Faz um ano que morreu em Batatais o bispo que enfrentou o regime militar de 1964

  • Nene Sanches
  • Publicado em 7 de agosto de 2021 às 10:00
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Religioso catalão ficou conhecido internacionalmente por sua luta pelos direitos humanos, pela defesa da Amazônia e pela oposição aos militares

O bispo emérito dom Pedro Casaldáliga morreu no dia 8 de agosto de 2020, aos 92 anos, em Batatais

Em 08 de agosto de 2020, Pedro Casaldáliga, Bispo Emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia, Mato Grosso, Missionário Claretiano que foi cuidado pela Ordem de Santo Agostinho (Agostinianos) após ter sido jubilado, faleceu na Santa Casa de Batatais (SP).

Pedro, como gostava de ser chamado, foi um homem à frente do seu tempo e seu legado deixou marcas profundas nas pessoas que tiveram a oportunidade de conviver com ele.

Sua trajetória missionária e pastoral evidenciou exemplos de fé e muita devoção, que fez a diferença na Igreja Católica, nos movimentos sociais e nas Organizações Não Governamentais deixando muitas histórias por onde passou.

Sua morte também causou profundo pesar em todos que foram assistidos por ele ou em quem conhecia sua luta a favor dos menos favorecidos.

Missionário

Pedro Casaldáliga foi sepultado em São Félix do Araguaia, conforme desejo manifestado em sua vida que também foi marcada pela luta pelos menos favorecidos durante sua trajetória missionária e pastoral.

Fato reportado durante o documentário ‘O Missionário dos Pobres: caminhada e despedida de Dom Pedro Casaldáliga’, produzido pela TV Claret, em 2020, que é finalista do Prêmio de Televisão ‘Clara de Assis’, da CNBB.

O documentário está no youtube.com/tvclaret e pode ser visto aqui.

Este ano a emissora produziu um especial para registrar um ano da morte de Pedro. O acesso também pode ser feito pelo youtube.com/tvclaret e pode ser visto aqui.

Em Batatais

A Santa Casa de Batatais também faz uma homenagem ao Bispo dando nome ao seu novo auditório de Dom Pedro Casaldáliga.

Ainda sobre o exemplo deixado pelo religioso, no dia 07 de agosto, às 10h, o Claretiano – Centro Universitário de Batatais promove ao vivo a palestra on-line ‘Pedro Casaldáliga: um bispo contra todas as cercas’.

A atividade vai contar com a presença da professora e jornalista Ana Helena Ribeiro Tavares, autora da biografia “Pedro Casaldáliga: Um Bispo Contra todas as Cercas”.

Para ter acesso ao conteúdo é preciso ter este link https://claretia.no/rz6na , lembrando que, caso não dê para assistir no dia, o conteúdo ficará gravado para acesso posterior ao evento.

E, no dia 14, o Claretiano também promove a palestra on-line ‘Poesia e utopia: o sonho-esperança na obra de Pedro Casaldáliga’, com o professor Edson Flávio Santos, que é pesquisador na área de Literatura, em especial da obra de Pedro Casaldáliga.

O acesso ao conteúdo deve ser feito por este link https://claretia.no/nQLzG , lembrando que a atividade também ficará gravada após a sua realização e ambas podem ser localizadas no https://extensao.claretiano.edu.br/ .

Trajetória

Pedro Casaldáliga nasceu no dia 16 de fevereiro de 1928, em Balsareny, na província de Barcelona, na Catalunha. É o segundo filho de Montserrat Pla Rosell e Luis Casaldáliga Ribera, que tiveram quatro filhos.

Em 1943 ingressou na Congregação Claretiana, Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria e em 1952 foi ordenado sacerdote em Montjuïc, Barcelona.

Até a sua vinda para o Brasil, que se deu em 1968, trabalhou na formação de futuros missionários claretianos, com a Pastoral da Juventude e com a Pastoral do Cursilho de Cristandade.

Ao chegar no Brasil, junto com Pe. Manoel Luzón, ajudou a fundar a Missão Claretiana no Estado do Mato Grosso, que na época era uma região com um alto grau de analfabetismo, marginalização social, violência e concentração fundiária.

Direitos humanos

No estado fixou residência e foi defensor ativo dos Direitos Humanos e das grandes causas ainda não totalmente resolvidas, como as causas indígenas, racismo e a defesa da Amazônia.

Logo após sua chegada, em 1969, o Vaticano criou a Prelazia de São Félix do Araguaia, MT, e em 1970 foi nomeado administrador apostólico da Prelazia.

Já em 1971 foi nomeado Bispo Prelado de São Félix do Araguaia pelo Papa Paulo VI. Neste mesmo ano publicou a Carta Pastoral Uma Igreja na Amazônia em Conflito com o Latifúndio e a Marginalização Social denunciando a situação de miséria e violência na região Amazônica.

Com uma vida totalmente dedicada ao próximo e ajudando os mais necessitados fundou o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) com Dom Tomás Balduino e juntos criaram a Comissão de Pastoral da Terra (CPT).

Escravidão moderna

Pedro teve seu nome ligado à Reforma Agrária, à denúncia da escravidão moderna e a defesa dos povos indígenas.

Além do exercício como sacerdote, Pedro reservava parte do seu tempo à escrita. Deixou uma obra riquíssima composta por livros, poemas, cartas, cantigas e orações.

Inclusive seu livro ‘Descalço sobre a Terra Vermelha’, virou filme com a direção de Oriol Ferrer, em 2012. Além disso, ele participou do filme ‘Anel de Tucun’, em 1994; da Missa dos Quilombos, produzida pelo cantor Milton Nascimento, no ano de 1982.

Pedro Casaldáliga passou sua vida na simplicidade, em São Félix do Araguaia.

Desejo atendido

Com problemas de saúde ocasionados pelo mal de Parkinson, por pneumonia e derrame pulmonar, no dia 04 de agosto, teve seu estado agravado e foi transferido por UTI aérea do Hospital de São Félix do Araguaia a Ribeirão Preto.

Dali seguiu para Batatais em uma UTI Móvel direto para a Santa Casa, permanecendo internado até sua morte devido a uma embolia pulmonar decorrente dos problemas de saúde já apresentados.

Seu corpo foi velado em três locais em dias alternados. O primeiro foi na capela do Claretiano – Centro Universitário de Batatais, unidade educativa dirigida pelos Missionários Claretianos.

No dia 10, seguiu para Ribeirão Cascalheira, Mato Grosso, em seguida o corpo foi levado para a cidade de São Félix do Araguaia, MT, onde foi velado no Centro Comunitário ‘Tia Irene’ e sepultado no município, conforme seu desejo.


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