Alexandre completa 100 dias de governo. O que melhorou e o que piorou nesse período

  • Caio Mignone
  • Publicado em 4 de abril de 2021 às 10:00
  • Modificado em 4 de abril de 2021 às 11:07
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Prefeito de Franca começa administração municipal do período 2021 a 2024 melhor do que a de Gilson, mas pior do que a sua primeira

Empossado como prefeito de Franca no dia 1º de janeiro, Alexandre Augusto Ferreira está completando 100 dias de gestão, o que acontecerá neste próximo sábado, dia 10 de abril.

O que a maior parcela da população indaga é: o que mudou no governo, na prefeitura e na cidade nesses 100 dias.

Como não é possível analisar todos os setores do governo municipal num único texto, a matéria se desdobrará em textos durante a semana.

Antes de qualquer afirmação é preciso fazer duas considerações:

1 – Alexandre Ferreira tomou posse sob um orçamento municipal elaborado pela equipe de Gilson de Souza, que, certamente, não considerou uma série de necessidades diante do novo normal.

2 – Alexandre Ferreira tomou posse quando a segunda onda de Covid 19 estava dando as caras, exigindo a concentração de esforços na contenção da propagação do vírus e no fortalecimento do sistema de saúde pública.

As duas considerações são atenuantes de problemas que podem ser verificados na condução da administração municipal, uma vez que desvia esforços para uma ação médica/sanitária de emergência que, diante da realidade mundial, não dá sinais de quando vai ser controlada.

Colocada a situação, é preciso considerar que, sem acordos políticos pré-eleitorais, Alexandre teve liberdade total para montar sua equipe de governo.

Foi feliz na composição do Secretariado, priorizando a capacidade técnica e o conhecimento da máquina administrativa.

Onde foi possível, Alexandre aproveitou nomes que se destacaram no seu primeiro governo e não teve dúvidas em reconduzir essas pessoas para alguns cargos do novo governo.

Aproveitou em algumas áreas do governo nomes pelo quais ele tinha admiração, certo de que a adaptação ao novo cargo sempre pode rápida e o trabalho pode ser eficiente.

Funcionário de carreira da Prefeitura na área de saúde e conhecedor do funcionalismo, garimpou diamantes na estrutura administrativa já existente.

Buscou gente com conhecimento e especialidade. O governo sofreu pouco para se adaptar e colocar o trem sobre os trilhos.

Ao longo de seu trabalho no comando da Prefeitura, tanto da outra vez como agora, Alexandre foi e está sendo um especialista em revelar talentos, que se transformam em bons gestores de suas áreas.

Mas o próprio Alexandre sabe que a locomotiva está andando a passos de tartaruga. Tanto é que já cobrou de sua equipe o que ele chama de tempo de resposta.

Ou seja, na sua visão, tudo precisa ser para ontem.

Considerado um excelente gestor administrativo, com comprovada capacidade gerencial, Alexandre tem percalços numa área sensível, porque ainda se depara com um bloqueio de antevisão política.

Ele gostaria de ver mais claro, com mais rapidez, e ter maior intuição das nuances políticas, o que nem sempre consegue ou nem sempre é possível.

Talvez, reconhecendo esse detalhe, na última semana antes da posse e, portanto, de organização do governo, foi buscar alguns companheiros nos quais tem a máxima confiança e os colocou na sua assessoria imediata.

São pessoas que fazem parte do seu entorno e do seu dia a dia, com a missão de ajudar a máquina andar, de tirar os obstáculos do caminho, e de participar com ideias para fazer o governo ser diferente e produtivo.

Porém, esse desejo pode não estar sendo acompanhado da prática. O que parece é que as ideias de seus assessores envelheceram, a clareza está anuviada. Nesse campo, a máquina pouco andou.

O mundo muda todos os dias, a tecnologia muda, a sociedade muda, a comunicação muda, as necessidades mudam, as pessoas envelhecem e algumas ideias também.

