Distúrbios alimentares começam ainda na infância, aponta estudo

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 28 de novembro de 2018 às 17:01
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:11
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O número de crianças que apresentam esses distúrbios considerados de adolescentes é maior do que se imaginava

Apesar de ser
considerado um problema adolescente, os transtornos
alimentares podem surgir na infância. Aliás, o número de
crianças que apresentam esses distúrbios é maior do que se imaginava.

Segundo um estudo
publicado na revista JAMA Pediatrics, a
incidência de anorexia e compulsão alimentar pode ser até 14 vezes maior do que
os dados divulgados por pesquisas anteriores.

Outro
dado interessante é que, nessa fase, o número de meninas e meninos afetados é
semelhante. Enquanto na puberdade e na idade adulta, os transtornos alimentares
são mais comuns no sexo feminino. Esse informação surpreende, pois existe uma
crença geral de que anorexia
e bulimia são “problemas de menina”, quando, na
verdade, também afetam o sexo masculino desde muito cedo.

Para Aaron Blashill, que liderou a pesquisa, o
principal motivo para essa aparição precoce é o fato de que as crianças estão
mais suscetíveis a apresentar transtornos
psicológicos, como ansiedade
e depressão, que podem desencadear ou piorar os
sintomas de distúrbios alimentares. Um estudo anterior realizado pela
Universidade Columbia, nos Estados Unidos, já havia apontado que comorbidades
psiquiátricas na infância estão amplamente associadas ao desenvolvimento de
outras doenças psicológicas.

Outra explicação para o fenômeno pode estar
relacionada aos padrões de beleza e ao conceito de felicidade. Um levantamento
feito em 2014 pela Secretaria de
Estado da Saúde de São Paulo mostrou que 46% das meninas entre 10 e 24 anos
acreditam que pessoas magras são mais felizes. Essa mesma pesquisa mostrou que
77% das jovens paulistas estão propensas a desenvolver distúrbios alimentares.
Diante disso, é necessário que os pais e médicos fiquem atentos aos primeiros
sinais para conseguir evitar que o problema se agrave. 

Primeiros sintomas

Um estudo publicado no passado, realizado por
pesquisada da Universidade Newcastle, no Reino Unido, mostrou que crianças que
apresentam dismorfia corporal
– problema em que o indivíduo tem uma imagem distorcida e crítica do próprio
corpo – tendem a manifestar sintomas sutis aos nove anos de idade. Para até 60%
das meninas, essa idade pode cair para seis anos.

Se os sintomas
não forem notados nesta fase, é possível que ao chegar aos 12 anos as crianças
já tenham desenvolvido uma condição mais grave, o que pode dificultar o
tratamento. 

Por causa disso, os pesquisadores envolvidos no novo estudo
ressaltaram que os adultos precisam aprender a reconhecer os sinais precoces do
problema para evitar graves consequências. “Os
pais devem tentar ser discretamente conscientes do comportamento alimentar dos
filhos em relação à comida. Eles
frequentemente falam sobre fazer dieta? Parecem preocupados com a gordura
do corpo ou têm vergonha da própria aparência? E
sses
pensamentos podem ir e vir rapidamente, mas quando surgem ao mesmo tempo e não
vão embora, os pais não devem hesitar em discutir suas preocupações com um
médico.”, alertou Elizabeth Evans, principal autora da pesquisa anterior, ao Daily Mail

Novas descobertas

Para chegar aos novos dados, a equipe da
Universidade de San Diego, nos Estados Unidos, analisou mais de 4.500 crianças
entre 9 e 10 anos que participaram do estudo de Desenvolvimento Cognitivo do
Cérebro Adolescente (ABCD) em 2016 e 2017. Os distúrbios avaliados incluíam
anorexia nervosa, bulimia nervosa e compulsão alimentar. Outros transtornos
menos comuns foram agrupados em uma mesma categoria. O diagnóstico de
transtorno alimentar foi determinada através do pai ou responsável.

A análise indicou que 1,4% dos participantes tinham
algum transtorno alimentar diagnosticado – esse número é 14 vezes maior em
comparação com dados divulgados anteriormente (0,1%). Deste total, 0,6% sofria
de compulsão alimentar, 0,1% tinha anorexia e 0,7% apresentou outros distúrbios
menos conhecidos. Os pesquisadores destacaram que nenhuma das crianças foi
diagnosticada com bulimia.

A equipe ainda ressaltou que o sexo só se torna um
fator de risco para alguns transtornos alimentares durante a adolescência. “Pesquisas anteriores com adolescentes entre 13
e 18 anos não encontraram diferenças sexuais na prevalência de anorexia
nervosa. No entanto, surgiram
diferenças para a bulimia nervosa e compulsão alimentar periódica, com maior
prevalência nas meninas”, explicou Blashill.

Bulimia versus anorexia

A bulimia
nervosa é caracterizada pela compulsão alimentar, seguida
de arrependimentos. Apesar de apresentar peso normal (ou mesmo sobrepeso), o
paciente tenta se livrar do que ingeriu através do uso de laxantes ou vômito
intencional. Pacientes com esse distúrbio sofrem com dor de estômago, diarreia,
tontura e fraqueza – provocados pela perda de líquidos -, além de erosão do
esmalte dos dentes – causado pela agressão do suco gástrico durante o vômito.
Esse problema é mais comum em jovens entre os 16 e 25 anos.

Já anorexia nervosa
é mais comum em adolescentes entre 12 e 18 anos,
sendo caracterizada pela perda constante de peso – com índice de massa
corporal (IMC) abaixo de 17,5 -, especialmente porque o
indivíduo come muito pouco (ou nem come) para conseguir emagrecer. Pela falta
de ingestão de alimentos, há risco de desnutrição severa que pode causar parada
cardíaca, falência de órgãos e insuficiência renal; todas essas doenças podem
levar à morte. Segundo especialistas, esse é o transtorno mental com maior
índice de mortalidade.


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