cartão de crédito como um instrumento de fidelizar o cliente”, disse.

Diálogo

Outra solução seria simplesmente limitar os juros de cartão, mas isso, segundo ele, acarretaria a retirada de cartões de circulação e poderia travar o consumo.

“Para as pessoas que têm mais risco os bancos não ofereceriam aquele cartão, devido a uma relação de risco e retorno ineficiente. O problema de cortar o número de cartões é que se sabe como começa, mas não se sabe como termina. Isso pode gerar um efeito muito grande na parte de consumo, na parte de varejo”, destacou.

A proposta do fim do rotativo está sendo construída em diálogo com o deputado Elmar Nascimento, autor do projeto de lei do Desenrola, programa de renegociação de dívidas.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já havia afirmado que o governo estava somando esforços para baixar os juros da modalidade. Segundo Haddad, a maioria dos credores do Desenrola se encontra inadimplente devido ao rotativo.

O que dizem os bancos

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) vê a medida com reservas e defende a necessidade de uma “diluição de riscos”, hoje concentrados nos bancos, que suportam um elevado custo da inadimplência.

“Defendemos que deve ser mantido o cartão de crédito como relevante instrumento para o consumo. Da mesma forma, deve haver o reequilíbrio da grande distorção que só o Brasil tem, com 75% das compras feitas com parcelado sem juros”, afirma nota da entidade.

A federação disse estar trabalhando junto ao Ministério da Fazenda, ao Banco Central e o varejo, para uma “solução construtiva que passe por uma transição sem rupturas, que possa incluir o fim do crédito rotativo e um redesenho das compras parceladas no cartão”.

Sem tabelamento

Segundo o Correio Braziliense, a Associação Brasileira de Bancos (ABBC), que reúne instituições de médio porte, afirmou que impor um teto de juros na modalidade poderia acarretar desdobramentos “contraproducentes”, tais como “a complexificação de entrada de novos players no mercado, a diminuição do acesso ao crédito e a redução da inclusão financeira”.

“Desconsiderando a alternativa de tabelamento dos juros ou quaisquer outras medidas restritivas de acesso do consumidor aos instrumentos de crédito, acreditamos que poderiam ser eficazes, em termos estruturais, ações como o fomento à portabilidade do crédito e o estabelecimento de uma comunicação mais transparente aos usuários sobre o valor dos juros, encargos e riscos envolvidos na utilização do produto”, opinou a entidade.


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