Usada para dormir, melatonina pode piorar inflamação intestinal, diz estudo

  • Dayse Cruz
  • Publicado em 29 de abril de 2023 às 21:00
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Pesquisa da USP aponta que a substância pode piorar a inflamação intestinal, dependendo do conjunto de bactérias que vivem no corpo humano

melatonina

Uso indiscriminado da melatonina pode piorar inflamação intestinal – foto Arquivo

 

O uso de melatonina, conhecida popularmente como hormônio do sono, para dormir melhor tem aumentado entre adultos.

Um novo estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) aponta que a substância pode piorar a inflamação intestinal, dependendo do conjunto de bactérias que vivem no corpo humano, especialmente no intestino do hospedeiro – ou seja, da microbiota, antigamente chamada “flora intestinal”.

Os resultados foram publicados na revista Microorganisms.

A melatonina é conhecida popularmente como “hormônio do sono”. Tem sido bastante corriqueiro as pessoas, sem prescrição médica e de forma não diretamente acompanhada, fazerem uso de melatonina para dormir melhor.

“O ‘x’ da questão é que todo mundo acha que é inócuo, que um hormônio como a melatonina não faz nada de mau, só melhora o sono, e o que estamos mostrando é que as pessoas têm de ficar atentas e alertas, porque uma suplementação hormonal pode melhorar o sono, mas pode piorar outra coisa”, diz Cristina Ribeiro de Barros Cardoso, professora de imunologia e neuroimunoendocrinologia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da USP.

O laboratório de Cristina trabalha com enfermidades inflamatórias intestinais, entre elas doença de Crohn e retocolite ulcerativa.

São condições imunomediadas, ou seja, dependentes de uma resposta imunológica descontrolada que acaba causando destruição no trato gastrointestinal e efeitos clínicos muito fortes, como dores abdominais, diarreias constantes, sangramentos e muita fadiga.

O tratamento depende da supressão ou inibição da imunidade. É preciso diminui-la para reduzir a inflamação excessiva que causa danos ao intestino.

Além de corticoides e imunossupressores, há tratamentos com medicamentos imunobiológicos mais efetivos para casos moderados e graves, porém, de altíssimo custo e, por isso mesmo, de acesso mais difícil para a população, sendo fornecidos apenas em condições específicas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ou por convênios particulares via ações judiciais.

Com anos de experiência no estudo de hormônios, a melatonina entrou no foco de investigação do grupo de pesquisa.

Após induzida a doença intestinal de forma experimental em camundongos, quando eles eram tratados com melatonina, ao invés de melhorar, pioravam.

“Por esse trabalho com animais de laboratório – é importante ressaltar que não foi com pacientes humanos, foi com camundongos – a inflamação intestinal piora, e piora muito.”

Ou seja, o efeito negativo da melatonina depende das bactérias que vivem no intestino e que também estão relacionadas às doenças inflamatórias intestinais.

Certas configurações da microbiota fazem com que o tratamento com melatonina aumente os parâmetros inflamatórios e leve o sistema imunológico por um caminho ainda mais desregulado, que intensifica os danos ao trato gastrointestinal.

Regulamentação

Há pouco tempo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) atualizou as informações e regras sobre o uso de melatonina como suplemento alimentar, mas, ainda assim, o controle não é o mesmo daquele realizado para medicamentos, mais rígido.

“É importante pontuar isso, porque a gente fala que tem que ficar atento, mas aí as pessoas talvez pensem ‘ah, mas eu vou ali na farmácia e compro livremente, a Anvisa autorizou’. Sim, mas autorizou sob o nome de suplemento alimentar e aí o questionamento que nós estamos levantando com esse trabalho agora é: será que é mesmo só um suplemento alimentar? Será que realmente não tem riscos?”

O estudo é um dos resultados de projeto coordenado por Cardoso e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Também é assinado por Jefferson Luiz da Silva, Lia Vezenfard Barbosa, Camila Figueiredo Pinzan, Viviani Nardini, Irislene Simões Brigo, Cássia Aparecida Sebastião, Jefferson Elias-Oliveira, Vânia Brazão, José Clóvis do Prado Júnior e Daniela Carlos, cientistas atuantes no Departamento de Análises Clínicas, Toxicologia e Ciências de Alimentos da FCFRP e do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto.

*Informações CNN


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