Afastamento em empresas por depressão atinge 50% dos trabalhadores no Brasil

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  • Publicado em 1 de fevereiro de 2018 às 13:13
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:33
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Sobrecarga e a forma como as atividades são impostas no ambiente de trabalho são fatores da doença

Situações frequentes de angústia, inquietação, tensão, assédio moral e competitividade estão hoje entre os principais fatores para o desenvolvimento da depressão no ambiente de trabalho. De acordo com dados divulgados pela OMS – Organização Mundial da Saúde, até 2020, a depressão será a maior causa de afastamento do emprego no mundo.

No Brasil, uma pesquisa realizada pela UnB – Universidade de Brasília — em parceria com o INSS – Instituto Nacional de Seguro Social mostrou que quase 50% dos trabalhadores que se afastam por mais de 15 dias do trabalho enfrentam algum transtorno mental, tendo a depressão como a principal causa.

Segundo a especialista em psicologia organizacional Marina Brito Coelho, o excesso de sobrecarga e a forma como as atividades são impostas no ambiente de trabalho estão entre as principais causas para o adoecimento dos trabalhadores. “A depressão pode ser considerada o mal do século em todos os sentidos. A forma como a cobrança é imposta, muitas vezes, acaba desmotivando o trabalhador. Com isso, a pessoa se mostra cada vez mais fisicamente cansada e sente dificuldades para se concentrar. São com estes sintomas que a depressão começa a se manifestar”, destaca a profissional.

Foi exatamente isso que aconteceu com Ana Vitória Camargo, 62 anos. Após 10 anos à frente do departamento de logística de uma grande empresa, ela disse ter chegado ao seu limite. “Havia períodos em que trabalhava até 15, 16 horas direto. Não tinha tempo para minha família e para minhas questões pessoais. Sem contar que os níveis de exigência só aumentavam com o passar dos anos. Chegou uma hora, que nem minha saúde aguentou. Daí foi a gota d’água”, conta.

A situação nua e crua

A gota d’água que Ana Vitória se refere foi uma estafa que a levou para o hospital, seguida de um quadro depressivo. “Precisei ficar afastada por duas semanas do trabalho e quando foi a hora de voltar, paralisei. Aí percebi que precisava fazer algo e mudar minha vida”, diz ela, que conversou com seus superiores e após um acordo, optou por deixar o trabalho. Desde então, após se recuperar do quadro depressivo, Ana Vitória começou a trabalhar com o marido, o que inclusive melhorou o casamento. Mas existem inúmeras histórias de diferentes vertentes que, se não explicam, pelo menos colocam em evidências as variadas causas para a depressão, seja no trabalho ou na vida pessoal.

Dados da Associação Brasileira de Transtornos Afetivos – Abrata mostram que 72% dos deprimidos desconhecem os sintomas e 44% mostram redução significativa de capacidade no ambiente de trabalho. Para piorar, boa parte das empresas ainda não reconhece a depressão como doença, deixando de oferecer o suporte necessário ao trabalhador. “Geralmente, a empresa nega e não reconhece esse distúrbio, por isso, em boa parte dos casos, o trabalhador acaba procurando por tratamento por conta própria, voltando para o trabalho antes de estar totalmente recuperado para não correr o risco de perder o emprego”, analisa Marina, com o conhecimento que tem do problema.

De acordo com o Artigo 20 da Lei nº 8.213/91, se comprovada, a depressão pode ser incluída como doença profissional.