Adolescentes têm piora na alimentação e aprendizado durante pandemia

  • Rosana Ribeiro
  • Publicado em 29 de dezembro de 2020 às 18:33
  • Modificado em 11 de janeiro de 2021 às 12:58
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Estudo feito pela Unicamp, Universidade Federal de MG e Fiocruz teve participação de mais de 9 mil voluntários

A Unicamp, a Fundação Oswaldo Cruz e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) acabam de divulgar os dados da pesquisa Convid Adolescentes – Pesquisa de Comportamentos realizada em parceria pelas três instituições. 

Foram investigadas as mudanças nas atividades de rotina, nos estilos de vida, nas relações com familiares e amigos, nas atividades escolares, nos cuidados à saúde, e no estado de ânimo de 9.470 adolescentes com idade de 12 a 17 anos do Brasil decorrentes da pandemia de Covid-19. 

O percentual de adolescentes que tiveram diagnóstico de Covid-19 foi de 3,9%. Na comparação por sexo, o percentual para o sexo masculino foi de 4,3% e para o feminino de 3,6%.  

Na comparação por faixa etária, o percentual de adolescentes que tiveram diagnóstico de Covid-19 foi de 4,9% entre os de 16 a 17 anos e de 3,5% entre os de 12 a 15 anos.  

Diferenças por região também foram encontradas. O percentual de diagnóstico de covid-19 variou de 2,1% na Região Sul a 6,1% na Região Norte.

A grande maioria dos adolescentes (71,5%) aderiu às medidas de restrição social, com 25,9% em restrição total e 45,6%, em restrição intensa, saindo só para supermercados, farmácias ou casa de familiares. 

Considerando a restrição intensa e a total restrição de contatos com outras pessoas, a maior proporção ocorreu na Região Sul, de 74,1%, enquanto o menor percentual ocorreu no Norte (66,1%).  

Diferenças foram encontradas por faixa de idade. Enquanto os mais novos aderiram em maior proporção à restrição social total (27,0%), os mais velhos mostraram maior proporção de adesão à restrição social intensa (50,7%).

No total da amostra, 30% achou que a sua saúde piorou durante a pandemia.  

Diferenças foram encontradas por sexo e faixa de idade, com as meninas relatando maior proporção de piora do estado de saúde (33,8%) do que os meninos (25,8%), e os adolescentes mais velhos (37,0%) do que os mais novos (26,4%).

Estado de ânimo​

“O percentual de adolescentes que relataram piora na qualidade do sono durante a pandemia foi de 36,0%, sendo que 23,9% começaram a ter problemas com o sono e 12,1% relataram que tinham problemas e eles pioraram”. 

“A qualidade do sono foi mais afetada entre as meninas, e nos adolescentes com 16 a 17 anos, em relação aos mais novos”, comenta a pesquisadora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Margareth Guimarães Lima.

O relato de sentir-se isolado dos amigos foi observado em 32,8% dos adolescentes; 22,4% referiu sentimento de isolamento na maioria das vezes e 10,4% sempre teve esse sentimento durante o período. 

Sentir-se isolado foi mais frequente entre as meninas, em relação aos meninos, e entre os adolescentes mais velhos quando comparados aos mais novos.

De acordo com a pesquisa, grande proporção de adolescentes que se sentiram tristes na maioria das vezes ou sempre foi encontrada (31,6%). 

O relato de tristeza, na maioria das vezes ocorreu em 22,4% dos adolescentes e 9,2% se sentiu sempre triste durante a pandemia.  

O percentual de sentimento de tristeza foi duas vezes maior nas meninas. Entre elas, 27,7% se sentiram sempre tristes.  

O relato do sentimento de tristeza na maioria das vezes ou sempre foi maior entre os adolescentes mais velhos (38,3%) do que entre os mais novos ( 29,6%).

“Sentir-se preocupado, nervoso ou mal-humorado foi relatado por 48,7% dos adolescentes, na maioria das vezes ou sempre”. 

