Após alta hospitalar, 1/4 dos pacientes intubados por Covid morre por sequelas

  • Bernardo Teixeira
  • Publicado em 22 de fevereiro de 2021 às 23:30
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Embora a intubação esteja associada a uma maior taxa de mortalidade e complicações, é a gravidade da doença a responsável pelos desfechos ruins

No período de seis meses após a alta hospitalar, um em cada quatro pacientes graves de Covid-19 que foram intubados acaba morrendo.

Entre os internados que não precisaram de ventilação mecânica, a taxa de mortalidade é de 2%.

Os resultados preliminares são do estudo Coalizão, conduzido por oito hospitais de excelência do Brasil e institutos de pesquisa, que avalia a qualidade de vida e os desfechos de sobreviventes de hospitalizações por Covid-19.

Os participantes são pacientes internados nessas instituições. São monitorados por ligações telefônicas a cada três, seis, nove e 12 meses após a alta hospitalar. As informações são da repórter Cláudia Collucci, da Folhapress.

Os pesquisadores investigam, por exemplo, se eles foram reinternados por alguma razão, se sofreram eventos cardiovasculares e falta de ar e se voltaram ao trabalho e às atividades habituais.

Os dados já disponíveis mostram que, no período de seis meses, a taxa de nova hospitalização geral desses pacientes foi de 17%.
Entre os intubados na primeira internação por Covid, 40% tiveram que ser reinternados.

“Trabalho em UTI, estou envolvido com vários estudos e fiquei muito surpreso com esses resultados. Mesmo nos casos mais leves, a doença não tem uma evolução tão benigna quanto pensávamos”, diz Alexandre Biasi, diretor de pesquisa do HCor (Hospital do Coração) e membro da Coalizão Covid-19 Brasil.

A rede é formada pelos hospitais Albert Einstein, HCor, Sírio-Libanês, Moinhos de Vento, Oswaldo Cruz, Beneficência Portuguesa e os institutos Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet).

Embora a intubação esteja associada a uma maior taxa de mortalidade e complicações na internação e após a alta, é a gravidade da doença, e não o procedimento em si, a responsável pelos desfechos ruins.

A ressalva é importante porque muitas pessoas têm retardado a ida ao hospital com medo da intubação, o que piora ainda mais o quadro clínico.

O estudo Coalizão ainda está compilando as causas das mortes e das reinternações dos sequelados pela Covid, mas os dados preliminares já servem de alerta para a importância do acompanhamento desses pacientes após a alta.

O trabalho mostra que 20% dos pacientes que foram intubados ainda não tinham voltado a trabalhar seis meses após deixarem o hospital. Entre os que não precisaram de ventilação mecânica, foram 5%.

“O problema não acaba quando o paciente sai do hospital. Temos agora um contingente absurdo de pessoas com sequelas de uma doença aguda que antes não tínhamos na sociedade. Falta de ar, por exemplo, é super comum, mesmo em casos que não eram graves. É uma perda para as pessoas, uma perda para a sociedade”, diz Biasi.

Os primeiros resultados do estudo Coalizão envolveram 1.006 pacientes. Atualmente, mais de 1.200 estão sendo acompanhados e outros ainda serão incluídos.

A idade média dos participantes é de 52 anos, sendo 60% homens. O tempo médio de hospitalização foi de nove dias. Um quarto necessitou de ventilação mecânica.

Outro dado que chamou a atenção dos pesquisadores é a alta taxa de queixas de transtornos mentais após a alta hospitalar: 22% relatam ansiedade, 19%, depressão e 11%, estresse pós-traumático.

“Independentemente de terem sido ou não intubados, o impacto na saúde mental é grande. Em três meses após a internação, 20% dos pacientes intubados apresentam sinais de estresse pós-traumático. Entre os não intubados, foram 12%”, diz .

Nos pacientes mais graves, os pesquisadores estão analisando os efeitos da chamada “síndrome pós-UTI”. Essas disfunções acabam gerando sequelas importantes como fraqueza muscular e redução da capacidade física.

O fisioterapeuta Rogério Dib, do departamento de pacientes graves do hospital Albert Einstein, explica que os pacientes intubados, além da imobilismo e da sedação, usam uma medicação chamada de neurobloqueador, que “desliga” os músculos.

O tempo de reabilitação depende da gravidade da doença, do tempo de internação e da condição prévia de saúde do paciente. “Quanto mais frágil o paciente, mais sujeito a ter complicações.”


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