Estresse positivo versus estresse crônico: como recuperar o equilíbrio perdido?

  • Rosana Ribeiro
  • Publicado em 2 de junho de 2025 às 22:00
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Hoje em dia, muitas pessoas vivem em um estado de agitação crônica, caracterizado por dificuldades pessoais, excesso de trabalho e outros

Saiba a diferença entre estresse positivo e estresse crônico – foto Arquivo

 

Se você conhece o filósofo Friedrich Nietzsche ou é fã da cantora Kelly Clarkson, provavelmente já ouviu a frase: “Aquilo que não te mata, te fortalece”.

Embora possa parecer um slogan para superar momentos difíceis, também é cientificamente verdadeiro, de acordo com Jeff Krasno, autor do recém-lançado “Good Stress: The Health Benefits of Doing Difficult Things” (“Estresse Bom: Os Benefícios para a Saúde de Fazer Coisas Difíceis”).

“O estresse promove resiliência e bem-estar a longo prazo. O segredo é distinguir entre estresse bom e estresse ruim e usar o primeiro a seu favor”, afirma o autor.

Para ilustrar essa diferença, Krasno oferece um exemplo: se uma pessoa estivesse caminhando e encontrasse uma cascavel no caminho, ela provavelmente experimentaria uma resposta de estresse decorrente do imperativo biológico de sobrevivência.

“O problema com o estresse moderno é que, para muitas pessoas, a cobra nunca sai do caminho”, diz ele.

Hoje em dia, muitas pessoas vivem em um estado de agitação crônica, caracterizado por dificuldades pessoais, excesso de trabalho, traumas do passado e exposição constante a algoritmos de mídia social projetados para manter o cérebro em alerta constante.

“Vivemos em uma economia da atenção, onde todos competem por atenção por meio de níveis crescentes de sensacionalismo, escândalo, medo e indignação”, explica o especialista. “Isso mantém as pessoas em um estado de estresse crônico, e é aí que o estresse se torna prejudicial”.

Mecanismos adaptativos

O estresse bom, por outro lado, vem dos desconfortos que os ancestrais humanos enfrentavam regularmente, segundo Krasno:

“A espécie humana evoluiu ao longo de centenas de milhares de anos, adaptando-se ao estresse do Paleolítico: escassez de calorias, mudanças de temperatura, imersão na natureza, vida em comunidade e exposição à luz natural”.

“Os mecanismos adaptativos a esses estressores geraram vias fisiológicas que promoveram longevidade e resiliência”.

O estilo de vida moderno eliminou a maioria desses fatores estressantes. Hoje em dia, muitas pessoas têm acesso ilimitado a calorias, levam vidas sedentárias, permanecem em espaços fechados e com temperatura controlada, longe da natureza e dependem de luz artificial, o que pode atrapalhar o sono.

Essa tendência ao conforto teve consequências. Segundo Krasno, o aumento de doenças crônicas está diretamente relacionado à eliminação de estressores saudáveis:

“Criou-se a ilusão de que é possível viver como indivíduos isolados em casas unifamiliares, consumindo serviços de entrega de comida sem limites. Desde a Revolução Industrial, e especialmente nos últimos 50 anos, um estilo de vida baseado no conforto e na conveniência foi criado”.

O estresse negativo pode ser neutralizado pela incorporação de estresse positivo em doses apropriadas. Como disse o médico suíço Paracelso, do século XVI, “só a dose faz o veneno”.

De acordo com Krasno, a quantidade certa de desconforto autoimposto — como atividade física intensa ou exposição a temperaturas extremas — pode fortalecer o corpo. No entanto, ele recomenda começar gradualmente:

“Não é recomendado que alguém que nunca tenha mergulhado no gelo o faça diretamente numa banheira a 1°C. Seria melhor começar com uma temperatura de 15°C para avaliar a reação do corpo”.

“É importante identificar o limiar de desconforto, abordá-lo e explorar o que está além, pois isso geralmente é muito benéfico”.

Desconforto positivo

“Assim como o sistema imunológico é fortalecido pela exposição moderada a patógenos, vírus e bactérias, a exposição a conversas difíceis ajuda a desenvolver o que chamo de sistema imunológico psicológico”, afirma Krasno.

Além do exercício de conexão, escuta ativa e mente aberta, essas experiências também representam uma oportunidade de crescimento pessoal. Muitas pessoas ficam presas na narrativa que constroem sobre si mesmas.

No entanto, de acordo com Krasno, a mudança é possível se você estiver disposto a superar o desconforto.

“Quando você realmente entende sua própria impermanência, você pode assumir o controle da direção da sua vida”, ele conclui.

“Aceitar o desconforto pode mudar a jornada da vida. Os seres humanos não são um produto acabado, mas um processo”.

“Nós transitamos continuamente entre a realização e a doença. Também podemos caminhar em direção à realização como parte desse processo. Temos o potencial de exercer controle sobre o destino dessa jornada”.

Fonte: O Globo


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