USP descobre compostos que podem tratar a infecção da febre amarela

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 7 de fevereiro de 2018 às 23:42
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:33
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Estudo do Instituto de Ciências Biomédicas pode representar economia considerável de tempo e recursos

Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da
USP identificaram moléculas já testadas, e farmacologicamente ativas para
outras doenças, que apresentam potencial no tratamento da febre amarela. As
análises foram realizadas em culturas de células humanas de fígado infectadas
pelo vírus causador da doença.

Os cientistas da USP testaram 1.280 compostos e 88 deles (6,9%)
reduziram a infecção em 50% ou mais. A estratégia é conhecida como
“reposicionamento de fármacos” e pode encurtar em vários anos a chegada de
medicamentos do laboratório até as farmácias.

Das moléculas mais promissoras, duas delas também tiveram
eficácia contra o vírus da dengue. O estudo traz resultados inéditos ao
localizar moléculas de espectro amplo de funções farmacológicas, mas não
descritas como anti-febre amarela. Isso oferece uma oportunidade para a
desenvolvimento de fármacos específicos no tratamento da doença.

Modelos

De acordo com o pesquisador Lucio Freitas Junior, um dos autores
da pesquisa, para desenvolver uma droga desde o começo, ou seja, descobrindo um
composto, pode-se levar de dez a doze anos, a um custo de até alguns bilhões de
reais.

Os processos de desenvolvimento de fármacos seguem fases de
teste in vitro ou in vivo em modelos experimentais, além de análises de
segurança, para que depois sejam iniciadas as fases de teste clínico, em
humanos.

Os procedimentos demandam muito tempo e dinheiro, segundo o
cientista. “A partir da estratégia de reposicionamento de fármacos, quando você
começa por algo que já foi testado e já existe uma indicação boa, o tempo fica
reduzido para dois a quatro anos, a um custo reduzido. O estudo pode
representar uma economia brutal de tempo e recursos na descoberta de um
tratamento para a febre amarela”, destaca o pesquisador.

Relevância

O trabalho foi desenvolvido pelos pesquisadores do ICB Carolina
Moraes e Denise Pilger; professor Paolo Zanotto, do Departamento de
Microbiologia; Sabrina Queiroz e Laura Gil, da Fiocruz; além de Lucio Freitas
Junior, que ressalta que a ideia é desenvolver uma alternativa para a vacina da
febre amarela. “É muito relevante que a pesquisa tenha sido feita no Brasil e
100% na USP”, afirma. “Agora, o próximo passo é reunir outros cientistas em um
consórcio de diferentes grupos de pesquisa para trabalhar com os dados obtidos,
que são inéditos. Temos excelentes moléculas e trabalhando dessa forma
diferenciada vamos conseguir agregar valor ao que fazemos. O foco é o produto
final, fazer algo que, de fato, seja diferenciado para o paciente”, explica
Lucio Freitas Junior.

O próximo passo é modificar as moléculas para
aumentar a potência contra o vírus e diminuir os efeitos tóxicos sobre as
células. Caso alguma das moléculas que se mostraram promissoras para tratar a
febre amarela necessite ser modificada, os cientistas agregarão valor a elas e,
com isso, poderão surgir algumas patentes.

Além do ensaio de febre amarela, o grupo de pesquisa também
desenvolveu análises de triagem para os micro-organismos causadores de zika,
dengue, chikungunya, leishmania e Chagas, entre outros.


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