Confusão mental pode persistir por meses em pacientes de Covid não hospitalizados

  • Nene Sanches
  • Publicado em 24 de outubro de 2021 às 18:30
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Pesquisa aponta déficit de 18% na velocidade de processamento do cérebro e de 24% na codificação da memória, entre outras deficiências

O comprometimento cognitivo – descrito como névoa cerebral ou névoa mental – pode persistir por meses em pacientes com Covid-19, mesmo para alguns que não foram hospitalizados, de acordo com um novo estudo.

A pesquisa, publicada na revista científica JAMA Network Open, descobriu que, quase um quarto dos pacientes da Covid-19 do Sistema de Saúde do Monte Sinai, rede de saúde da cidade de Nova York, experimentou alguns problemas de memória.

Embora os pacientes hospitalizados tenham maior probabilidade de ter essa névoa cerebral depois da infecção por coronavírus, alguns pacientes que não ficam internados, receberam apenas atendimento ambulatorial, também apresentavam comprometimento cognitivo.

“Neste estudo, encontramos uma frequência relativamente alta de comprometimento cognitivo vários meses depois que os pacientes contraíram Covid-19″, disse Jacqueline Becker e outros pesquisadores da Icahn Escola de Medicina do Monte Sinai, em Nova York.

Memória

Segundo ela, também foram registrados “prejuízos no funcionamento executivo, na velocidade e fluência de processamento e na codificação de memória foram predominantes entre os pacientes hospitalizados”.

Esse padrão é consistente com os primeiros relatórios que descrevem uma síndrome disexecutiva (que altera comportamentos relacionado à concentração e comportamento) após Covid-19 e tem implicações consideráveis ​​para os resultados ocupacionais, psicológicos e funcionais”.

Uma pesquisa separada, publicada em abril na revista Lancet Psychiatry , descobriu que até 1 em cada 3 pessoas com Covid-19 tinha problemas de saúde mental ou sintomas neurológicos de longo prazo.

Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) incluem dificuldade para pensar ou se concentrar, às vezes chamada de “névoa cerebral”, em sua lista de condições pós-Covid.

Condições pós-Covid

“Embora a maioria das pessoas com Covid-19 melhore semanas após a doença, algumas pessoas experimentam condições pós-Covid”, observa o CDC em seu site.

As condições pós-Covid são uma ampla gama de problemas de saúde novos, recorrentes ou contínuos, que as pessoas podem apresentar quatro semanas após serem infectadas com o vírus que causa o Covid-19 ou além disso.

O novo estudo incluiu dados, de abril de 2020 a maio de 2021, em 740 pacientes de Covid-19 sem histórico de demência.

A idade média dos pacientes era de 49 anos. O funcionamento cognitivo foi avaliado para cada paciente e os pesquisadores analisaram a frequência de comprometimento cognitivo entre os pacientes.

Os pesquisadores descobriram que:

15% do total de pacientes apresentaram déficits na fluência fonêmica na fala;

16%, em um conjunto de habilidades mentais denominado funcionamento executivo;

18% apresentaram déficits na velocidade de processamento cognitivo;

20%, em sua capacidade de processar categorias ou listas;

23%, na recuperação da memória;

24%, na codificação da memória, entre outras deficiências.

Prejuízo na atenção

Os pesquisadores notaram que os pacientes hospitalizados eram mais propensos a ter prejuízos na atenção, funcionamento executivo, fluência de categoria e memória.

Por exemplo, quando se tratava de recuperação da memória, os pesquisadores descobriram que 39% dos pacientes hospitalizados tinham deficiência nessa área, em comparação com 12% dos pacientes ambulatoriais.

Quando se trata de codificação de memória, os dados mostram que 37% dos pacientes hospitalizados apresentam comprometimento, em comparação com 16% dos pacientes ambulatoriais.

Questões-chave

Os autores observaram a possibilidade de viés na amostra porque os pacientes procuraram o sistema de saúde porque estavam apresentando sintomas.

“A associação do Covid-19 com o funcionamento executivo levanta questões-chave em relação ao tratamento de longo prazo dos pacientes”, escreveram os pesquisadores.

“Estudos futuros são necessários para identificar os fatores de risco e mecanismos subjacentes à disfunção cognitiva, bem como opções de reabilitação.”

(Reportagem da CNN. Texto traduzido. Leia o original aqui.)


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