Fabiana Karla: luta contra gordofobia é esquecida por outros movimentos

  • Bernardo Teixeira
  • Publicado em 26 de dezembro de 2020 às 20:37
  • Modificado em 11 de janeiro de 2021 às 12:44
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Para ela, hoje em dia, as ‘pessoas não estão se calando com nada’. E diz: ‘nós gordos estamos no limbo’

(Karina Matias – Folhapress) – Quando colocou o pé nos Estúdios Globo para gravar a última temporada da “Escolinha do Professor Raimundo”, a atriz, humorista e apresentadora Fabiana Karla, 45, conta que não conseguiu segurar a emoção. 

“Comecei a chorar né, porque você fazer humor dentro de um contexto desses… Mas pensei na importância que o programa tem para as pessoas que estão em casa. Foi muito bonito”, diz.

Assim como para muitos dos seus telespectadores, 2020 foi um ano cercado de incertezas para a atriz. Até 16 março, ela vivia em um ritmo frenético. 

Ao lado de Fernanda Gentil e Érico Brás, Fabiana Karla comandava diariamente o “Se Joga”, programa vespertino da Globo, que ainda não tinha decolado na emissora após quase seis meses de sua estreia, e que foi suspenso para que o canal ampliasse a cobertura do novo coronavírus.

Desde então, não voltou mais ao ar. Recentemente, a Globo anunciou que a atração retoma em 2021, mas aos sábados, e repaginada. 

A atriz e humorista afirma que continua escalada para apresentar o programa e defende a emissora por ter feito, segundo ela, um trabalho “hercúleo” em 2020 com o objetivo de não deixar o público órfão de programação e, ao mesmo tempo, respeitar e proteger seus profissionais.

“E o que tiver de ser vai ser. Quando o “Se Joga” voltar, assim espero, acho que a gente vai conseguir, não sei se recuperar o tempo perdido, mas a gente vai voltar com toda a garra e com muita força de vontade para começar nesse novo normal”, afirma.

No humor, Fabiana Karla teve outro baque: o anúncio do fim da “Escolinha”, em que ele dá vida a Cacilda, personagem que ficou famosa com a atriz Cláudia Jimenez. 

O núcleo de atrações de comédia da Globo, aliás, enfrenta grande turbulência em 2020. Após a saída, em agosto, do então chefe da área, Marcius Melhem, acusado de assédio sexual e moral por atrizes, a empresa anunciou, em outubro, o fim do “Fora de Hora”, do “Zorra” e da “Escolinha” – os três tinham a mão de Melhem.

O canal afirmou que a decisão foi tomada por causa dos impactos da Covid-19. Disse ainda que os profissionais das atrações deverão ser aproveitados em um novo programa de humor, que irá ao ar no ano que vem.

Para Fabiana Karla, hoje em dia, as “pessoas não estão se calando com nada”. 

“E acho que ninguém tem de se submeter a nenhum constrangimento, a nenhuma coisa que te deixe em uma situação vexatória, a nada que te constranja, que te humilhe”, corrobora.

Apesar de avaliar que esses movimentos, como o feminista e o antirracista, sejam muito importantes para amplificar vozes que antes não eram ouvidas, a atriz e humorista pondera que eles não podem também ser limitadores, e que as individualidades devem ser respeitadas.

Ela faz ainda uma provocação: “A gente que é gorda fica no limbo, porque o movimento feminista às vezes esquece que gorda é mulher, e o movimento negro esquece que existem gordas negras. A gordofobia fica sozinha nesse grito. Acho que é importante, sim, a gente ver onde está a questão estrutural, entender isso.”

Fabiana Karla diz que discutiu muito o assunto com a atriz e roteirista Suzana Pires, ativista do feminismo. Para a humorista, o momento é de aprendizado, de cada um olhar para si, entender o seu lugar de fala e lutar pelas causas que acredita. 

“Ou também se não quiser é um direito de cada um, acho que as pessoas são livres também. Tem gente que não quer guerra com ninguém”, afirma.

Ela mesma diz acreditar não ter muito haters nas redes sociais por não se envolver em “algumas polêmicas” e por deixar sempre o espaço aberto para que as pessoas possam divergir dela, “sem se sentirem agredidas”. 

“Mas não deixo de passar a minha ideia. E o humor sempre foi essa ferramenta de falar de coisas séria de uma forma mais amena. Acho que aprendi isso com humor”, ressalta.

Fabiana Karla também afirma que não se estressa muito com os haters, e que consegue separar o que é ódio gratuito dos comentários que podem ser úteis. “Porque não vou viver balizada numa rede social”.


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