“Entre as meninas, o percentual foi de 61,6%. Os adolescentes de 16 a 17 anos de idade relataram esse sentimento mais frequentemente (55,3%) do que os de 12 a 15 anos (45,5%)”.  

“Cerca de um quinto dos adolescentes (19,3%) sentiu sempre preocupação, nervosismo, ou mau-humor, 27,7% das meninas e 10,8% dos meninos”, aponta Margareth.

Alimentação e atividade física​

O consumo de alimentos não saudáveis em dois dias ou mais por semana aumentou durante a pandemia: 4% para pratos congelados e 4% para os chocolates e doces.  

Destaca-se o maior consumo de doces e chocolates entre as meninas. Durante a pandemia, 58,1% das adolescentes consumiram doces em 2 dias ou mais por semana.  

Já o padrão de consumo de alimentos saudáveis, tais como frutas e hortaliças, foi similar antes e durante a pandemia.

“Chama a atenção que mais de 40% não praticaram atividade física por 60 minutos em nenhum dia da semana durante a pandemia”.  

“O percentual de jovens que não faziam 60 minutos de atividade física em nenhum dia da semana antes da pandemia era de 20,9% e passou a ser de 43,4%”.  

“A prática de 60 minutos de atividade física em cinco ou mais dias semanais diminuiu em torno de 13 pontos percentuais, de 28,7 para 15,7%”, alerta a pesquisadora da Unicamp.

Durante a pandemia, mais de 60% dos adolescentes relataram ficar por mais de 4 horas em frente às telas de computador, tablet ou celular.  Entre os adolescentes de 16-17 anos, o percentual alcança 70%.  

O tempo sedentário aumentou de cerca de duas horas durante a pandemia. O tempo que os adolescentes costumavam ficar sentados assistindo televisão ou jogando videogame aumentou de 3 horas e 20 minutos, antes da pandemia, para 5 horas e 3 minutos, durante a pandemia.

Ensino a distância​

Muitas dificuldades em acompanhar as aulas de ensino à distância foram citadas pelos adolescentes: 59% relataram falta de concentração, 38,3% falta de interação com os professores, 31,3% falta de interação com amigos. 

As meninas relataram maior dificuldade em acompanhar as aulas, principalmente com relação à falta de concentração e falta de interação com professores. 

Enquanto 10,7% dos meninos não teve nenhuma dificuldade, o percentual foi de 6,9% entre as meninas.  

Entre os adolescentes de 16-17 anos, 65,5% citaram falta de concentração como dificuldade para acompanhar as aulas à distância.

Em relação ao entendimento do conteúdo das aulas de ensino à distância, 47,8% dos adolescentes relataram estar entendendo pouco (51,3% das meninas e 44,1% dos meninos), e 15,8% disseram não estar entendendo nada (17,4% das meninas e 14,1% dos meninos).  

Os mais velhos têm mais dificuldades no entendimento do conteúdo das aulas à distância. Apenas 1 em cada 4 adolescentes de 16-17 anos relatou estar entendendo tudo ou quase tudo das aulas presenciais.

Pesquisa de Comportamentos​

A pesquisa foi realizada por meio de um questionário autopreenchido pelo adolescente por meio de celular ou computador com acesso à internet, após autorização do responsável.  

Todas as respostas foram anônimas e sem qualquer outro tipo de identificação dos participantes. 

O convite aos participantes foi feito por um procedimento de amostragem em cadeia. 

Na primeira etapa, os pesquisadores do estudo escolheram pais de adolescentes de diferentes estados brasileiros para iniciarem o processo.

Após preencher o questionário, os adolescentes convidavam outros jovens pelas redes sociais, compondo a cadeia de recrutamento.  

Adicionalmente, a equipe de coordenação da pesquisa entrou em contato com escolas públicas e privadas, e secretarias estaduais e municipais de educação, por meio de e-mail institucional. 

As instituições que aderiram à pesquisa enviaram os questionários eletrônicos para os alunos.


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