Tempestade solar no Brasil pode derrubar energia elétrica; entenda o que acontece

  • Rosana Ribeiro
  • Publicado em 4 de abril de 2021 às 21:00
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A chamada Amas deixa regiões brasileiras mais expostas às tempestades, que causariam queda de energia elétrica, problemas tecnológicos e até mesmo financeiros

Anomalia Magnética do Atlântico Sul (Amas) faz com que chuvas do tipo se tornem mais intensas

Imagine a seguinte situação: o Sul e o Sudeste do Brasil ficam sem energia elétrica por 12 horas após uma tempestade magnética (ou solar) de alto nível.

Milhares de pessoas ficam sem televisão, sem internet, sem celular…

Basicamente incomunicáveis, em uma época onde a comunicação é tudo e a internet tem se tornado cada vez mais importante em tempos de distanciamento social.

As empresas do setor perdem bilhões de reais conforme as horas vão passando e o caos se aproxima.

É claro que a situação é (ainda bem) totalmente hipotética — e, para o cientista Marcel Nogueira, pesquisador do Observatório Nacional, em entrevista à CNN, deve continuar assim por muito tempo — mas é o suficiente para levantar a pergunta: será que a humanidade está pronta para uma forte tempestade solar?

Em 1989, em Québec, no Canadá, a resposta era não.

Por conta de uma tempestade do tipo, correntes carregadas de radiação encontraram pontos fracos na rede elétrica do local e cerca de 6 milhões de pessoas na costa leste do país ficaram sem luz por metade de um dia.

O processo para a recuperação canadense foi custoso e deixou uma lição em ditado popular: é melhor prevenir do que remediar.

Nos Estados Unidos, à época, mais de 200 problemas de rede elétrica foram registrados — sem apagões.

Agora leve em conta que tudo isso aconteceu sem um agravante que somente o Sul e o Sudeste do Brasil têm: ambas as regiões têm uma defasagem em sua proteção magnética chamada de Anomalia Magnética do Atlântico Sul (Amas), o que faz com que chuvas do tipo se tornem mais intensas.

“A Amas não afeta o nosso dia-a-dia de forma tão direta. Com o nosso campo magnético enfraquecido interagindo com o campo magnético da Terra, há sinais de que o impacto de uma tempestade magnética aqui seria mais intenso, então você correria o risco de ter blackouts, apagões, então isso pode ser uma atenção extra para fortalecer a energia elétrica”, diz o cientista Marcel Nogueira

Segundo ele, a anomalia é “uma fragilidade no escudo magnético da Terra”.

É por isso que, quando satélites cruzam a área afetada pela Amas, é comum que mecanismos mais sensíveis sejam desligados para evitar efeitos graves causados pela forte radiação emitida.

“É claro que isso pode afetar os satélites de TV a cabo de internet, mas o que acontece é que, muitas vezes, ou eles são preparados para evitar essas anomalias, ou evitam a todo custo essa órbita”, explica.

Para Nogueira, a preparação dos equipamentos e o fortalecimento da energia elétrica na Terra seriam suficientes para minimizar os impactos de uma eventual tempestade magnética.

“Se vier uma nuvem magnetizada para o nosso planeta, não temos como impedi-la, ela vai vir e temos que aceitar que vamos ser impactados”.

“Mesmo assim, podemos proteger os sistemas de linhas de transmissão e podemos criar um sistema de anti-blackout mais eficaz”, conta.

Nogueira também afirma que, do lado da ciência, é possível “saber com antecedência de dois a três dias quando algo pode afetar a Terra”.

“Quando vemos uma erupção solar muito intensa, a gente pode rastrear a rota e se preparar para isso, optar por desligar certas coisas do que por tomar um curto-circuito”, diz.

Uma tempestade magnética é difícil de prever. Nogueira explica que as mais intensas geralmente ocorrem quando “estamos na parte máxima do ciclo Solar”, que dura 11 anos — em 2021, a Terra está bem longe do pico mais alto.

As menos intensas causam pequenas perturbações e alguns animais podem ficar desorientados, como aves e baleias.

“A Amas é mais um desafio tecnológico por parte dos satélites que orbitam a região porque precisam suportar uma dose maior de radiação do que em outras partes da Terra. No mais, precisamos estudar as tempestades magnéticas”, diz.

A Amas, o Triângulo das Bermudas e o GPS

Ao ouvir falar da Amas, muita gente nas redes sociais começou a pensar sobre o que isso implicava para o GPS e para o Triângulo das Bermudas. Segundo Nogueira, o fenômeno não tem nada de místico.

“A Amas não afeta aviões e helicópteros, também não faz com que aviões desapareçam em viagens de Porto Alegre para o Rio de Janeiro, por exemplo”, diz.

“O mesmo vale se você pedir um Uber ou uma comida por aplicativo: vai chegar tudo normal, porque o GPS vai continuar funcionando. Apesar de estarmos em uma região de anomalia, ela não vai impactar diretamente na nossa vida”, brinca.

O Triângulo das Bermudas também é outra teoria que deve ser descartada, segundo Nogueira.

Para ele, é preciso levar em conta as evidências — que, até o momento, para o cientista, mostram que “tudo funciona muito bem nas regiões afetadas pela Amas”.


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