Metade das mulheres brasileiras passou a cuidar de alguém na pandemia

  • Bernardo Teixeira
  • Publicado em 9 de agosto de 2020 às 14:50
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 21:05
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Para 72% das ouvidas, aumentou a necessidade de monitoramento e companhia

Metade das mulheres brasileiras passou a cuidar de alguém na pandemia. A conclusão é de pesquisa que analisou os impactos da disseminação do novo coronavírus (covid-19) tendo como foco as mudanças no trabalho e na inserção econômica das brasileiras. 

Entre as mulheres do campo, o índice das que passaram a cuidar de alguém sobe para 62%. Entre as negras o percentual é de 52%, enquanto entre as brancas ficou em 46%.

O estudo, realizado pelas organizações Gênero e Número e Sempreviva Organização Feminista (SOF), identificou variações nesse fenômeno. 

Para 72% das ouvidas, aumentou a necessidade de monitoramento e companhia. É o caso de quem possui demanda de cuidar de crianças, idosos ou pessoas com deficiência. O texto alerta que essa é uma dimensão do cuidado que muitas vezes fica inviabilizada por não se tratar de uma atividade específica, mas ocorre em paralelo às outras ocupações das mulheres, como o trabalho.

A pesquisa revelou que para 40% das consultadas a pandemia colocou a sustentação da casa em risco, índice elevado para 63% no caso das mulheres em ambientes urbanos. Do universo pesquisado, 16% disseram estar em casa sem trabalho.

A percepção alcançou patamar maior entre as negras (55%), que também conformam 58% das desempregadas (contra 39% das brancas). Em consequência, esse é o segmento com maior percentual de pessoas trabalhando por conta própria.

Entre as entrevistadas, 41% informaram ter continuado o trabalho durante a pandemia, com maior carga de tarefas. Entre brancas e negras, os percentuais foram, respectivamente, de 55% e 44%.

O estudo apontou que 8,4% das ouvidas manifestaram ter sofrido alguma forma de violência durante a pandemia. Entre as que estão na faixa de renda mais baixa, o índice sobe para 12%.

Entre as negras, as práticas violentas mais comuns são o ato de trancar em casa, bater ou espancar deixando marcas e quebrar coisas ou rasgar roupas. Já entre as brancas, as práticas mais citadas foram o controle sobre as atividades e comportamentos e a desqualificação sexual, sugerindo que procurariam outras mulheres.

A ampliação e intensificação da violência doméstica durante este período foi percebida por 91% das mulheres ouvidas. A pesquisa ouviu 2.614 mulheres em abril e maio. Os índices foram ajustados para aproximá-los de uma estimativa da composição da população brasileira.


+ Cotidiano