Condomínios de luxo, gastronomia e mais: mudanças no turismo e economia de Rifaina

  • Nina Ribeiro
  • Publicado em 13 de junho de 2022 às 21:00
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Cidade de 4 mil habitantes com praia artificial às margens de represa incrementou atrativos com expansão de condomínios e rede de serviços

Rifaina atrai investidores do mercado imobiliários e novos moradores

 

O suíço Dmitri Herbert Bottani, de 52 anos, mora no Brasil há 11 anos, sete deles em Rifaina, que escolheu como lar e local para empreender como chef de cozinha.

Hoje, ele mantém na cidade de 4 mil habitantes do interior de São Paulo dois restaurantes, um com sushi e parrilla argentina entre as opções, outro inspirado nas gastronomias brasileira e mediterrânea, em um espaço com vista para as águas do Rio Grande.

A pelo menos 550 quilômetros do litoral paulista, iniciativas como a do empresário se somam a atividades como abertura de condomínios de alto padrão e beach clubs que, nos últimos anos, consolidaram o município a 65 quilômetros de Franca como um destino preferencial, e não mais alternativo, para quem busca descanso e lazer.
Isso não só de moradores da região, mas também de pessoas de outros estados.

“Um caso raro no Brasil de cidade com alta qualidade de vida. Um lugar perfeito pra morar e passar férias com a família, evitando viagens longas até o litoral”, afirma o chef suíço.

Um movimento que direta ou indiretamente contribui, segundo a Secretaria Municipal de Turismo, para 60% das riquezas geradas pelo município, que teve a história transformada no final dos anos 1960, quando a antiga cidade foi alagada para a abertura da represa da Usina Hidrelétrica de Jaguara.

Em 2005, quando essa vocação para o turismo começava a ganhar forma com a primeira transformação da orla e a praia artificial, eram quatro restaurantes e lanchonetes em funcionamento. Hoje, são ao menos 14. As cerca de cinco marinas existentes naquela época saltaram para 12.

Somam-se a isso empreendimentos imobiliários que sintetizam um interesse crescente em viver ou passar uma temporada na cidade.

A estimativa é de que haja em aprovação em torno de duas mil unidades habitacionais, entre apartamentos em edifício de alto padrão, casas e terrenos em loteamentos fechados, segundo o subdelegado regional do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci) em Franca, Marcos Antonio Parra.

“O antigo ia para explorar, para pescar, trazer o peixe para família. (…) Hoje, a pessoa quer o mesmo luxo que tem em casa. A mesma acomodação que tem na cidade ele quer que tenha nesses lugares, e isso o mercado imobiliário enxergou”, afirma.

O alagamento da antiga cidade e o turismo de Rifaina

Rifaina é uma das cidades de menor população da região de Ribeirão Preto e fica na divisa com Sacramento, em Minas Gerais.

Às margens do Rio Grande, o município de 4 mil habitantes ganhou, em 1968, uma represa para a construção da Usina Hidrelétrica de Jaguara.

O lago de 33 mil metros quadrados, que esconde as primeiras ruas e casas da localidade, tornaria-se, ao longo dos anos, um importante atrativo turístico, seja pelo interesse por esportes náuticos, seja pela pesca e pelo banho, na prainha artificial que seria criada anos mais tarde.

Cidade com ‘cara’ de litoral

Comerciantes de Rifaina deverão seguir normas de segurança

Rifaina é uma cidade com ‘cara’ de litoral

 

Atrativo simbólico dessa vocação turística, a orla de Rifaina passou por sua primeira reforma em 2005, seguida pelo calçadão, a partir de 2007.

Mas, com recentes intervenções, os representantes locais garantem que quem curte essa praia do interior de São Paulo, mais do que em outras similares, tem a sensação de estar no litoral, dos quiosques às palmeiras e à areia fina de construção, trocada todos os anos. A exceção é a água para o banho, que não é salgada.

Na orla, com ao menos 14 lanchonetes e restaurantes, há ainda espaços como o teatro de arena, de 1996, mas reformado em 2014.

