Juros menores, crédito mais barato: pague menos pedindo portabilidade

  • Bernardo Teixeira
  • Publicado em 1 de novembro de 2020 às 16:01
  • Modificado em 11 de janeiro de 2021 às 07:07
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Houve um aumento de 651% de transações de portabilidade no crédito habitacional neste ano

Os juros nunca foram tão baixos no Brasil, e o custo do crédito também. Com a taxa básica de juros (Selic) em 2% ao ano, ficou mais barato pegar um empréstimo e, até mesmo, pagar menos pelos antigos negociando com o banco ou pedindo a portabilidade de crédito para outra instituição — transação que cresceu muito em 2020.

Segundo dados do Banco Central, houve um aumento de 651% de transações de portabilidade na modalidade de crédito habitacional SFH e de 316% no SFI neste ano até agosto, em relação ao mesmo período do ano passado. No financiamento de veículos, o crescimento foi de 262% e para o crédito pessoal, de 377%.

Pela portabilidade de crédito, os clientes têm o direito de transferir gratuitamente suas dívidas de um banco para outro. Na prática, a portabilidade funciona como se o cliente tivesse contratado um novo empréstimo em outro banco e, com esses recursos, quitado antecipadamente a dívida no banco de origem. 

A diferença é que não há pagamento de impostos, desde que o novo empréstimo não supere o valor da dívida original. E pelas regras, as condições continuam a mesmas, apenas mudando a taxa de juros. Isso para que o consumidor consiga comparar facilmente onde está mais barato.

‘Com a queda de juros, fazer a portabilidade pode ser um excelente negócio. Qualquer pequena redução na prestação pode significar uma economia grande no financiamento total. É importante cotar no mercado se o crédito ficou caro”, afirma Andrew Frank Storfer, diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

Quem contratou um crédito em 2018, por exemplo, quando a taxa de juros estava em 6,5% ao ano, pode conseguir uma redução de cerca de 17,3% na prestação da casa própria e de 4,4% na parcela do financiamento imobiliário se mudar o crédito para as condições atuais.

Quanto mais longo é o crédito, maior é a redução no valor total do financiamento. Por isso, a portabilidade do crédito imobiliário pode representar uma grande economia. Mas há um custo extra com a atualização da matrícula do imóvel.

“O novo banco dá o custo na averbação na matrícula do imóvel, que é proporcional ao valor do imóvel. Mas compensa pela economia com os juros”, afirma Andrew Storfer.

A recomendação dos especialistas é pedir ao banco credor todas as informações sobre o crédito: saldo devedor, prazo restante e taxa de juros. E então, cotar em outros bancos se há um custo menor — o que é possível fazer pela internet. Mas antes de fechar negócio com o que oferece a menor taxa, mostre ao banco atual que tem oferta melhores.

Já se a melhor alternativa for em outro banco, é só fechar o negócio. Pelas regras de portabilidade, o novo banco comunica ao atual que está recebendo o crédito. 

O banco é obrigado a informar o saldo devedor e a aceitar a liquidação por meio de transferência de recursos pelo novo banco emprestador. Para fazer a portabilidade, é preciso estar em dia com os pagamentos .

“O custo de crédito ficou menor, então vale a pena para o banco atrair bons clientes. E depois da transferência, é possível até mesmo negociar outras condições”, afirma Ricardo Teixeira, professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas.

Negociar é sempre uma boa alternativa
Antes de procurar outros bancos para verificar as condições de portabilidade, é interessante procurar a própria instituição onde foi feito o crédito para pleitear melhores condições. 

Além de obter taxas de juros menores, o coordenador do MBA de finanças na Universidade Veiga de Almeida (UVA), Haroldo Monteiro, aconselha a negociar o seguro embutido na prestação paga todo mês.

“Só optar pela portabilidade , cliente deve verificar se o banco está cobrando alguma taxa para fazer a operação”, alerta Monteiro. “É preciso ficar bastante atento, já que taxa pode ser menor, mas o seguro maior. E e sse seguro costuma ter um peso muito grande no valor do financiamento”.

A professora e gestora nacional do curso de Ciências Contábeis da Estácio, Iara Marchioretto, diz que os bancos costumam oferecer descontos para antecipação de parcelas ou pagamento de cotas em atraso.

Cartão de crédito e cheque especial
A portabilidade também pode ser usada em outros tipos de dívidas como cartão de crédito ou cheque especial. 

Dessa forma, se o consumidor contraiu uma dívida alta em uma instituição, pode procurar outra que ofereça financiamento de longo prazo, com parcelas e juros menores, para fazer a transferência. 

Caso não seja possível, outra solução é pegar um empréstimo com taxas menores para sair do rotativo do cartão de crédito, que cobra tarifas exorbitantes.

“O interessado deve ver se o banco está cobrando seguro de inadimplência, o que acaba aumentando a taxa. Quando a soma da parcela e do seguro de inadimplência resultar numa taxa de juros mais alta do que era pago antes da portabilidade, isso pode ser um tipo de pegadinha”, afirma o economista Haroldo Monteiro.

Se aprovada, o novo banco paga o valor restante da dívida à instituição onde o crédito foi contratado, e o cliente passa a pagar à instituição escolhida.


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