Por que as celebridades lutam contra a depressão mesmo com fortuna e fãs?

  • Joao Batista Freitas
  • Publicado em 24 de fevereiro de 2025 às 19:00
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Psicanalista diz que a fama cria uma armadilha psicológica; colapso emocional de Whinderson Nunes alerta para cuidados com a saúde mental

A recente decisão de Whindersson Nunes de se internar voluntariamente em uma clínica psiquiátrica reacende uma questão delicada e, muitas vezes, incompreendida: por que celebridades que possuem sucesso, dinheiro e milhões de fãs enfrentam crises severas de saúde mental?

A verdade é que a depressão não escolhe status, seguidores ou conta bancária, e, em muitos casos, a exposição excessiva e a pressão da fama se tornam gatilhos silenciosos para transtornos como ansiedade, burnout e depressão profunda.

O caso de Whindersson Nunes escancara um fenômeno psicológico que atinge muitas celebridades, que é a dissociação da própria identidade.

“Quando alguém se torna uma figura pública, acaba criando uma nova personalidade para as redes sociais. O problema é que, com o tempo, a necessidade de sustentar esse personagem pode levar a um completo distanciamento de quem a pessoa realmente é. Isso gera um vazio existencial profundo, que muitos confundem com depressão ou ansiedade, mas que, na verdade, é um deslocamento da própria identidade”, explica a psicanalista Ana Lisboa.

Sobrecarga emocional

A pressão para estar sempre disponível, manter um padrão de felicidade e lidar com a expectativa do público cria uma sobrecarga emocional implacável.

“As pessoas acreditam que influenciadores e artistas não trabalham, mas, na realidade, eles vivem uma carga horária de 24 horas por dia. Não há desligamento, não há descanso da própria imagem”, diz Ana Lisboa.

Segundo ela, “é uma exposição contínua, um turbilhão de cobranças, críticas e, em muitos casos, ameaças de morte, como a própria Luísa Sonza revelou que Whindersson enfrentava. Isso coloca toda a família dentro de uma narrativa de pressão insustentável”, complementa Ana Lisboa.

A especialista destaca que esse tipo de sofrimento não afeta apenas os famosos. Pessoas que se dedicam integralmente a um cargo ou função também podem viver esse tipo de dissociação.

O corpo responde

“Isso acontece até mesmo com profissionais que se vinculam mais ao seu papel do que à sua essência. Quando alguém se torna refém de uma identidade que precisa ser mantida a qualquer custo, o corpo responde. Ele pode adoecer fisicamente para tentar trazer a pessoa de volta à sua verdadeira identidade”, explica.

Foi exatamente o que aconteceu com a cantora Anitta, que no auge de sua carreira precisou resgatar sua essência como Larissa. O mesmo padrão se repetiu com Justin Bieber, Britney Spears e tantas outras celebridades.

A fama, ao invés de ser sinônimo de liberdade, se torna uma prisão invisível, onde a necessidade de corresponder às expectativas externas anula a própria existência.

Para Ana Lisboa, a internação de Whindersson foi uma escolha acertada. “Esse é um movimento de retorno para si mesmo. De se reconectar com sua história, seu corpo, sua essência. A fama exige um nível de entrega que, muitas vezes, gera um senso de morte interna”.

Reação

Segundo a psicanalista, “o corpo reage para evitar que essa desconexão se torne definitiva. O tratamento psiquiátrico, nesse caso, não é apenas uma solução para um transtorno, mas um caminho para a reconstrução de uma identidade real e saudável”, conclui.

“Mas a pergunta que fica é até quando vamos, como sociedade, parar de romantizar a fama e entender que, por trás de milhões de curtidas, pode existir uma dor imensurável?”, finaliza Lisboa.