“Você tem a areia, as palmeiras, os comércios, os ambulantes na orla da praia, tudo isso. Você tem os restaurantes e lanchonetes com as porções que você quiser, seja de peixe, batata, você tem os comércios que atendem lá na praia, o aluguel de barcos para passeio, de tendas, aluguel de cadeiras”, explica o secretário municipal de Turismo, Cláudio Massom.

Dos ranchos aos condomínios de alto padrão

A formação do lago movimentou, em um primeiro momento, a incorporação e vendas de ranchos, entre 10 mil e 100 mil metros quadrados, procurados principalmente por amantes da pesca, explica Parra.

“Foi depois virando também a mudança desse rancho de pescaria pra confraternizar com a família, com os amigos.”

Mas, principalmente depois de 2010, novos empreendimentos passaram a imprimir um conceito diferente ao mercado imobiliário, em que as famílias não só buscavam contato com a natureza, como também a segurança e a comodidade de um condomínio fechado, com portaria 24 horas, áreas de convivência e outras comodidades.

A cidade também ganharia mais projeção como um destino para festas de fim de ano, incluindo réveillons de luxo.

“As pessoas já não queriam mais ter áreas grandes para cuidar, porque tem a despesa daquele cuidado, e sim ter um lote generoso, mas na faixa de 500, 700 metros quadrados em que ele pudesse construir sua casa, ter o conforto da sua casa e estar perto desse lago pra praticar os seus esportes náuticos”, diz.

Hoje, o município tem capacidade de receber, ao mesmo tempo, em torno de 3 mil pessoas em hotéis, pousadas, apartamentos, ranchos e casas.

Expansão imobiliária

Esse processo começou no início dos anos 2000 e ficou mais intenso a partir de 2010.

Hoje, resulta em ao menos dois edifícios residenciais em funcionamento, de até 21 andares, os únicos construídos na orla da praia antes da atualização do Plano Diretor, que agora proíbe novos empreendimentos desse tipo – , além de quatro condomínios de casas de alto padrão, às margens do Rio Grande, segundo informações da Prefeitura.

Além dos empreendimentos já inaugurados, há pelo menos outros três prédios em construção – um deles próximo de ser inaugurado -, mais nove loteamentos aprovados, que comportam entre 50 e 600 lotes, em fase de vendas e preparação de infraestrutura, e outros seis em aprovação.

“Um dos motivos principais foi o de que o nível da represa de Jaguara não oscilar e assim não baixar os níveis d’água cerca de 15 a 20 metros nas suas cotas de inundação, como nas demais represas do Complexo de Furnas, tanto a montante como a jusante”.

“Outro fator é a localização de Rifaina, por se encontrar num raio de 150 quilômetros, próxima de cidades como Ribeirão Preto, Franca, Uberaba, Araxá e demais cidades da região, servida por acessos rodoviários de boa qualidade”, afirma o empresário e engenheiro civil Amir Choaib, que atua no mercado imobiliário há mais de 20 anos.

Com o metro quadrado cotado em R$ 7,5 mil, um dos edifícios em construção terá 411 apartamentos em um espaço com comodidades como heliponto e marinas, tudo planejado para proporcionar a sensação de férias tanto a proprietários quanto a visitantes que aluguem os imóveis.

“Eles vão ter um beach club muito grande com piscinas, quadras. Vai ser um complexo de lazer muito grande”, afirma Massom.

Ao mesmo tempo em que os imóveis estão sendo lançados, há uma valorização no metro quadrado, que não fica abaixo dos R$ 700.

Um apartamento de alto padrão que há quatro anos era vendido a R$ 700 mil na orla, por exemplo, hoje vale em torno de R$ 1,4 milhão.

Um dos fatores que ajudaram na expansão do interesse por Rifaina foi a pandemia, que mudou hábitos e fez muita gente preferir centros menores e mais próximos da natureza, diante da possibilidade de trabalhar em sistema home office.

“Sabemos de famílias que vieram de São Paulo se instalar em Rifaina, alugaram rancho ou compraram casa em condomínio”, diz Parra, do Creci.

*Informações G1

 


+ Cidades