Guerra de narrativas: celebrar número de recuperados ou lamentar as mortes por Covid

  • Robson Leite
  • Publicado em 26 de julho de 2021 às 06:30
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O fato de existir muitos recuperados de Covid é consequência de ter existido muita gente infectada, o que já é má notícia por si só

O Brasil se aproxima dos 550 mil mortos em decorrência da epidemia, enquanto curados ultrapassam a marca dos 18 milhões.

Ainda é cedo para cravar, mas estudos já apontam que até 30% dos pacientes ficam com sequelas depois de uma infecção pelo coronavírus.

Além disso, médicos, autoridades e especialistas dizem que o sistema de saúde do Brasil terá um desafio inédito pela frente.

A questão já está vindo à tona desde o início da pandemia. Começou com o Ministério da Saúde enaltecendo uma obviedade: que o número de curados de covid-19 é maior do que o número de mortos pela doença.

A CPI da Pandemia escancarou essa questão, com governistas exibindo plaquetinhas com o saldo total dos considerados recuperados, enquanto parlamentares da oposição costumam mostrar a quantidade de mortos.

Mortos x curados

Atualmente, de acordo com dados oficiais, o Brasil se aproxima dos 550 mil mortos em decorrência da epidemia, enquanto curados ultrapassam a marca dos 18 milhões.

Em dois momentos recentes, o debate ganhou contornos midiáticos. Em depoimento à CPI, a microbiologista Natalia Pasternak, fundadora do Instituto Questão de Ciência, atentou para o fato de que celebrar os curados é lembrar de uma doença que traz “dor, sofrimento e sequelas”.

Na mesma toada, o epidemiologista Pedro Hallal, pesquisador na Universidade Federal de Pelotas, afirmou à CPI que exaltar o número total de recuperados seria algo semelhante a comemorar o gol da seleção brasileira no fatídico jogo em que o Brasil perdeu de 7 a 1 para a Alemanha, na Copa de 2014.

“O intuito do meu comentário é frisar o fato de que existir muitos recuperados é consequência de ter existido muita gente infectada, o que já é má notícia por si só”, comenta Hallal à DW Brasil, portal em português da agência oficial de notícias da Alemanha.

Intolerável

“É importante ter esse dado de recuperados, monitorá-lo, até para futuras análises se essas pessoas apresentam algum tipo de sequela”, diz a biomédica Mellanie Fontes-Dutra, coordenadora da Rede Análise Covid-19.

Outros dados como a taxa de crescimento de casos e óbitos diários são mais informativos.

Além disso, se existe um grande número de recuperados, é porque existiu um grande número de pessoas infectadas pelo coronavírus.

“E com um grande número de pessoas infectadas, infelizmente, vemos também um número intolerável e exacerbado de óbitos pela doença”, conclui ela.


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