Pandemia: 300 mil bebês deixaram de nascer no Brasil com adiamentos e divórcios

  • Cláudia Canelli
  • Publicado em 14 de julho de 2021 às 19:00
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A pandemia de covid-19 está tendo efeitos nada desprezíveis na demografia brasileira e mundial, com aumento de óbitos e redução de nascimentos

São menos bebês nascendo, mais divórcios e, tristemente, um número impressionante de mortes: 195 mil mortos oficialmente contabilizados no Brasil em 2020, e mais 338 mil mortos em 2021 até agora.

O total já ultrapassa 536 mil.

Esse cenário fez com que não se cumprissem as previsões populacionais feitas previamente para 2020 e 2021, como observa José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e pesquisador aposentado do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Diniz Alves analisou o comportamento da população brasileira no último ano e meio e identificou fatos importantes – alguns deles inéditos em um país que cresce sem parar desde que foi colonizado pelos europeus, cinco séculos atrás.

Baby boom

Quem imaginava que o enclausuramento provocado pela pandemia provocaria um “baby boom” se enganou, explicou Diniz Alves à BBC News Brasil.

“A pandemia provocou uma queda na natalidade no mundo inteiro”, diz.

“Quem pôde adiar a maternidade, no caso de casais jovens, adiou. Mesmo que tivesse havido mais sexo (entre pessoas em quarentena), hoje em dia existe uma separação entre sexo e reprodução”.

Segundo ele, houve muito medo da mulher grávida ficar doente, medo de o hospital estar sobrecarregado. Basta adiarem-se 20% dos nascimentos para haver um impacto grande na taxa de natalidade.

Divórcios

Essa redução deve se aprofundar ainda mais neste ano, porque os adiamentos de gestações provavelmente continuaram ao longo do ano passado e do primeiro semestre deste.

O aumento no número de divórcios (15% a mais apenas no segundo semestre de 2020, em relação ao mesmo período de 2019) e a queda no número de casamentos também contribuem para menos concepções de bebês.

Antes de a pandemia eclodir, o IBGE havia projetado que o Brasil veria sua população aumentar em 1,574 milhão de pessoas no ano passado.

Natalidade

No entanto, diante da baixa na taxa de natalidade, das mortes por covid-19 e da sobrecarga do sistema de saúde, o país terminou 2020 com 1,159 milhão de pessoas a mais, segundo o Portal da Transparência do Registro Civil.

Um levantamento da associação de cartórios (Arpen-SP) mostrou que, no primeiro semestre deste ano, morreram 248 mil pessoas no Estado de São Paulo, número recorde e 84% acima da média para o período.

Os nascimentos, por sua vez, foram 12% menores do que a média: 277 mil. Trata-se, então, do menor crescimento populacional em décadas no Estado paulista.


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