Não necessariamente na mesma velocidade ou juntas. Tem ideias que envelhecem mais rapidamente do que as pessoas e nesse caso a contribuição pode não ser a ideal.

Aplicar um conceito antigo ou uma ideia anacrônica num cenário novo pode se transformar na primeira brecha para o insucesso.

Diante de inúmeros obstáculos como os que estão sendo enfrentados atualmente, a vontade de fazer precisa ser maior do que a necessidade de fazer. E nem todo mundo está disposto a despender esse sacrifício.

Esse desentrosamento pode ser falta de olhares inspiradores para administrar o novo normal (que pode durar sabe-se lá quanto tempo), pode ser excesso de confiança de que as coisas vão se resolver, pode ser confiança demais no chefe, que sempre resolve quando entra em cena.

Mas pode também ser imaturidade e falta de sintonia com as reais necessidades da população que, se já era carente do poder público, agora está intrinsecamente dependente das iniciativas do governo municipal.

É preciso ter em mente que as coisas não vão se resolver sozinhas; será preciso muita criatividade, vontade, recursos e determinação para mudar o patamar e colocar Franca em outro nível de coletividade.

Franca não evoluiu nos últimos quatro anos e, em muitos indicadores, até regrediu. O governo passado cumpriu, de mal a pior, as obrigações constitucionais e quase nada investiu em melhorias.

Por isso mesmo, há uma grande expectativa de que a cidade precisa se modernizar e recuperar o tempo perdido. E esse passa a ser o desafio: pensar o futuro de forma prática e responsável.

Muitos esperam alternativas para a criação de empregos, infraestrutura para melhorar a qualidade de vida, eixos viários rápidos para desafogar o trânsito no centro da cidade e nos pontos de gargalo na hora do rush.

A juventude precisa ter oportunidade de estudo e de trabalho, de esportes, cultura e recreação.

A comunidade precisa ter moradias populares e baratas, transporte de qualidade, saúde que atenda com eficiência e rapidez, benfeitorias e melhorias por toda a área urbana.

Alguns elefantes brancos podem ter soluções criativas e produtivas para a população. Mas isso depende de ideia, de vontade e de execução.

Alexandre Ferreira talvez tenha dificuldade no relacionamento político com algumas autoridades, por causa da sua visão prática e suas necessidades “para ontem”.

Já foi assim nos quatro anos em que administrou Franca quando era governador Geraldo Alckmin, do PSDB, partido do qual fazia parte.

O ímpeto de se mostrar competitivo na defesa da comunidade, como entrar na Justiça para reclamar posicionamento da cidade no plano de contingenciamento, pode criar uma imagem de ação, mas também pode resultar em um relacionamento frio e distante com o governo.

É muito diferente de Hélio Palermo, prefeito de Franca duas vezes, a última dela entre 1973 e 1976.

Hélio Palermo conseguiu vários viadutos/pontilhões praticamente sem colocar dinheiro de Franca: conseguia obras junto ao Departamento de Obras Públicas do Estado, graças ao excelente relacionamento que tinha com as autoridades.

Hélio Palermo conseguiu o conjunto Poliesportivo sem colocar nele dinheiro de Franca. E foi assim dos anos seguintes e com os prefeitos subsequentes (isso pode ser tema de outras matérias, pois são inúmeras conquistas).

Tudo isso mostra que saber se relacionar com o governo, em todas as esferas, pode trazer resultados em mais longo prazo. Mesmo porque o governo de Alexandre vai durar quatro anos e, dependendo do seu sucesso administrativo e político, pode durar oito.

Essa matéria será seguida nos próximos dias de análises setoriais, mostrando o que se esperava e o que foi feito, o que se espera e o que pode ser feito.

Para começar, a primeira constatação é a de que Alexandre Ferreira é um bom gestor. Se souber aliar a isso o talento, a visão ou uma boa orientação política, os horizontes se abrirão para outros níveis bem mais altos.


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