Cirurgiã-dentista explica como o bruxismo, que afeta o sono, pode ser tratado

  • Robson Leite
  • Publicado em 13 de março de 2024 às 18:00
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O bruxismo diurno ou de vigília, que começou a ser estudado há menos tempo, vem mostrando prevalência semelhante ao noturno

Uma boa noite de sono reflete na saúde e na qualidade de vida. Contudo, algumas doenças e problemas comprometem esse período de repouso. Além de noites mal dormidas, condições como o bruxismo do sono podem prejudicar a rotina e causar consequências a curto e longo prazo.

O Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) chama a atenção para esse quadro bastante comum: estima-se que 15% da população mundial e também brasileira apresente o bruxismo do sono, sendo que a maior prevalência é em mulheres (65%), na vida adulta. Mas, afinal, o que é o bruxismo do sono?

O que é

O bruxismo do sono é um distúrbio complexo e multifatorial cuja origem não é completamente compreendida. Ele se caracteriza pelo ranger ou apertar dos dentes durante a noite.

De acordo com a cirurgiã-dentista e especialista em Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial, Dra. Paula Cristina Machado, os possíveis fatores que causam o bruxismo do sono podem ser divididos em periféricos (morfológicos) e centrais (patológicos e psicológicos).

“Os fatores morfológicos são aqueles relacionados principalmente à oclusão ou ‘mordida’; eles têm um papel menor na origem do bruxismo do sono, já os fatores patológicos e psicológicos (ansiedade e depressão) têm maior importância. São também considerados causadores do bruxismo do sono: fatores genéticos; estresse emocional; uso de algumas drogas (cafeína, álcool, cocaína e tabaco); algumas medicações (inibidores seletivos da recaptação de serotonina, anfetaminas, benzodiazepínicos e drogas dopaminérgicas) e doenças neurológicas, como o mal de Parkinson.”

Consequências do bruxismo para a saúde geral e oral

No âmbito da saúde geral, o bruxismo afeta a qualidade do sono, especialmente quando associado à apneia e despertares durante a noite. Em casos extremos, pode impedir que o indivíduo chegue ao estado de sono profundo, prejudicando sua produtividade durante o dia.

Além disso, pode ocorrer a interrupção constante do fluxo do sono, levando o paciente a despertar várias vezes durante a noite, muitas vezes devido à dor na face ou na cabeça decorrente do bruxismo.

No contexto da saúde bucal, o ranger dos dentes gera complicações, principalmente relacionadas aos dentes, como fraturas, fissuras, desgastes e dor de dente (canal), além de movimentação dentária e inflamações na gengiva. Algumas dessas condições podem até levar à perda total do dente.

“O apertar dos dentes e outros hábitos parafuncionais como roer unha e mascar chicletes levam principalmente à dor muscular, manifestando-se ao mastigar, ao abrir e fechar a boca, na região das têmporas (músculos da mastigação – masseter e temporal – causando dor de cabeça) e na região da articulação temporomandibular (ATM), podendo resultar em disfunção articular na ATM”.

Conhecimento científico

O bruxismo do sono requer frequentemente um tratamento multidisciplinar. Dra. Paula esclarece que o cirurgião-dentista especialista em Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial é o profissional capacitado para promover o tratamento com base em conhecimentos científicos para a compreensão do diagnóstico e no tratamento de dores e distúrbios do sistema da mastigação, região orofacial e outras estruturas relacionadas, incluindo o bruxismo.

“Porém, é importante lembrar que o bruxismo, em algumas situações, requer a avaliação completa dos sintomas com uma equipe multidisciplinar, que inclui cirurgiões-dentistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e psicólogos, para avaliar as causas e intervenções em cada área de atuação”.

O mais comum

Bruxismo do sono é atualmente considerado o tipo mais comum de bruxismo. No entanto, segundo a cirurgiã-dentista, o bruxismo diurno ou de vigília, que começou a ser estudado há menos tempo, vem mostrando prevalência semelhante.

“Temos, portanto, o bruxismo noturno ou do sono e o bruxismo diurno ou de vigília. Em geral, o ‘ranger’ acontece mais durante o bruxismo noturno e o ‘apertar’, no diurno. É importante ressaltar que o simples encostar dos dentes já caracteriza o bruxismo, uma vez que apenas encostamos os dentes no final da mastigação e deglutição”.

Tratamentos disponíveis

A especialista esclarece que o bruxismo não tem cura, mas pode ser controlado por meio de vários tipos de intervenções, incluindo o tratamento cognitivo-comportamental.

“O tratamento cognitivo-comportamental promove a mudança de hábitos que são parafuncionais (ações frequentes realizadas pelas pessoas, mas sem uma função essencial reconhecida), como apertar os dentes, mascar chicletes, roer as unhas, entre outros. Por meio dele, são utilizados durante o dia recursos de autogestão e relaxamento”.

Além do tratamento cognitivo, existem recursos como as placas estabilizadoras para o sono, os dispositivos para bruxismo de vigília, ultrassom, fisioterapia e a toxina botulínica A.

Dra. Paula orienta que as pessoas procurem sempre um cirurgião-dentista especialista em DTM/DOF (Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial) para indicar o melhor tratamento.

Sobre o CROSP

O Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) é uma autarquia federal dotada de personalidade jurídica e de direito público com a finalidade de fiscalizar e supervisionar a ética profissional em todo o Estado de São Paulo, cabendo-lhe zelar pelo perfeito desempenho ético da Odontologia e pelo prestígio e bom conceito da profissão e dos que a exercem legalmente.

Hoje, o CROSP conta com mais de 175 mil profissionais inscritos. Além dos cirurgiões-dentistas, o CROSP detém competência também para fiscalizar o exercício profissional e a conduta ética dos Técnicos em Prótese Dentária, Técnicos em Saúde Bucal, Auxiliares em Saúde Bucal e Auxiliares em Prótese Dentária.


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