História que deixa saudade: freiras da Congregação de São José estão deixando Franca

  • Caio Mignone
  • Publicado em 9 de maio de 2021 às 18:30
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Depois de 132 anos de atividades fundamentais, as últimas freiras da Congregação de São José de Chambèry estão deixando Franca


Prédio do Colégio Nossa Senhora de Lourdes, que sediou as ações das freiras em Franca (Foto: Museu Histórico)

Parece ter se completado o ciclo do projeto religioso e social de Monsenhor Cândido da Silveira Rosa, iniciado em 1888, com a chegada a Franca das primeiras irmãs da Congregação de São José de Chambèry.

Depois de 132 anos e seis meses, as derradeiras freiras de irmandade instalada no Brasil pela Madre Maria Teodora Voiron estão deixando a cidade.

Naquela época, Monsenhor Rosa pretendeu oferecer opções de formação aos filhos das famílias da sociedade francana e da região.

E, com esse propósito, trouxe para a cidade os Irmãos Maristas que instalaram um internato masculino, logo transformado no Colégio Champagnat.

Para as moças, a missão coube às Irmãs de São José Chambèry, que já em 1889 atendiam as crianças pobres da cidade no Externato São José, anexo à obra principal.

Sempre funcionou no mesmo local, um casarão doado pelo Major Claudiano, a poucos metros da Igreja Matriz, na rua que veio a ser denominada Major Claudiano.

De acordo com Mário D’Elia, no livro “Sal & Pimenta – Crônicas Francanas”, desde a sua instalação o Colégio foi dirigido pela Madre Superiora Maria d’Apresentação Voiron, irmã de sangue da Maria Teodora Voiron, até o seu falecimento a 5 de novembro de 1917.

Foi ela quem construiu os pavilhões central e lateral do Sul, onde está situada, ainda hoje, a artística Capela de Nossa Senhora de Lourdes.

Por ali passaram as filhas das famílias mais influentes da sociedade do interior paulista e Sul de Minas Gerais e inspirou muitas jovens da cidade à vida religiosa.

Ainda segundo Mário D’Elia, o prédio, como ainda se encontra hoje, ocupando todo um quarteirão das ruas Major Claudiano, Campos Salles, Comandante Salgado e Doutor Alcindo Conrado, foi aumentado em 1929, pela Madre Maria Gabriela Oddenino, para abrigar a Escola Normal Livre.

Diferente de muitas congregações, contemplativas, a Irmandade de São José, de inspiração jesuíta, sempre teve uma participação ativa em todos os setores da comunidade, atuando efetivamente no campo social e educação.

Desde o apoio na enfermagem da Santa Casa de Misericórdia até a construção de casas para famílias carentes, a baixo custo e apoio material de toda espécie, nas periferias.

Ao longo dos anos, graças a doações, as freiras do Colégio Nossa Senhora de Lourdes arrebanharam um valioso patrimônio, o qual nunca colocaram a serviço de si próprias, ao contrário, revertiam sempre em prol de causas sociais, com o rigor do despojamento material.

Foi assim que toda a área territorial que hoje comporta os bairros São José, Jardim Piratininga, Santa Gianna e redondezas foi passando para as mãos de terceiros na medida em que a economia da cidade se fragilizava e os custos com a manutenção da obra se tornava inviável.

Em 1967, com o encerramento das atividades do tradicional Colégio Nossa de Lourdes (o prédio que abrigou, depois, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Franca e a UNESP), as Irmãs de São José Chambèry entraram em um novo momento.

Foi com a instalação do CEPROL – Centro Promocional do Lourdes, instalado em imóvel do outro lado da mesma Rua Major Claudiano.

Foi mantido um importante projeto social que já funcionava, desde 1964, nas instalações do antigo Colégio.

A Colmeia, pioneira no modelo de contraturno escolar, que inicialmente atendia apenas meninos de 9 a 14 anos e, com a mudança de prédio, passou a atender também meninas na mesma faixa etária.

O projeto era ambicioso na iniciação profissional, com oficinas de cadeiras de assento de palha, marcenaria, artesanato em fio de plástico, entre outras atividades.

Também manteve um embrião de escolinha de futebol masculino (que funcionava em parceria com a A.A. Francana, no Estádio Coronel Nhô Chico).

Com o advento da nova legislação de proteção integral à criança e ao adolescente, as atividades laborais foram totalmente substituídas por um programa de contraturno escolar regido pela LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação.

Nessa altura, a maioria das Irmãs de São José já havia deixado a cidade em vista da expansão dos trabalhos da congregação por outras cidades do país.

O edifício moradia das freiras, anexo ao Ceprol, com face para a Rua Monsenhor Rosa, passou para terceiros e foi mantida apenas a Casa das Freiras, com poucas moradoras.

As derradeiras delas estariam sendo transferidas até o final de semana do Dia da Mães.

De acordo com a última atualização do portal da Associação de Instrução Popular Brasileira – SIPEB, da qual o Centro Promocional Nossa Senhora de Lourdes – CEPROL é uma unidade, este atendeu, desde a sua instalação, 47.117 beneficiários em Franca.

Há informações de que o projeto de extensão escolar será mantido em Franca, com administração local, supervisionado pela SIPEP, através da Unidade de Gestão e Atendimento, sediada em São Paulo.

Inclusive com direção da mesma responsável pelo CEPROL, a qual estaria assumindo a referida unidade.

O projeto é voltado para crianças de 06 a 10 anos e 11 meses, tendo como foco a melhoria no índice de desenvolvimento educacional e no combate à vulnerabilidade social.

“O projeto leva em consideração a concepção de educação mais ampla, que compreende formar os educandos de modo a atender diversas habilidades, competências e conhecimentos exigidos num mundo contemporâneo”, diz o portal.


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