Produtos sem glúten têm mais gordura, açúcar e aditivos que os normais

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 18 de julho de 2018 às 02:27
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:52
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Na tentativa de se assemelhar a produtos convencionais, grande parte dos ‘glúten free’ são muito transformados

A revista francesa “60 Milhões
de Consumidores“ lançou recentemente um alerta sobre os produtos que não contêm
glúten e chamou a atenção dos franceses que adotaram uma alimentação sem essa
proteína. Ao contrário do que se imagina, boa parte dos alimentos
industrializados sem glúten contém mais gordura, açúcar, sal, aditivos químicos
e são mais calóricos do que os produtos convencionais.

A moda do “glúten free” conquistou os consumidores
franceses há vários anos. Aconselhada a celíacos – indivíduos intolerantes à
proteína encontrada no trigo, centeio, cevada e aveia -, ela passou a ser
adotada também por pessoas que acreditam nas virtudes dietéticas de se
alimentar sem glúten.

No total, segundo a revista, 5 milhões de franceses
deixaram de consumir glúten na França, embora apenas 1% da população seja
celíaca. Mas, devido à moda, muitos substituem ocasionalmente alguns produtos
convencionais – como pães, bolos, biscoitos e massas – pelos “glúten free” –
prática realizada por quase 34% dos consumidores da França.

O grande problema é que, na
tentativa de se assemelhar aos produtos convencionais, boa parte dos
industrializados “glúten free” são extremamente transformados. “No lugar da
farinha de trigo, os fabricantes utilizam frequentemente a farinha de arroz,
associada à fécula e amidos. Mas, para substituir o glúten, que dá elasticidade
à massa e textura aos produtos, eles incorporam aditivos para dar volume e
maciez – os quais poderíamos evitar”, ressalta a revista.

A equipe da “60 Milhões de Consumidores” analisou a
composição de vários produtos sem glúten na França, comparando-os às suas versões
convencionais. Um dos casos mais alarmantes é os dos biscoitos sem glúten da
francesa Gerblé, que contêm oito aditivos químicos a mais que os cookies
convencionais da mesma marca. Já o pão sem glúten da Mon Fournil conta com três
aditivos prejudiciais à saúde e se torna 40% mais calórico que o pão “normal”,
devido à maior quantidade de açúcar e sal, utilizados para acentuar o gosto.

Dieta sem glúten não é aconselhada a
todos

A
nutricionista Magda Santos lembra que tirar completa ou parcialmente o glúten
da alimentação não é uma boa ideia. Ela aconselha uma dieta sem essa proteína
apenas em caso de doença celíaca ou a quem desenvolveu alergia ou sensibilidade
ao glúten. “Apenas 1% das pessoas precisam realmente de uma dieta completamente
sem glúten, que é difícil de ser cumprida e extremamente cara”, salienta.

Ela lembra que eliminar essa
proteína da alimentação não é necessariamente prejudicial à saúde, mas foi uma
ideia imposta pela indústria agro-alimentar, que encontrou um nicho de mercado
importante ao começar a produzir industrializados sem glúten. “O grande
problema é que nos últimos anos, as empresas começaram a alterar a composição
dos produtos para melhorá-los, já que o glúten dá textura e elasticidade aos
alimentos”, avalia.

A nutricionista ressalta que no último congresso da
Sociedade de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica, em Praga, no
ano passado, foi apresentado um estudo importante sobre alimentos
industrializados sem glúten. A pesquisa comparou 1.300 produtos sem essa
proteína e seus equivalentes convencionais. “A conclusão geral é que os
produtos com glúten têm realmente mais gordura saturada, açúcar e baixo teor
proteico”, diz.

Como evitar o glúten e o ‘glúten free’

Tanto para os celíacos quanto
para aqueles que querem evitar ingerir essa substância e ter uma alimentação
mais saudável, a dica da nutricionista é, primeiramente, ler os rótulos das
mercadorias para saber o que se está consumindo. Apesar de reconhecer que há
alguns produtos glúten free que são de boa qualidade, Magda Santos aconselha a
pessoas a evitarem esse tipo de alimento sempre que puderem.

A principal recomendação da nutricionista, no entanto,
não é segredo para ninguém: preparar suas refeições utilizando ingredientes
naturais. “Adaptar e equilibrar a alimentação é muito mais eficaz do que
qualquer dieta da moda”, conclui.


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