Na crise, alta no preço da alimentação pesa ainda mais para famílias pobres

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  • Publicado em 11 de junho de 2020 às 11:34
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:50
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Pelo IPCA, houve altas de produtos, como cebola, batata-inglesa, feijão carioca e carnes

Mesmo após o segundo mês consecutivo de deflação, pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), a alta dos preços dos alimentos, de 0,24% em maio, vindo de um aumento de 1,79% em abril, indica que as famílias mais pobres terão a renda ainda mais comprometida pela pandemia.

Quando os alimentos sobem em um momento de alta de salários, esse gasto acaba amortecido pelo ganho de renda. 

No cenário atual, no entanto, a perda de dinheiro das famílias, sobretudo para as de menor renda, é expressiva e a alta dos custos de alimentação pesam ainda mais.

As famílias mais pobres gastam cerca de 22% do orçamento com alimentação, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 

E uma outra pesquisa, do Instituto Plano CDE, aponta que 50% das famílias das classes D e E, de baixa renda, perderam mais da metade da renda desde o início da crise causada pela pandemia do novo coronavírus.

Qual o cenário do aumento dos preços da alimentação? Especialista em inflação, o economista da USP (Universidade de São Paulo), Heron do Carmo lembra que há um problema de oferta de alimentos, por conta do clima mais seco e muitos produtos estão sujeitos a choque de preços.

“Pesou mais para as famílias mais pobres. Como é um gasto básico, não há uma queda abrupta do consumo, mas o consumidor procura, na medida do possível, racionalizar as compras.”

Pelo IPCA, itens como frutas (-2,10%) tiveram queda de preços, mas houve altas de produtos, como cebola (30,08%), batata-inglesa (16,39%), feijão carioca (8,66%) e carnes (0,05%).

A alta de 0,24% na categoria de alimentação pode parecer pouco, se a renda tivesse se mantida estável.  

“O problema é quando a renda desaparece, por conta da pandemia, e comer fica mais caro.”, registra André Braz, do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) da FGV.

Ele avalia que os preços dos alimentos devem ter uma nova alta em junho, por conta de um aumento da demanda por carnes por parte da China, que já começou o processo de reabertura após a quarentena.

“Essa nova alta dos alimentos, porém, ainda não deve ser suficiente para que a inflação como um todo suba, devemos ter mais um mês de deflação em junho.”

*Blog Estadão Conteúdo e 6Minutos


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