Dormir pouco pode aumentar a ocorrência de pensamentos intrusivos; entenda

  • Rosana Ribeiro
  • Publicado em 11 de janeiro de 2025 às 12:00
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A privação de sono afeta a capacidade do cérebro de controlar memórias indesejadas, fazendo crescer o risco de desregulação emocional e transtornos mentais

Dormir pouco prejudica a capacidade do cérebro de controlar memórias e pensamentos indesejados – foto Arquivo

 

Uma pesquisa recente da Universidade de East Anglia, nos Estados Unidos, investigou a relação entre a qualidade do sono e a saúde mental.

Através de observações clínicas e exames de ressonância magnética, os pesquisadores constataram que a falta de sono reduz a atividade do córtex pré-frontal, o que, por sua vez, dificulta a inibição dos pensamentos intrusivos.

Os achados foram divulgados em um estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

Pesquisas anteriores realizadas pela mesma equipe da Universidade de East Anglia já indicavam que a privação de sono prejudica a capacidade do cérebro de controlar memórias e pensamentos indesejados.

No entanto, os cientistas buscavam compreender os processos biológicos que explicavam essa dificuldade.

Com esse objetivo, os pesquisadores focaram no estudo do córtex pré-frontal dorsolateral direito (rDLPFC), a área do cérebro envolvida na supressão das lembranças indesejadas.

Enquanto o hipocampo é responsável por recuperar memórias de eventos passados, o rDLPFC age para afastá-las da consciência, enfraquecendo a memória associada e, assim, diminuindo a chance de futuras intrusões.

Para investigar o funcionamento desse mecanismo, 85 adultos foram treinados para associar imagens de rostos neutros a cenas específicas, algumas negativas e outras positivas.

Eles então foram divididos em dois grupos: enquanto um foi mantido acordado durante a noite inteira, o outro teve permissão para dormir no laboratório. Aqueles que tiveram a chance de descansar tiveram o seu sono monitorado.

Na manhã seguinte, os participantes visualizaram novamente as imagens dos rostos e foram solicitados a lembrar a cena associada ao rosto ou, alternativamente, a suprimir essa memória, com base no treino realizado no dia anterior.

Observando a atividade cerebral utilizando um scanner de ressonância magnética, os pesquisadores verificaram que os indivíduos que dormiram bem apresentaram maior ativação do rDLPFC e uma redução da atividade no hipocampo.

Em contraste, os participantes que permaneceram acordados exibiram um padrão totalmente contrário — provavelmente por uma dificuldade do funcionamento do rDLPFC.

Além disso, entre os adultos que tiveram uma boa noite de sono, aqueles que passaram mais tempo em sono REM – a fase mais profunda do sono – demonstraram maior capacidade de ativar o rDLPFC durante o processo de supressão da memória.

Esses resultados indicam uma relação direta entre o sono REM e o funcionamento eficaz dessa área do cérebro.

“Isso é interessante porque muitos transtornos associados a pensamentos intrusivos debilitantes, como depressão e TEPT, também estão associados a distúrbios no REM”, disse Scott Cairney, autor sênior do artigo, em entrevista ao portal Scientific American.

Os achados do estudo ressaltam o papel crucial do sono, não apenas no gerenciamento de memórias e pensamentos, mas também na saúde mental de maneira ampla.

A dificuldade em controlar as memórias, resultante da privação de sono, pode favorecer a desregulação emocional e o surgimento de transtornos psicológicos.

“Dado que as memórias desempenham um papel central em nossa percepção afetiva do mundo externo, as falhas no controle da memória podem contribuir muito para explicar a relação entre perda de sono e desregulação emocional”, explicou Marcus Harrington, também autor do artigo, em comunicado.

“Uma melhor compreensão dos mecanismos que precipitam a ocorrência de memórias intrusivas é vital para melhorar o bem-estar emocional e reduzir a carga global de doenças mentais.”

*Informações Galileu


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