Os cinco comportamentos atuais que são gatilhos das dores de cabeça

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 3 de junho de 2018 às 22:27
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:47
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Ritmo de vida atual pode desencadear problemas diversos que agravam as dores de cabeça

É difícil falar em uma
única causa para a dor de cabeça, já que incômodos frequentes estão, na
verdade, associados a muitos fatores que caracterizam o estilo de vida atual. A
pesquisa “O Futuro da Dor de Cabeça” conduzida pela WGSN
Mindset, divisão de consultoria da empresa líder global em pesquisa de
tendências, descobriu os cinco gatilhos da dor de cabeça no futuro.

“Em meio a tudo isso, a tecnologia assume um papel ambíguo:
se por um lado estimula a hiperconectividade, o que desencadeia muitos dos
gatilhos, por outro oferece ferramentas inovadoras que ajudam a manter o uso
dos dispositivos tecnológicos sob controle. A saída, portanto, é entender de
que modo a tecnologia afeta a saúde e como usá-la a nosso favor, sem acionar
gatilhos de comportamento”, explica Julia Curan, Consultora da WGSN
Mindset.

Nos tópicos abaixo,
você descobre quais foram os gatilhos do futuro identificados pela pesquisa de
tendências e como evitá-los com atitudes simples e mudanças de hábito que
favorecem a saúde como um todo, além de conhecer algumas iniciativas que ajudam
a solucionar o dilema das dores de cabeça da modernidade. Fique atento e saiba
mais:

Ansiedade sem limites

No mundo todo, a
Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 264 milhões de pessoas sofram com
ansiedade2. No Brasil, 9,3% da população é diagnosticada com o
transtorno2, o que nos torna o país mais ansioso do mundo. Em um
contexto como esse, portanto, é difícil manter sentimentos e emoções em
equilíbrio, o que impacta muitos outros setores da vida, além de desencadear as
dores de cabeça. “Quanto estamos ansiosos, por exemplo, é comum optar por
alimentos de baixo valor nutricional, como aqueles que são ricos em açúcar,
cafeína, álcool e carboidratos refinados”, explica a nutricionista Marcia
Daskal.

A neurologista Célia Roesler, diretora da Sociedade Brasileira de
Cefaleia e vice-coordenadora do Departamento Científico de Cefaleia da Academia
Brasileira de Neurologia, salienta a relação da ansiedade com o sono: “Num
estado ansioso, sentimos ainda mais dificuldade para dormir. Nesse aspecto, a
tecnologia pode desempenhar um papel negativo, principalmente quando usada em
excesso ao longo do dia e antes de dormir”.

Uma forma de contornar
esse sentimento ansioso tão característico do nosso tempo é prestar atenção a
esses setores básicos da vida que são prejudicados pelo transtorno, como a
alimentação e sono, e priorizá-los. Também é preciso saber quando se
desconectar do mundo virtual, dedicando tempo para fazer outras atividades com
calma, que também trazem prazer. Pode ser um encontro “analógico” com
os amigos, a leitura de um livro, uma sessão tranquila de meditação no parque e
outras atividades do gênero.

O site Time to Log Off propõe algo do tipo, com um plano Detox
Digital 5:2 – uma espécie de guia para que você viva dois dias completamente
analógicos na semana, sem nada de tecnologia. Não vale usar nem o despertador
do celular, viu? Esse também é o momento de restabelecer conexões humanas,
trocando as conversas por aplicativos por encontros na vida real e interações
com pessoas desconhecidas.

Cérebro sobrecarregado

Ficar conectado
praticamente o dia inteiro faz com que você seja bombardeado por diversos tipos
de estímulos diferentes, sem conseguir parar e filtrar tudo aquilo. Ao
contrário do que parece, isso não é positivo para o organismo, principalmente
quando falamos de dores de cabeça, que são estimuladas por esse tipo de
estresse e pela sobrecarga digital. O resultado é o esgotamento cerebral,
quando não conseguimos mais nos concentrar ou mesmo focar em atividades
simples, como a leitura de um texto ou uma conversa com um conhecido.

Um exemplo é quando estamos jantando com alguém e acessamos as
redes sociais de repente, sem nenhum motivo aparente, só para ver o que está
acontecendo. A ciência chama isso de FOMO (“fear of missing out”, que
em português significa “medo de ficar de fora”), quando as pessoas
não conseguem parar de interagir com as redes sociais e documentar tudo o que
estão fazendo.

Uma saída para o
esgotamento cerebral e as dores de cabeça causadas por ele é reduzir a
exposição a tantos estímulos. Esse afastamento pode ajudar a diminuir o
estresse e permite que você se reconecte com aquilo que realmente importa, como
momentos com os amigos, hobbies e atividades físicas. É possível contar com a
ajuda de aplicativos para evitar a exaustão mental, o que mostra que a
tecnologia também pode ser utilizada a nosso favor.

Emoções à flor da pele

Pós-verdade foi o
termo que melhor definiu 2016, de acordo com o Oxford Dictionary, e você
provavelmente já se sentiu acometido por ele. A pós-verdade ganha forma quando
emoções e crenças pessoais têm mais valor ou importância, para a opinião
pública, do que fatos verdadeiros. Por isso, com a pós-verdade as pessoas podem
perder a capacidade de julgar o que é real daquilo que é falso, movidas apenas
por bolhas que refletem e repercutem ideias semelhantes às suas.

