PAIXÃO E DISCIPLINA

  • Fofocas Musicais
  • Publicado em 27 de abril de 2018 às 09:06
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:23
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Já que nas assessorias a professores tem aparecido casos parecidos de comportamentos familiares que ajudam ou atrapalham o estudo de uma criança ( no nosso caso estudo de piano), vamos comentar um caso hoje sem detalhar nomes.

“ Tenho uma aluninha de 6 anos de idade super ativa, não consegue parar quieta e a mãe reclama que não consegue mantê-la ocupada, sendo assim resolveu colocar nas aulas de piano para ver se ela se acalma e obedece mais. A garotinha muito curiosa adorou as aulas, viu o piano e já foi perguntando tudo sobre ele, queria explorar os sons graves e agudos, já ensinei alguns divertimentos para tocar nas primeiras aulas e ela dominou de primeira. Muito bem! Esta menininha foi só progredindo, até que a mãe dela começou a COMPETIR com ela. Começou a choramingar quando chegava e dizia que ela (mãe) não teve oportunidade de estudar piano e que a filha teria a vida toda pela frente. Isso me chocou, achei que a mãe queria tomar o lugar da menina nas aulas. Vizinha à casa dela tem uma escola de música. Indiquei que se matriculasse lá, porque vi que juntas ali não daria certo, pela competição que já existia. Pois bem, elas não tinham piano. Ajudei-as a encontrar um piano usado mais barato para que pudessem aproveitar. Conseguiram comprar o piano mas assim que a compra foi feita, a mãe tirou a filha das aulas porque disse que ela teria muito tempo pra estudar piano, era nova e que a mãe iria ser autodidata e estudar em casa, portanto saiu da escola de música que frequentava. Com outros detalhes, levei o caso para um psicólogo meu amigo que faz as análises de alguns casos. A conclusão foi a seguinte : a mãe teve infância pobre, foi privada de muitas coisas, inclusive oportunidades de estudo, é intelectual , gosta de cultura, colocou a filha no piano só pra acalmá-la já que ela era hiperativa.Esta mãe não iria apoiar os estudos da filha, primeiro porque o objetivo era que a criança ficasse mais calma e obediente. Segundo porque a mãe queria preencher a lacuna de infância- não ter um piano, não ter estudado. Conseguiu comprar, conseguiu se alfabetizar , fechou o piano e ficou olhando para o móvel conquistado.”

Depois deste depoimento fomos acalmar a professora que alfabetizou a criança e se sentia muito triste porque a criança adorava as aulas e a mãe a castigou tirando-a porque ela não estava mais tão obediente em casa. A vida de um professor de piano é lidar com estes conflitos, por isso, precisamos sempre nos atualizar na PSICOLOGIA, na forma de entender o ser humano, porque os pais muitas vezes tem objetivos ocultos que não são de ensinar um instrumento à criança, mas satisfazer às suas próprias frustrações e quando percebem a criança feliz, se vingam. É algo doentio, mas acontece.

A frase: -“é para o seu bem que estou fazendo isso” tem nos assustado, porque a quantidade de casos de punição e ‘ tortura emocional’ através dos estudos, mostram o quanto os adultos não estão preparados para serem pais.

Algumas frases de outros professores que fazem parte do Grupo de apoio à Didática do Piano:

– Filha, não precisa estudar em casa, é só ir às aulas de piano que está bom assim. Você não queria estudar piano como suas amigas ? Então, já coloquei numa escola, agora não precisa ficar estudando todos os dias. Tem as matérias da escola …

– Já falei pra ela que 15 minutos por dia está ótimo, porque o barulho do piano cansa minha cabeça, fica tocando este piano por quase uma hora na minha cabeça, me atordoa…(heim?)

– eu quero matricular meu filho pra acrescentar ao Kumon, então ele terá somente aulas teóricas de piano, para aprender a raciocinar! (o que? A mãe decide o que o professor de piano vai ensinar? E como ensinar?)

– estou pagando as aulas pra você meu filho,mas quero resultado toda semana, sem erros, pra tocar no culto (como se o adulto fizesse isso… e ainda estipula que a criança está fazendo o curso para tocar no culto)

– não quero saber se você gosta ou não gosta do piano, é obrigado a fazer, porque quem sabe o que é melhor pra você sou eu. (criança de 4 anos ouvindo isso).

Excluindo os mi mi mis de alguns que acham que aprender a tocar um instrumento é só deleite e alegria , e não querem colocar ritmo de estudo ou rotina para o filho estudar porque tem que ser bem leve, pontuamos os extremos.Gente que não está se importando com o estudo, achando que acontece por osmose e gente torturando crianças por causa de suas próprias frustrações.

Dou razão a todas as angústias apresentadas por professores. Acredito que o ideal seria uma escola que tivesse psicólogo disponível para pais e alunos, mas um psicólogo que tivesse conhecimento de causa, desde criança, que tenha estudado um instrumento, como no CONGRESSO DE MEDICINA DO MÚSICO que assisti , onde todos os médicos e profissionais da saúde eram também músicos e palestravam para músicos. CONHECIMENTO DE CAUSA, EXPERIÊNCIA própria . É disso que estamos falando. E que tenham tido sucesso em seus estudos, porque profissionais frustrados carregam a ideia de que ‘ sofreram ‘ pra estudar música e passam isso para uma porção de pessoas!

Quando vejo estas coisas, me lembro dos grandes mestres e suas biografias…

Villa-Lobos queria estudar piano a o pai não permitia. A tia Zizinha que o ajudou a conquistar este sonho.

Brahms teve que mostrar ao pai que tinha talento para que ele pudesse ajuda-lo a encontrar um professor.

Bach ficou órfão de pai e mãe com 9 anos de idade e o irmão o impedia de tocar porque ele tinha as mãos sujas.

Este e outros grandes expoentes tiveram que superar vários obstáculos para o estudo da música. E é assim na vida … Quando quisermos algo, a única solução é arregaçar as mangas e ir atrás, porque hoje em dia a Educação está em último lugar nas prioridades de muitas pessoas.

Interessante a pergunta que ela faz neste vídeo :

– “me contratam para criar alguma coisa para eles e chegando lá eles me dão regras,ou seja : querem que eu faça algo de acordo com o que já fazem !”

“Ressentido porque suas músicas eram pouco executadas no Brasil, Villa-Lobos costumava desabafar: “Não tive o justo reconhecimento em meu próprio país”. Depois da II Guerra, o maestro iniciou uma turnê pelos Estados Unidos e pela Europa, onde suas peças eram executadas no circuito dos mais prestigiados teatros.” Biografia de Villa-Lobos- por Dilva Frazão.

(GOSTAR DE MÚSICA E TER A DISCIPLINA NECESSÁRIA)

O estudo da música é FONTE INESGOTÁVEL DE ENERGIA E DE PRAZER ! Prof Luiz Senise

É preciso ser apaixonado por música e ter disciplina! Prof Senise RJ. 

*Esta coluna é semanal e atualizada aos domingos.


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