Software da Fiocruz auxilia gestores públicos a lidar com mudanças climáticas

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 28 de março de 2018 às 17:04
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:38
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Programa pode prover gestão pública com informações qualificadas que ajudem na redução dos efeitos do clima

Pesquisadores da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apresentaram na última quarta-feira, 28 de
março, em Brasília, o software Sistema de Vulnerabilidade Climática
(SisVuClima), capaz de prover técnicos, prefeitos e governadores com
informações qualificadas que auxiliem na redução de efeitos de mudanças
climáticas, protegendo, assim, a população de seus territórios de abrangência e
subsidiando decisões quanto a priorizações no orçamento.

O SisVuClima, já disponível no site do Ministério do Meio Ambiente
(MMA), inicialmente beneficia 1.020 cidades de seis estados (Paraná, Espírito
Santo, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Maranhão e Amazonas), devendo ser
estendido, posteriormente, a todo o país.

O diretor do Departamento de Políticas em Mudança do Clima do
MMA, José Domingos Miguez comentou que, em uma fase preliminar, através de um
levantamento feito pelo estado de Santa Catarina, se pôde observar que nem
sempre o orçamento municipal é condizente com as necessidades dos habitantes.
“Aumentar o gasto público nas áreas corretas significa ampliar a
resiliência da população aos fenômenos”, pontuou.

Adaptação

O coordenador do projeto, o médico e pesquisador da Fiocruz
Ulisses Confalonieri, destacou que, para que possa ser usufruído pelas demais
unidades federativas, o sistema foi feito da forma mais genérica possível,
podendo ser ancorado em qualquer contexto, independentemente de suas
características regionais. “O que a gente fez foi lançar uma metodologia
básica. Com o uso, tudo pode ser aperfeiçoado, mudado ou até simplificado,
dependendo do lugar. E o desafio era fazer alguma coisa que pudesse ser usada
tanto no Norte como no Sul do país”, afirmou.

O projeto levou
quatro anos para ser desenvolvido e custou R$ 2,8 milhões, financiados pelo
Fundo Clima, administrado pelo MMA. Quatro pesquisadores da Fiocruz compuseram
o núcleo de trabalho e optaram por fazer com que o sistema rode em um software
livre, programado em Python (linguagem de programação amigável). Embora o
público-alvo sejam os gestores, qualquer cidadão pode acessar o SisVuClima, não
sendo exigido nenhum cadastro para a entrada.

Cientes de que a transversalidade é fundamental para orientar os
gestores, os pesquisadores se basearam em 64 indicadores para construir sua
análise, incluindo aspectos ambientais, sociais, demográficos, epidemiológicos
e climáticos. No cálculo do chamado Índice Municipal de Vulnerabilidade, entram
parâmetros como o Índice de Pobreza, que retrata cenários como a percentagem de
analfabetismo, de domicílios sem saneamento e mortalidade infantil, e o Índice
de Organização Política, que traz informações quanto à existência de conselhos
e consórcios municipais que tratem da adaptação ao clima.

Bases
de dados

Bases de dados nacionais, como as do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), do Sistema Único de Saúde (DataSUS), do
Ministério do Trabalho e do Sistema Firjan, foram aproveitadas pelos
pesquisadores, que também organizaram, durante meses, seminários com técnicos
locais, a fim de compreender a dinâmica inerente a cada um dos estados do
projeto piloto.

Perguntado sobre possíveis inspirações estrangeiras,
Confalonieri explicou que no exterior há prevalência de foco nas métricas
geográficas e não tanto uma preocupação em fornecer informações sobre se um
município está devidamente aparelhado ou não para enfrentar os impactos
oriundos de fenômenos climáticos. Segundo ele, os outros países não atentam
para a disponibilidade de instrumentos como a Defesa Civil, gerenciamento de
risco e infraestruturas de socorro satisfatórias, entre elas a boa cobertura de
atenção básica de saúde e leitos hospitalares suficientes.

Especializado em Epidemiologia e Doenças Transmissíveis,
Confalonieri frisou que o componente saúde foi incluído no estudo como fator
crítico, na forma do Índice de Doenças Associadas ao Clima, que reúne taxas de
incidência de leptospirose, dengue, malária, leishmaniose, esquistossomose e
hantavirose, quadros envolvendo picadas de animais peçonhentos (aranha,
serpente e escorpião) e doenças de origem infecciosa intestinal.

O secretário de Mudanças
de Clima e Florestas do MMA, Everton Lucero, ressaltou que o SisVuClima também
pode projetar o Brasil na comunidade internacional como um expoente vanguardista.
Ele afirmou que “nenhuma iniciativa é isolada, fora de um contexto
maior”, estando sempre atrelada a compromissos firmados no plano global,
como o Acordo de Paris e a Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável, das
Nações Unidas. Ele salientou que, no seu entendimento, as ações políticas e
ambientais devem estar bem atadas, já que “os mais pobres tendem a sofrer
mais”, quando uma região é atingida.


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