“A busca pelo verdadeiro significado do ‘real’ e os
constantes atritos com o mundo longe das redes sociais, onde as bolhas não
funcionam sem os algoritmos, também são situações capazes de causar dor de
cabeça e profunda desesperança. Nesse ponto, só a tecnologia pode ajudar a
romper as bolhas e criar ferramentas de averiguação de informações, como fazem
os departamentos de fact-checkers de alguns veículos de comunicação, que tentam
barrar as notícias falsas”, salienta a psicóloga Juliane Peres Mercante,
especialista em cefaleias e doutora pelo departamento de Psiquiatria do
Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da USP.

Para além das redes, é
preciso vivenciar esse tipo de expansão da mente na vida real, com experiências
offline, por exemplo¹. A psicóloga indica que “você pode buscar sessões
coletivas de meditação, ioga ou até mesmo pequenas maratonas, que promovem
bem-estar e te afastam da bolha das redes sociais, aumentando a interação com
pessoas diferentes. Tudo isso ajuda a combater a sensação de ‘isolamento
coletivo’ da pós-verdade”.

Perfeccionismo

Para muitas pessoas, o
sucesso está atrelado ao excesso de trabalho e atividades. Essa é uma das
conclusões apontadas por um estudo feito pela University of Bath em parceria
com a York St. John University, levando em conta a geração dos millennials –
também chamada de Geração Y. De acordo com a pesquisa, os millennials são 33%
mais propensos a acreditar que o ambiente onde vivem exige a perfeição, do
trabalho à vida social. Essa busca pelo perfeccionismo pode levar a
frustrações, angústia, tensão e, consequentemente, dores de cabeça, pois a
pressão da autoexigência é muito alta.

Nesse gatilho entra
também a ideia de que precisamos estar produzindo algo o tempo todo para termos
algum valor para a sociedade, ainda que intelectual. A produtividade se torna,
portanto, sinônimo de qualidade de vida, fazendo com que as pessoas se
mantenham ocupadas por 24h, sem conseguir suportar momentos de tédio e
calmaria.

Não há nada de errado
em querer ser produtivo e eficiente, desde que na medida certa. O problema, na
verdade, está nas consequências por trás da exigência desenfreada, que pode
trazer sérios riscos para a saúde física e mental de qualquer pessoa,
principalmente em sociedades cada vez mais ansiosas e conectadas.

O amadurecimento emocional é um poderoso antídoto para a cobrança
excessiva e as dores de cabeça decorrentes desse problema. É preciso entender
que a imperfeição faz parte da vida e reagir a essa contestação sem angústia ou
agonia, com uma ‘apatia’ positiva, por assim dizer.

A prática da meditação mindfulness também ajuda, já que propõe um
exercício de consciência a respeito das emoções por meio da respiração
meditativa, o que reduz o estresse, salienta Célia Roesler, diretora da
Sociedade Brasileira de Cefaleia e vice-coordenadora do Departamento Científico
de Cefaleia da Academia Brasileira de Neurologia.

Barulho

Para quem vive em
grandes metrópoles, é um luxo cogitar alguns minutos de silêncio total. Apesar
de precisarmos dessa pausa para os ouvidos, o “completo vazio” do
silêncio também é encarado como algo assustador, já que estamos viciados em
sons de sirenes, buzinas, escapamentos, aviões, fones de ouvido e outras
distrações ininterruptas.

Precisamos entender que nosso corpo não nasceu para viver nesse
estado de alerta constante. Prova disso são os resultados de uma pesquisa da
Organização Mundial da Saúde, que mostram que 3% dos ataques e derrames
cardíacos fatais na Europa são causados pelo ruído do trânsito.

Para a neurologista
Célia Roesler, “o estresse causado pelo barulho urbano pode desencadear
hipertensão arterial, distúrbios do sono, doenças cardíacas, problemas
psicológicos, dores de cabeça e outros problemas de saúde. Além disso, o ruído
crônico incessante também pode estimular o envelhecimento precoce do aparelho
auditivo. Por esse e todos os outros motivos citados anteriormente, é
fundamental adotar alguns momentos de descanso para os ouvidos, sem fones e
longe do caos da cidade. Parece difícil engatar uma mudança desse porte, mas
alguns cuidados e a própria tecnologia podem ajudar”.

Em primeiro lugar, é importante entender o silêncio como uma parte
importante da vida. Novamente, a meditação é uma boa ferramenta para recuperar
instantes silenciosos no dia a dia, devolvendo um pouco de quietude à mente.
Alguns minutos por dia, praticados regularmente, são suficientes para
conquistar essa paz meditativa.

Com todas essas informações em mãos sobre os gatilhos
comportamentais das dores de cabeça, é possível adotar um estilo de vida
voltado à prevenção do problema de saúde, com mudanças de hábito que, em
essência, são bem simples. Tomar consciência do exagero (de som, tecnologia,
exigência, ruídos, redes e tudo o que nos cerca) é o primeiro passo para,
então, redescobrir o equilíbrio entre estímulo e quietude de que tanto
precisamos, finaliza Julia Curan.


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