Calçadistas pedem ao Ministério de Relações Exteriores a tarifa externa antidumping

  • Cláudia Canelli
  • Publicado em 19 de setembro de 2021 às 10:00
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A entidade alerta que, com o Custo Brasil de hoje, a abertura comercial irrestrita geraria uma crise sem precedentes na indústria nacional.

Reunião de representantes calçadistas no Ministério das Relações Exteriores

Calçadistas da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) e o ministro do Ministério das Relações Exteriores (MRE), embaixador Carlos Alberto Franco França, se reuniram na sexta-feira (17) em Brasília.

O tema da reunião foi o pedido de manutenção da Tarifa Externa Comum do Mercosul (TEC) para calçados importados da Ásia e o processo de renovação e ampliação do antidumping contra produtos chineses, vietnamitas e indonésios.

A reunião contou ainda com as presenças de alguns dos presidentes das maiores empresas de calçados do Brasil, Vulcabras e Beira Rio.

Na oportunidade, o presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, destacou o potencial da indústria brasileira de calçados, hoje a quinta maior produtora mundial do setor, a maior fora da Ásia.

340 mil postos de trabalho

Destacou, ainda, o potencial empregador da atividade, que contando com a cadeia de fornecimento soma mais de 340 mil postos de trabalho diretos no País.

“A indústria calçadista brasileira é forte e tem condições de disputar com qualquer outra do planeta. O que prejudica o desenvolvimento é o nosso custo produtivo, muito mais elevado do que o praticado nos principais concorrentes, especialmente nos países asiáticos”, disse.

Segundo dados levantados pela Abicalçados, a produtividade por trabalhador no Brasil é de 3.090 pares de calçados por ano, enquanto na Indonésia é 1.924 e no Vietnã é 890.

Por outro lado, o custo por funcionário é muito maior no País, 69% superior ao praticado na Indonésia e 76% superior ao praticado no Vietnã.

“Isso com o dólar elevado e com a desoneração da folha de pagamentos”, ressaltou Ferreira, frisando ainda os altos encargos sobre o salário no Brasil – que chegam a 62,7%, enquanto na Indonésia é 15,5% e no Vietnã 25,5%.

Precarização

Não são somente os tributos que tornam o Brasil muito mais caro do que os países asiáticos. Ferreira comentou que existe uma precarização do trabalho na Indonésia e no Vietnã.

“No Brasil, 52% das convenções estabelecidas pela Organização Mundial do Trabalho são ratificadas. Na Indonésia esse número cai para 11% e no Vietnã 13%”.

“Os dois países asiáticos, continua Ferreira, também possuem acesso a insumos com valores bem inferiores aos brasileiros, que são 54% mais caros do que na Indonésia e 41% mais caros do que no Vietnã”.

O dirigente da Abicalçados ressaltou que a entidade se posiciona a favor do livre mercado, mas que não pode tolerar a concorrência desleal que coloca em risco a atividade e com ela milhares de empregos no Brasil.

“Por isso, estamos alertando sobre a importância de manutenção da TEC para produtos importados do Vietnã e da Indonésia, bem como o prosseguimento do antidumping aplicado contra o calçado chinês – hoje em US$ 10,22 por par – e a abertura de um novo processo contra Vietnã e Indonésia”, concluiu Ferreira.

Entenda

De orientação liberal, o Governo Federal defende o fim gradual das tarifas de importação, algo que a Abicalçados vem alertando que só poderia ocorrer com a redução dos custos produtivos praticados no Brasil.

A entidade alerta que, com o Custo Brasil de hoje, a abertura comercial irrestrita geraria uma crise sem precedentes na indústria nacional.

Além do contraponto à redução da TEC para produtos asiáticos, a Abicalçados está trabalhando para a renovação do antidumping atualmente aplicado contra o calçado chinês, que venceu neste ano.

Também trabalha com a abertura de um novo processo de sobretaxa contra o produto importado do Vietnã e Indonésia, países que hoje respondem por mais de 60% dos calçados importados comercializados no Brasil.


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