Associação de defesa de crianças entra com processo contra empresas de jogos

  • Rosana Ribeiro
  • Publicado em 25 de fevereiro de 2021 às 17:00
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A associação afirma que as empresas utilizam a prática de “loot box”, pacotes de itens, como roupas para personagens, que prometem surpresas

Empresas de games são processadas pela prática ilegal de 'loot box'Empresas de games são processadas pela prática ilegal de ‘loot box’

 

A Anced (Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente) entrou na quarta-feira (24) com sete ações civis públicas, na Vara da Infância e da Juventude do Distrito Federal, contra grandes empresas de jogos e vendedoras online em atividade no Brasil.

A associação afirma que as empresas utilizam a prática de “loot box” (pacotes de itens, como roupas para personagens, que prometem surpresas) em jogos consumidos por crianças e adolescentes, e cobra uma indenização com valor mínimo de R$ R$ 1,5 bilhão para cada uma das 13 empresas processadas.

Além da indenização bilionária, as ações propõem que as companhias paguem R$ 1.000 por danos a cada criança ou adolescente que comprovadamente tenha sido vítima da prática.

As ações miram as empresas EA (Electronic Art Games, que tem entre seus títulos o jogo Fifa), Activision, Garena Brasil, Nintendo Brasil, Riot, Ubisoft, Konami, Valve Corporation e Tencent Holdings.

Apple, Microsoft, Google e Sony também são alvos de ações.

A Anced pede que essas companhias deixem de hospedar em suas plataformas, seja por meio de venda ou distribuição, jogos que utilizem o mecanismo de loot boxes.

De acordo com a Anced, as empresas de videogames estariam vendendo e distribuindo jogos a consumidores, incluindo crianças e adolescentes, com um sistema de compra de itens virtuais que oferece recompensas aleatórias, pagas e gratuitas, como roupas de personagens ou desbloqueio de funções.

O texto diz que a indústria de jogos adota estratégias de fidelização de consumidores menores de 18 anos a partir de técnicas de jogos de azar, visando à maximização de lucros e colocando em risco o desenvolvimento psíquico dos usuários.

“A Anced considera essencial que as práticas de venda de loot boxes (caixas-surpresa) embutidas em jogos de videogames sejam repreendidas pelo Poder Judiciário em tutela difusa, já que correspondem a um verdadeiro jogo de azar destinado a menores”.

“É preciso que a sociedade assegure o desenvolvimento da criança e adolescente, tendo em vista o princípio da proteção integral”, diz o texto da ação.

De acordo com o advogado Márlon Reis, autor da ação, países como Bélgica e Alemanha já proíbem a prática de loot boxes.

“Na Holanda, uma ordem judicial impõe uma multa de EUR 500 mil por dia contra a Electronic Arts, que criou o jogo Fifa, por conta de loot boxes que existem dentro um jogo tão insuspeito”.

Reis afirma que as empresas que contêm esse mecanismo e atuam no país estão utilizando um recurso ilegal.

“Há jogos populares, supostamente gratuitos, no qual que crianças pequenas baixam e em determinado momento aparece para elas ofertas de loot boxes para compras. A lei de contravenções penais proíbe jogos de azar. O Estatuto da Criança e do Adolescente deve ser invocado”, disse.

A Anced realizou na quarta-feira (24) uma coletiva de imprensa sobre as ações civis públicas.

A conferência foi alvo de “zoombombing”, um tipo de invasão não autorizada a salas de videoconferência que ficou popular com a ascensão de aplicativos como Zoom e Meets na pandemia.

Durante a explicação dos porta-vozes do caso, uma pessoa invadiu a conferência e passou a reproduzir vídeos no YouTube, tocar música e proferiu palavras de baixo calão.

A reunião era acessada por meio de um link sem necessidade de senha, portanto de fácil acesso.

A sessão foi interrompida e reiniciada em outra sala virtual após o episódio.

A reportagem entrou em contato com as empresas, mas elas não responderam até a publicação deste texto.

A UBV&G (União Brasileira de Vídeo & Games) também foi contatada e ainda não enviou posicionamento.

*Conteúdo FOLHAPRESS


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