USP de Ribeirão testa canabidiol de laboratório em crianças com epilepsia

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 11 de fevereiro de 2018 às 14:46
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:34
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Tratamento sintético promete ser mais puro e barato que o importado aprovado pela Anvisa

Pesquisadores
da USP de Ribeirão Preto estão na fase final do desenvolvimento de uma versão
sintética do canabidiol, substância derivada da maconha, que promete ser mais
eficaz contra doenças como epilepsia, além de mais barata do que a versão
atualmente aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Desde janeiro de 2015, o órgão
reconhece e controla o uso do tratamento fitoterápico, ou seja, da substância
extraída a partir da planta, para crianças e adolescentes com epilepsias
refratárias, que não respondem aos tratamentos convencionais.

De
acordo com o professor Jaime Hallak, da Faculdade de Medicina da USP, além de
reduzir os custos com importação, a produção em laboratório promete garantir
uma substância mais pura e completamente livre do THC, princípio que causa o
efeito psicoativo da maconha.

A expectativa do grupo é de
que, depois de aprovado como medicamento, o CBD sintético chegue ao mercado em
dois anos. “A grande diferença que
nós temos é que pra formulação sintética nós não precisamos ter a plantação de cannabis sativa. Então, de uma maneira diretamente
produzida no laboratório, você consegue a partir da estrutura molecular, com
técnicas de bioquímicas e farmacêuticas, criar molécula com a mesma eficácia,
de uma maneira muito mais barata e com uma quantidade muito maior e mais rápida
do que você faz na produção a partir dos fitoterápicos”, afirma o
pesquisador.

Em Ribeirão Preto, onde está
em construção o primeiro centro de pesquisas em canabinoides do Brasil, também
há pesquisas sobre o uso do canabidiol em patologias como mal de Parkinson.

Redução de custos

Além da redução de custos, o canabidiol sintético
desenvolvido pela USP promete ser livre do THC. Substância que, segundo
professor titular de psiquiatria do departamento de neurociências e ciências do
comportamento da USP, Antônio Waldo Zuardi, pode estar presente no produto hoje
importado pelas famílias. “As pessoas estão usando atualmente extratos de
maconha rico em canabidiol que são importados e isso tem um problema
relativamente grave, porque o canabidiol não é registrado como medicamento em
nenhum país nesse momento. Esses extratos que são importados são liberados dos
seus países de origem como suplemento alimentar, ou seja, não passam pelos
controles todos que são exigidos para um medicamento”, diz.

Segundo Zuardi, os estudos do
canabidiol na epilepsia começaram há mais de 30 anos, mas somente foram
retomados nos últimos anos, depois que pais começaram a procurar alternativas
para curar seus filhos.

O novo produto desenvolvido na USP ainda precisa
ser submetido a testes clínicos e ser aprovado pela Anvisa antes de ser
classificado como um medicamento. Ao todo, 180 crianças e adolescentes
participarão da pesquisa. “O que a gente espera é comprovar o efeito
protetor do canabidiol nas crises epilépticas e com isso preencher os
requisitos necessários para o registro do canabidiol como medicamento.”

Além da epilepsia, a
esquizofrenia e o mal de Parkinson são as patologias com estudos mais avançados
em relação ao uso do canabidiol, de acordo com os pesquisadores.

Segundo Hallak, a versão sintética do derivado da
maconha promete agir como um protetor dos neurônios e das funções transmissoras
do cérebro. “Vai fazer com que os neurotransmissores que estejam faltando
possam ser aumentados e aqueles que estejam aumentados sejam diminuídos. Ou
seja, tem uma ação, uma função de controlar ou de regular os sistemas
neurotransmissores dentro do cérebro.”


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