Quantos cachorros-quentes uma pessoa consegue comer? A ciência responde

  • Rosana Ribeiro
  • Publicado em 19 de julho de 2020 às 02:58
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:59
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Pesquisadores usaram modelagem matemática para calcular o número que uma pessoa poderia comer

É uma pergunta que todos nós já fizemos algum dia, seja entre nossos respeitados colegas acadêmicos ou enquanto estamos brisando no chuveiro.

Quantos cachorros-quentes você acha que poderia comer de uma só vez? Quer dizer, se você tivesse que fazer isso?

Felizmente, a ciência já forneceu uma resposta. 

Os pesquisadores analisaram 39 anos de dados do concurso anual Nathan’s Famous Coney Island Hot Dog Eating Contest e, usando modelagem matemática, calcularam o número máximo de cachorros-quentes que uma pessoa poderia comer durante os 10 minutos de duração do concurso. 

O novo estudo foi publicado sexta-feira (17) na revista Biology Letters.

A resposta, ao que parece, é 84.

Fisicamente (e provavelmente mentalmente) falando, os pesquisadores concluíram que seria improvável que alguém pudesse superar esse valor. 

O atual recorde mundial é de 74, um limite definido pelo grande campeão Joey Chestnut no evento de Coney Island deste ano.

O limite teórico de 84 cachorros-quentes traz muitas, muitas perguntas. 

Quais são as limitações? É isso o quanto de comida um estômago humano pode conter, ou essa quantidade tem mais a ver com a questão de mastigar e engolir? Se pudéssemos torcer a mandíbula como uma cobra píton, esse número aumentaria?

James Smoliga, autor do estudo, tem as respostas. Smoliga é professor no departamento de fisioterapia da High Point University.

Como fisiologista que estuda ciências do esporte, ele está interessado nos limites do desempenho.

Estuda, por exemplo, a velocidade que os humanos podem atingir, até onde podem ir, quantas tubos de carne processada (ou seja, salsichas) podem forçar esôfago abaixo em um determinado prazo, esse tipo de coisa.

“A pessoa comum provavelmente teria um problema de capacidade estomacal”, contou o professor. 

“Mas os comedores competitivos treinam especificamente para expandir seus estômagos. Portanto, para os principais competidores, provavelmente são a mastigação e a ingestão dentro de um prazo que determinam esse limite”.

Comer tantos cachorros-quentes – 74, o recorde atual, é aproximadamente equivalente a 21 mil calorias – “provavelmente alteraria a função gastrointestinal normal e saudável”, afirmou o estudo.

“Não há muita pesquisa sobre consumidores competitivos, mas o que sabemos é que indivíduos obesos e aqueles com transtornos de compulsão alimentar têm tipos semelhantes de fisiologia”.

“Eles podem ter mais comida no estômago que os demais, o que pode atrapalhar as sensações mentais de plenitude”.

Segundo ele, há também o problema de conduzir todo aquele tráfego de comida vinda de uma grande rodovia com todas faixas cheias (o estômago expandido) para a saída menor (do intestino grosso). 

Quando os estômagos são esticados, através de treinamento ou de outra condição, os alimentos passam mais tempo se esvaziando no intestino. 

Se ele não está acostumado a ser tão sobrecarregado, bem, a tal “alteração gastrointestinal” é provavelmente a maneira mais educada e menos dolorosa de expressar o resultado.

O professor conta que fez a pesquisa por alguns motivos. Primeiro, ele se perguntou se o padrão de limitações físicas exibido na alimentação competitiva espelharia padrões em outros esportes, como atletismo.

“Ao olhar para os recordes e os desempenhos de uma corrida de 100 metros, por exemplo, é possível ver pequenas mudanças incrementais no desempenho”, comparou. 

“Mas, de repente, algo grande muda: ou o esporte se torna mais popular ou profissionalizado, ou há um novo medicamento ou procedimento, e os limites de desempenho aumentam”.

O estudo observou padrões semelhantes na alimentação competitiva  e sua profissionalização, por assim dizer. 

Afinal, nas primeiras décadas da competição, antes dos dias de supercampeões como Joey Chestnut e Takeru Kobayashi, os concorrentes conseguiam engolir entre 10 e 15 cachorros-quentes no mesmo período ou menor.

Além disso, Smoliga apontou que a taxa de consumo ativo (neste caso, quantos cachorros-quentes podem ser engolidos) está relacionada à plasticidade do estômago (nesse caso, quantos cachorros-quentes engolidos seu estômago acomodará). 

No estudo, ele forneceu algumas das primeiras estimativas registradas para essa taxa de consumo, calculando a composição energética total de cachorros-quentes e controlando a massa corporal dos competidores.

O estudo postulou que “consumir rapidamente grandes quantidades de alimentos pode ser ecologicamente benéfico” na natureza, pois, quando associado a taxas lentas de esvaziamento do estômago, pode diminuir o número de vezes necessário para caçar ou adquirir alimentos. 

De acordo com os resultados do estudo, a plasticidade do estômago humano parece ser semelhante à dos ursos pardos, maior que a dos coiotes e menor que a dos lobos cinzentos.

Obviamente, existem muitas diferenças a serem consideradas. Afinal, ursos e lobos cinzentos raramente têm necessidade ou oportunidade de se sentar a uma mesa e distribuir quantidades ilimitadas de alimentos processados. 

Mas, como Smoliga disse, “ainda é um tópico interessante para estudar”. 

E que pode deixar uma pessoa sem vontade de comer cachorro-quente para sempre.


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