O jejum é realmente necessário para fazer exame de sangue? Você vai saber agora!

  • Dayse Cruz
  • Publicado em 20 de novembro de 2023 às 07:00
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A informação extraída de uma amostra de sangue nem sempre depende do que comemos nas horas anteriores

Pedidos de exame de sangue sempre vem acompanhado da orientação para jejum? Foto Freepik

 

A pessoa sai da consulta médica com um pedido de exame de sangue e agenda a coleta para o dia seguinte, às 8 da manhã. Ela é avisada que ela deve comparecer em jejum.

No dia da coleta, ela aparece com o estômago vazio e muito sonolenta (de não ter bebido nem um café) e encontra uma fila quilométrica de pessoas com seus pedidos em mãos.

Depois de meia hora de espera, nem sabe mais como se chama: tudo que quer é sair dali e tomar café da manhã de uma vez por todas.

Mas será que tudo isso é realmente necessário?

Os exames em jejum eram a norma há algum tempo, quando sempre era medido a glicose, os lipídios e costumada ser feita a contagem de células sanguíneas. E claro, se você comia um pedaço de bolo logo antes da coleta, sua glicose disparava.

Porém, nos últimos tempos, as análises se diversificaram e a informação extraída de uma amostra de sangue nem sempre depende do que comemos nas horas anteriores.

É possível medir glicose e colesterol sem jejum?

Os tipos de exames de sangue aumentaram nos últimos tempos — o que é uma boa notícia, pois significa que os médicos podem extrair mais informações de uma amostra.

A diversificação das análises, inclusive, pode nos salvar de outros exames mais invasivos (como biópsias) ou exames mais complicados e caros (como endoscopias ou ressonância magnética). A desvantagem é que isso cria confusão quanto à necessidade de jejuar.

“Como as técnicas foram mudando muito e os exames são automatizados, mudou esse conceito de necessidade de jejum para todos os exames”.

“Outro motivo que contribuiu para isso é o conhecimento da fisiologia do corpo porque não há necessidade de fazer jejum para um exame que não será alterado pela alimentação”, explica a endocrinologista Rosita Fontes, do laboratório Sérgio Franco, da Dasa.

Se analisarmos os diferentes tipos de exames de sangue um por um, descobrimos que, no Brasil, a maioria não requer jejum.

“Tem apenas um exame que ainda precisa de um jejum prolongado de 8 horas, por determinação internacional, que é a dosagem de glicose, para o diagnóstico de diabetes”, afirma o médico Nairo Masskazu Sumita, patologista clínico do Fleury Medicina e Saúde.

Por outro lado, surgiram soluções para possibilitar o diagnóstico da doença sem a necessidade de jejum.

Trata-se de um exame chamado hemoglobina glicada ou hemoglobina A1c (HbA1c), que ao contrário do exame de glicose, que avalia os níveis de açúcar no sangue naquele momento, o HbA1c analisa a variação dos níveis de glicose nos 90 dias anteriors à coleta.

Em 2001, a Organização Mundial de Saúde (OMS) concluiu que a HbA1c poderia ser usada para diagnosticar diabetes tipo II. Mas como isso funciona?

Acontece que a glicose que circula no sangue se liga à hemoglobina das hemácias, gerando, justamente, a HbA1c.

Como os glóbulos vermelhos têm uma vida média de 2 a 3 meses, níveis elevados desse tipo de hemoglobina indicam que a pessoa apresenta níveis elevados de glicose no sangue há muito tempo. E isso é muito mais significativo do que uma medição específica.

Outra dúvida é em relação ao exame de colesterol, também chamado de perfil lipídico. Sumita explica que esse exame era o grande responsável pela necessidade do famoso jejum de 12 horas antes da realização de exames de sangue.

“O perfil lipídico é a análise do colesterol total e suas frações, que são o “HDL colesterol”, que é o colesterol bom, o “LDL colesterol”, que é o colesterol ruim, e o triglicérides”.

“Além de um parâmetro chamado “não HDL colesterol”. O triglicérides variava muito com a alimentação e era o parâmetro que exigia o jejum de 12h”, diz o médico.

No entanto, em 2016, isso mudou. Diante de novas evidências científicas, várias sociedades médicas brasileiras estabeleceram valores de referência para o triglicérides em exames feitos com jejum e sem jejum de 12 horas.

“A partir daí, passou a se exigir mais a necessidade de jejum prologado para uma série de outros exames”, pontua Sumita.

Entretanto, isso não é um consenso no mundo todo e existem muitos países, como a Espanha, nos quais ainda se exige jejum de 9 a 12 horas para a realização do painel lipídico.

Confira abaixo outros exames de sangue comumente realizados e se há necessidade de jejum ou não:

Glicose: necessidade de jejum de 8 horas.
HbA1c: sem necessidade de jejum.
Perfil lipídico: pode ser realizado sem jejum. Mas, em alguns casos, o médico pode solicitar a realização desse exame com jejum de 12 horas.
Ferro: pode ser realizado sem jejum. Mas, em alguns casos, o médico ou o laboratório podem solicitar jejum de 3h a 8h. Preferência por realizá-lo pela manhã.
Vitamina B12: pode ser realizado sem jejum. Mas, em alguns casos, o médico ou o laboratório podem solicitar jejum de 3h a 8h.
Testosterona: pode ser realizado sem jejum. Mas, em alguns casos, o médico ou o laboratório podem solicitar jejum de 3h a 8h. Preferência por realizá-lo pela manhã.
Função renal: sem jejum.
Função da tireoide: sem jejum.
Fígado (GGT): tempo de jejum pode variar de 3h a 8h, a depender do laboratório.
Marcadores tumorais como PSA, CEA, AFP, CA125, CA19.9 etc: sem necessidade de jejum.
Testes genéticos: sem necessidade de jejum.
Hemograma: sem necessidade de jejum.

Análise, melhor de manhã?

Outra preocupação, caso não seja regulamentado o horário em que se pode ir para a análise, são as variações ao longo do dia dos parâmetros a serem medidos.

De acordo com um estudo minucioso realizado com 24 homens saudáveis, extraindo sangue a cada 3 horas durante um ciclo completo de 24 horas, foram observadas flutuações significativas em vários parâmetros que normalmente são solicitados em um exame de sangue.

Assim, observou-se que potássio, sódio, creatina quinase, bilirrubina, lactato desidrogenase, ácido úrico e outros oscilam significativamente ao longo do intervalo de 24 horas.

Apenas alguns, como o magnésio ou a creatinina, não variam significativamente. Por isso, enquanto alguns exames, como o perfil lipídico, podem ser realizados a qualquer hora do dia, sem prejuízo para a interpretação dos resultados, outros, precisam ser realizados pela manhã, como a análise dos níveis de testosterona, ferro e cortisol.

Portanto, o melhor é conversar com seu médico sobre a necessidade de jejum ou não na realização dos exames e, de preferência, realizá-los no período da manhã.

Outro ponto importante é buscar fazer os exames de rotina sempre na mesma faixa de horário, dado que alguns parâmetros podem variar ao longo do dia e isso pode atrapalhar a interpretação dos resultados.

*Informações O Globo

 


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